Brasil decepciona com avanço lento do ensino
O Globo
Dados frustrantes do IBGE traduzem
incapacidade crônica de o país alcançar educação de qualidade
São frustrantes os dados revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Educação de 2024, divulgada pelo IBGE. Mais uma vez, o Brasil se mostra incapaz de elevar a escolaridade da população até as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE) em 2014. Embora tenha havido progresso nas taxas de analfabetismo e no total de anos de estudo, o país continua distante de onde deveria estar. É certo que a pandemia provocou um choque com impacto nefasto. Mesmo assim, houve tempo suficiente para ajustar políticas e criar programas mais eficazes. Prova de que faltou determinação foi o atraso na reforma do ensino médio, que só agora entrou em vigor.
Em 2024, a proporção de jovens no ensino
médio na série correta foi 76,7%, ante 68,2% em 2016. É o maior nível da série
histórica, iniciada em 2016, mesmo assim muito aquém dos 85% estipulados como
meta. Pior que apenas a quantidade insatisfatória de estudantes no ano certo é
a qualidade sofrível da formação, medida pelos maus resultados crônicos dos
alunos brasileiros nos testes internacionais.
O atraso numa determinada faixa etária
resulta em efeito cascata para as demais. Por isso é uma lástima que, entre as
crianças de 6 a 14 anos, para as quais o ensino já estava praticamente
universalizado, a situação tenha piorado. Em 2016, 96,7% estavam na série
correta na escola. Em 2024, como resultado da pandemia, o nível caiu para 94,5%
— abaixo da meta de 95%, que já havia sido cumprida.
A frustração se estende também aos adultos. É
positivo que, desde 2016, a proporção de brasileiros com mais de 25 anos que
concluíram a educação básica tenha subido de 46% para 56%. Só que, nesse ritmo,
o Brasil levará 20 anos para chegar ao atual patamar da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De 2016 a 2024, a escolaridade
dessa parcela da população cresceu de 9,1 para 10,1 anos. A meta eram 12 anos.
Tudo isso significa retardar ainda mais o desenvolvimento. O Brasil ainda conta
com 44% da população sem educação básica, ante 20% nos países da OCDE. Fica
atrás de Colômbia (37,9%), Argentina (33,5%) e Chile (28%).
Os resultados alcançados são insuficientes
para dar à população condições de entrar num mercado de trabalho cada vez mais
exigente à medida que avança a revolução tecnológica, agora pautada pela
inteligência artificial. Quando é crucial avançar no letramento digital, o país
nem sequer conseguiu erradicar o analfabetismo — embora a taxa tenha caído de
6,7% para 5,3% entre 2016 e 2024.
É preocupante também que os desníveis
regionais se reproduzam na qualificação educacional. O Nordeste é a única
região em que menos da metade da população com mais de 25 anos concluiu o
ensino médio (47%). A média nacional superou esse patamar em 2017. Não se pode
responsabilizar apenas o estágio de desenvolvimento mais baixo pela
disparidade. Se fosse assim, o Ceará não seria um dos melhores exemplos em
política educacional.
É preciso reconhecer que o Brasil tem
evoluído desde os anos 1990. Há sistemas de acompanhamento do ensino com metas,
um novo currículo para o ensino básico e está em curso a reforma do ensino
médio. Tudo isso é bem-vindo, mas faltam eficiência e gestão para implementar
com agilidade as melhorias necessárias para o país alcançar um nível
educacional decente.
Acidentes com balões mostram que é necessária
regulação mais rígida
O Globo
Pelo menos 9 pessoas morreram em duas quedas
nos últimos dias. Norma em vigor se mostra insatisfatória
Num intervalo de apenas seis dias, o país
assistiu a dois acidentes trágicos envolvendo balões. O mais grave aconteceu no
sábado, no município de Praia Grande, em Santa Catarina.
O balão pegou fogo pouco depois de subir, deixando oito mortos e 13 feridos. No
dia 15, outro episódio já havia causado a morte de uma mulher e ferimentos em
11 passageiros durante voo em Boituva, interior de São Paulo. Os dois
casos puseram em xeque a regulamentação e a segurança dessas atividades.
No acidente em Praia Grande, suspeita-se que
o fogo tenha sido provocado pelo maçarico reserva minutos depois da subida.
Segundo reportagem do Fantástico, o piloto contou à polícia que tentou apagá-lo
com os pés, depois com um extintor de incêndio que não funcionou. O balão
desceu, e os passageiros foram orientados a pular quando estivesse próximo ao
chão. Mas nem todos conseguiram sair, e ele voltou a subir, já em chamas. O
caso está sob investigação.
Em Boituva, o balão com 33 turistas caiu
durante o voo. Passageiros disseram que, já na partida, o tempo não apresentava
condições favoráveis, mas o evento não foi cancelado. No pouso de emergência, o
balão bateu violentamente no solo em meio a um laranjal. O piloto alegou ter
sido surpreendido por ventos fortes. Ele foi preso em flagrante. Segundo a
polícia, a empresa responsável pelo programa não tinha autorização para voos
comerciais.
Voos de balões precisam respeitar protocolos
rígidos. Nos dois acidentes houve falhas. Há um vácuo na legislação para o
setor. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) considera o balonismo uma
atividade desportiva de alto risco, mas atribui a responsabilidade aos
envolvidos. Os próprios representantes de empresas de turismo reconhecem que os
balões não são certificados e não têm garantia de aeronavegabilidade.
Somente depois das tragédias, o governo
federal se moveu para tratar do assunto. O Ministério do Turismo informou que
ouvirá entidades do setor a fim de formular uma regulamentação “específica e
clara” para garantir a segurança dos passageiros. Deveria ter feito isso há
muito tempo, antes que nove brasileiros perdessem a vida num momento de lazer.
Não apenas balões voltados ao turismo
preocupam. Neste mês, aumenta o risco de incêndios por toda parte devido aos
balões juninos, prática que já deveria ter sido banida faz tempo. Soltá-los
constitui crime ambiental, mas é raro alguém ser punido. Não surpreende que o
hábito se perpetue.
O balonismo é praticado também em outros países, e o problema não está na atividade em si, que atrai turistas e gera renda, mas no risco trazido pela falta de regras. O turista não tem obrigação de saber se as empresas que oferecem o serviço estão habilitadas ou se cumprem os protocolos de segurança. Não se pode jogar esse ônus sobre os ombros dos passageiros. É claro que risco sempre existirá, mas ele deve ser reduzido ao mínimo.
Reavaliação de ativos ajuda país, mas a
questão fiscal preocupa
Valor Econômico
O Brasil poderia tirar melhor proveito do
cenário externo favorável de queda do dólar e do spread entre ativos americanos
e bônus emergentes se tivesse feito um ajuste fiscal eficaz e convincente
A ameaça de uma extensão do conflito entre
Israel, Estados Unidos e Irã por todo o Oriente Médio pode interromper por
algum tempo a reavaliação dos ativos globais em curso, depois que Donald Trump
assumiu a Presidência e declarou guerra tarifária ao mundo. Aos poucos,
esboçaram-se tendências que têm beneficiado o Brasil: por exemplo, a perda de
valor do dólar e o menor diferencial de risco entre ativos americanos e bônus
emergentes, que favorece os papéis brasileiros. Uma interrupção demorada do
fluxo de petróleo no Oriente Médio no Estreito de Ormuz ou confrontos armados
envolvendo mais países da região tendem a mitigar as mudanças, embora possam
também não ser capazes de detê-las em médio e longo prazos.
Não se trata apenas da recomposição dos
fluxos de capital externo em portfólio, observada com mais clareza após o dia 2
de abril, “o dia da libertação” em que Trump impôs suas tarifas “recíprocas”,
depois suspensas até 9 de julho. A megadesvalorização do dólar, auxiliada pela
elevação dos preços dos alimentos, jogou o IPCA para muito longe da meta de 3%
e o índice ainda permanece lá (5,32% nos 12 meses encerrados em maio). A perda
de valor do dólar, depois do festival tarifário perturbador de Trump, prosseguiu
até nos últimos dias, mesmo diante de um acirramento grave do conflito entre
Irã e Israel e o auxílio dos EUA nos bombardeios sobre os centros nucleares
iranianos. O real tem sido a moeda com melhor desempenho nas últimas semanas,
com a desvalorização pouco superior a 10% até sexta-feira. O auxílio para a
queda do IPCA é sensível.
Esse movimento de valorização, segundo
grandes bancos, deve continuar (Valor, ontem). O francês Societé Générale, por
exemplo, estima que o dólar poderá fechar o ano cotado a R$ 5,20, com
possibilidades de recuar até R$ 5. O Bank of America (BofA) chegou há algum
tempo a estimar que o real estava subvalorizado em 20%, a maior diferença em
relação à tendência entre as moedas latino-americanas. A instituição aposta em
posições “vendidas” (queda do dólar) e tem como alvo a cotação de R$ 5. Alguns
dos motivos apontados mostram mudança em relação ao passado, e ela atende pelo
nome de Trump. Suas ameaças, inclusive a de taxar no mercado americano
investidores de países que não “tratem bem” os interesses dos Estados Unidos,
consolidaram entre parte dos especialistas a percepção de que o país está
deixando de ser um refúgio tão seguro para o qual aportavam os investimentos em
caso de crises graves ou turbulências financeiras iminentes.
Um reflexo da guinada foi a desvalorização do
dólar, que, diante de cesta de moedas fortes, declinou 8,95% até sexta-feira. A
instabilidade criada pelo unilateralismo protecionista de Trump provocou outra
clivagem em relação ao passado. Os títulos do Tesouro, papéis dos mais seguros
do mundo, passaram também a perder valor, e seus juros, a subir, quando em
praticamente todas as outras crises eram disputados e seus preços cresciam.
Mesmo o mercado acionário europeu, uma região que flerta com a estagnação, tem
mostrado desempenho mais vigoroso que o dos EUA desde abril.
A firmeza do Banco Central do Brasil em
elevar a taxa de juros para 15% e sua disposição de mantê-la por um período
prolongado reforçaram a permanência do diferencial de juros muito alto em
relação aos EUA e outros países — a taxa é a segunda maior do mundo e a conta
pública de juros em relação ao PIB, a maior —, facilitando as operações de
carry trade. Nelas, investidores captam recursos em mercados onde os juros são
muito baixos e os aplicam naqueles em que estão elevados, caso do Brasil. A
necessidade de diversificar ativos para fora dos papéis americanos melhorou a
posição relativa dos títulos emergentes, como o Brasil, que tem apresentado
risco de calote menor do que antes de Trump assumir.
Um sinal disso é a volta das aplicações em
fundos de bônus emergentes, de onde tinham fugido até pouco depois de 2 de
abril, quando os saques superaram as captações — hoje, assiste-se ao movimento
inverso (Valor, ontem). “O cenário de dólar mais fraco e commodities estáveis é
positivo para emergentes, e o estrangeiro voltou a comprar”, diz Nikolau
Miller, sócio da gestora JGP. Mesmo empresas americanas de bons rendimentos
tiveram o valor de seus títulos reduzido, melhorando o diferencial relativo de
empresas e títulos brasileiros, segundo a gestora Ibiuna.
O ponto vulnerável da atratividade brasileira
nesse cenário é a fragilidade fiscal. Há bancos que apostam na desvalorização
forte do real durante o período eleitoral, se o governo Lula ampliar os gastos
para se reeleger. Em ambiente em que o favorito na corrida eleitoral apontasse
consolidação fiscal, o dólar poderia cair a R$ 4,80, supõe o BTG. Ou pode ir a
R$ 5,90 no caso de farras fiscais eleitorais, estima o Wells Fargo.
Ainda com cenário externo extremamente
instável, há ventos favoráveis ao afluxo de capital externo. As perspectivas
positivas levam em conta que as contas públicas não vão se deteriorar muito
mais. As pessimistas, que sim. Isso dá ideia da importância do equilíbrio
fiscal e de quanto seria mais vantajoso para o país tirar melhor proveito de
momentos oportunos se tivesse feito ajuste eficaz e convincente.
Vigilância por câmeras, inteligência e
transparência
Folha de S. Paulo
Programas como o Smart Sampa reforçam combate
ao crime, mas é preciso corrigir erros e respeitar os dados dos cidadãos
Após seis meses de operação, são positivos os
resultados do Smart Sampa, programa
de vigilância e reconhecimento facial implementado pela Prefeitura
de São
Paulo. De acordo com dados divulgados pela municipalidade, o sistema de
câmeras já levou à prisão de 1.153 foragidos da Justiça.
A esse número se somam outros também
relevantes, como os 275 crimes solucionados pela Polícia Civil
com o auxílio das imagens, os quase 2.500 presos em flagrante e as 68 pessoas
desaparecidas que foram localizadas.
Tudo graças a um conjunto de 31,3 mil câmeras
instaladas na cidade, montante que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) promete elevar
para 100 mil até o fim de seu mandato, em 2028. Seria uma das principais
bandeiras de sua gestão —de resto, caracterizada pela ausência de uma grande
marca.
Adotado por dezenas de municípios brasileiros
em pelo menos 15 estados nos últimos anos, esse modelo de monitoramento é
tendência nas maiores metrópoles do planeta. Em Londres, uma
das pioneiras, a vigilância ostensiva existe há décadas; Xangai, por sua vez,
aproxima-se de 2 milhões de aparelhos nas ruas.
Faz sentido esse caminho. A segurança pública
precisa articular diversos fatores, desde iluminação pública até investigação,
e a inteligência associada às câmeras constitui um reforço expressivo no
combate ao crime.
Em todos os casos, ressalvadas
particularidades técnicas, o mecanismo é o mesmo: capta-se o rosto de alguém e
o compara a uma base de dados especificada pela autoridade pública. Se ocorre
um "match" com uma lista de desaparecidos ou de procurados pela
Justiça, por exemplo, os canais competentes são acionados.
Pouco tempo atrás, programas dessa natureza
talvez soassem como ficção, mas, hoje em dia, com o avanço da tecnologia, quase
ninguém se surpreende com o reconhecimento facial —uma realidade na portaria de
prédios e no desbloqueio de celulares, para citar duas situações cotidianas.
A difusão desse tipo de monitoramento,
contudo, não pode se dar à revelia dos controles sociais. São conhecidas as
distorções a que algoritmos estão sujeitos, com vieses raciais e de gênero nas
identificações, razão pela qual é fundamental acompanhar resultados para
corrigir eventuais erros e evitar que se repitam.
O Smart Sampa não é exceção a essa regra. De
acordo com o balanço recente, 23 pessoas foram levadas à delegacia e liberadas
por algum tipo de problema com a identidade ou a documentação. O
índice dessas chamadas inconsistências de reconhecimento é de 1,86% no
período e, felizmente, ninguém foi preso por engano.
Se a meta do prefeito é multiplicar por três
o número de câmeras em São Paulo, esse percentual de inconsistências precisa
diminuir. E, para isso, é crucial garantir o sigilo dos dados e dar
transparência ao sistema, permitindo a divulgação das informações não só quando
forem convenientes à administração municipal.
Omissão política viabiliza supersalários no
setor público
Folha de S. Paulo
A despeito de gastos exorbitantes da Justiça
brasileira, não avançam propostas para fazer cumprir o teto constitucional
No mérito, acabar com salários exorbitantes
no serviço público deveria ser a providência mais simples de uma reforma
administrativa.
Afinal, o teto para as remunerações dos
funcionários do Estado brasileiro está fixado com clareza no inciso XI do
artigo 37 da Constituição,
já modificado e ampliado duas vezes desde a versão original de 1988. Ali se
estabelece como limite máximo o subsídio mensal dos ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF).
Esse valor é hoje de R$ 46.366,19, também
pago a deputados federais, senadores, procurador-geral, presidente e
vice-presidente da República. O tema poderia estar resolvido aí, não fossem
interpretações criativas do texto legal.
Sabe-se com precisão onde a regra é burlada
—basicamente no Judiciário e no Ministério
Público, cujos membros se autoconcedem benefícios extrassalariais de todo
tipo, como abonos e auxílios. A proliferação de tais manobras, umas mais
descaradas que outras, forjou a necessidade de explicitar em lei o que se pode
ou não excluir do teto.
Mesmo isso não deveria ser tarefa
controversa. Fora os próprios beneficiários diretos da farra, inexiste setor
relevante da sociedade que defenda esses supersalários —que elevaram o custo
médio por magistrado a R$ 68,1 mil mensais no ano retrasado.
Tampouco é difícil constatar que os valores
envolvidos constituem aberração na realidade nacional, mesmo considerando que
profissionais qualificados como os juízes devem ser bem remunerados.
Comparações internacionais mostram que o
gasto do sistema de Justiça brasileiro, de 1,33% do PIB, não tem paralelo
nas principais economias.
Por fim, casos escandalosos surgem a todo
momento. A Folha acaba de noticiar, por exemplo, que o
Ministério Público paulista estima um passivo de R$ 6 bilhões —uma vez e
meia seu orçamento anual— em pagamentos retroativos devidos a procuradores e
promotores. Segundo a instituição, não há horizonte visível para a quitação da
conta.
A despeito de tudo isso, o mundo político
teme enfrentar interesses de corporações poderosas, e o tema se arrasta há
décadas. Uma emenda constitucional burocraticamente proposta pelo Executivo em
2024 foi logo desfigurada pelo Congresso
Nacional. Projeto aprovado pelos deputados e que tramita no Senado mais
institucionaliza que reduz os abusos.
Fala-se agora, entre muitas ressalvas e
senões, que supersalários serão discutidos em um certo grupo
de trabalho sobre reforma administrativa recém-criado pela Câmara.
Acredite quem quiser.
O Brasil no ‘eixo dos hipócritas’
O Estado de S. Paulo
Posicionamento do governo no conflito entre
Israel e Irã repete o padrão de críticas seletivas e condescendência com
autocracias que conspurca a credibilidade diplomática do Brasil
A nota do Itamaraty sobre a ofensiva dos EUA
ao Irã, longe de defender princípios democráticos ou a estabilidade
internacional, é mais uma demonstração de alinhamento do governo Lula da Silva
ao bloco autocrático global. Essa posição, marcada por um duplo padrão
diplomático, põe o Brasil em rota de colisão com a tradição histórica de
equilíbrio e prudência que sempre orientou sua política externa.
No conflito entre Israel e Irã, o governo
brasileiro formou com a Rússia o que se pode chamar de “eixo da hipocrisia”. A
Rússia, que viola a soberania da Ucrânia numa guerra de agressão, condenou “com
veemência” os ataques a alvos militares e instalações nucleares iranianas,
reprovando-os como violações da soberania e do Direito Internacional. O Brasil,
que jamais condenou “com veemência” a agressão russa na Ucrânia nem repudiou o
bombardeio russo a uma das usinas nucleares ucranianas, também condenou o ataque
americano ao Irã “com veemência”, salientando que “qualquer ataque armado a
instalações nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações
Unidas”.
Da Rússia, é claro, não se pode esperar nada,
mas o Brasil deveria ao menos levar em conta o contexto real do ataque
americano: o Irã é a maior fonte de instabilidade no Oriente Médio, um país
cuja liderança teocrática prega abertamente a aniquilação de Israel e mantém
uma guerra por procuração por meio de milícias como Hamas, Hezbollah e Houthis.
Nessa guerra antiga e complexa, Israel não apenas tem o direito, mas o dever de
se defender, assim como os EUA têm razões de sobra para apoiar a campanha israelense.
O governo Lula opta por um silêncio cúmplice
sobre a agressividade iraniana, enquanto faz questão de condenar as ações
preventivas de Israel e dos EUA. Essa inversão de valores não é uma falha
pontual, mas parte de um duplo padrão que marca a diplomacia lulopetista:
criticar aliados democráticos e alinhados ao Ocidente, enquanto contemporiza
com regimes autoritários, repressivos e fundamentalistas.
O alinhamento com o Irã é só uma faceta desse
quadro mais amplo. Do ponto de vista do Direito Internacional, o ataque
americano é, de fato, controverso. Mas ao menos pode ser defendido com
argumentos razoáveis, como o direito à autodefesa coletiva em face da ameaça
nuclear iraniana. Já a invasão russa à Ucrânia não tem qualquer sombra de
justificativa legítima. O governo brasileiro, contudo, opta pela ambiguidade e
a condescendência com os crimes de Moscou.
A hipocrisia é mais evidente à luz do
histórico diplomático dos governos petistas. Em 2010, sob o comando de Lula, a
diplomacia brasileira protagonizou uma desastrada mediação com o Irã de um
acordo nuclear, ignorando alertas e fragilizando a posição brasileira no
cenário internacional. A tentativa de protagonismo desmedido e voluntarismo
diplomático expôs o País ao ridículo e aos riscos de alinhamento com um regime
que ameaça a paz mundial.
Hoje, ao repetir o mesmo alinhamento, o
governo reforça sua afinidade ideológica com regimes autoritários – Irã,
Rússia, China e outros –, rompendo com a tradição de equilíbrio e prudência que
sempre pautou a política externa brasileira.
Após a ofensiva dos EUA contra o Irã, as
democracias sérias fizeram um apelo à moderação e ao resgate das vias
diplomáticas, mas evitaram condenar o ataque e nem de longe legitimaram um
regime beligerante e delinquente como o iraniano. Ao contrário: reconhecem o
perigo concreto representado pela teocracia xiita, responsável por fomentar o
terrorismo, desestabilizar o Oriente Médio e perseguir sistematicamente a
fabricação de armas nucleares – uma ameaça que transcende fronteiras e atinge a
segurança global.
O que o Brasil ganha com essa adesão à
aliança de autocracias? Quais benefícios estratégicos ou diplomáticos
justificam associar o País a regimes que promovem a instabilidade
internacional, violam direitos humanos e desafiam o multilateralismo baseado em
regras? As respostas são óbvias: tudo isso só serve para satisfazer a rançosa
ideologia antiamericana e antiocidental do lulopetismo.
Pregando no deserto
O Estado de S. Paulo
Em meio ao ativismo de toga, Fachin prega
autocontenção, moderação e respeito às fronteiras entre Direito e política – e
terá chance de aplicar esse princípio ao julgar o Marco Civil
No momento em que o Supremo Tribunal Federal
(STF) se entrega cada vez mais ao protagonismo político, à retórica moralista e
ao afã regulatório, é raro – e valioso – ouvir uma voz da própria Corte pregar
contenção, sobriedade e respeito às fronteiras institucionais. Foi o que fez o
vice-presidente da Corte, Edson Fachin, por ocasião da celebração dos dez anos
de sua atuação no STF. Ao afirmar que “não nos é legítimo invadir a seara do
legislador” e que “ao Direito o que é do Direito, à política o que é da política”,
o ministro reafirmou os fundamentos de uma magistratura republicana e deixou
clara sua disposição de nadar contra a corrente dominante entre seus pares.
A fala, por seu tom, conteúdo e contexto,
merece, mais que aplauso, acolhida como marco de uma possível inflexão. Fachin
invoca a “razão jurídica objetiva” e adverte que juízes não devem se tornar
“satélite da polarização” que corrói democracias mundo afora. Defende, em vez
disso, uma “justiça silenciosa, efetiva, com autonomia e independência da
magistratura”, rechaçando a tentação de tornar o Judiciário um ator político
informal, um corretor de vontades coletivas ou uma espécie de fórum ético da
Nação. Num momento em que o STF parece tentado a ser tudo isso ao mesmo tempo –
juiz, legislador, acusador, censor e guardião de causas –, essa lucidez é uma
raridade.
O contraste entre esse ideal e a prática não
poderia ser maior. O Supremo que Fachin apregoa é discreto, técnico,
autocontido. O Supremo real não raro se apresenta como oráculo iluminista,
intérprete moral da Constituição, fiador da governabilidade e espécie de
Ministério da Verdade digital. O que se vê é um acúmulo de iniciativas que, à
luz dos parâmetros defendidos por Fachin, configuram alarmante desvio
institucional.
A lista é conhecida: a revisão monocrática de
penas e multas a réus confessos da Lava Jato; a suspensão, por liminar, de
dispositivos da Lei das Estatais, com impacto na nomeação de dirigentes
partidários; a intromissão em políticas públicas; decisões monocráticas que se
eternizam sem referendo do plenário; a promiscuidade simbólica entre ministros
e grupos políticos ou empresariais em eventos privados; a censura a críticos a
pretexto de combater “ataques à democracia” – e um longo etcétera.
Poucos episódios expõem com tamanha nitidez o
risco do ativismo togado quanto o julgamento sobre o Marco Civil da Internet. A
norma, aprovada após amplo debate, consagra um princípio elementar de segurança
jurídica: plataformas digitais só podem ser responsabilizadas por conteúdos de
terceiros quando, notificadas por decisão judicial, se recusam a removê-los. É
uma proteção à liberdade de expressão contra os abusos tanto do arbítrio
corporativo quanto do voluntarismo estatal.
A substituição desse dispositivo por um
regime de responsabilização proativa – no qual empresas seriam forçadas a
filtrar conteúdos sob ameaça de sanção – representa, além de uma afronta ao
Legislativo, uma renúncia ao liberalismo jurídico em favor de uma censura
privatizada, opaca, sujeita a critérios vagos como “desinformação” ou
“discursos de ódio”. As plataformas, pressionadas por incerteza jurídica e
instinto de autopreservação, removerão preventivamente qualquer conteúdo
polêmico, instaurando a lógica do silêncio como defesa.
Para um tribunal que deve ser guardião da
Constituição, substituir um marco equilibrado por uma colcha de retalhos
jurisprudencial mal-ajambrada por 11 ministros não eleitos é mais do que
imprudente: é antidemocrático. Fachin terá em breve uma oportunidade histórica
de materializar sua prudência em um voto claro, técnico, consistente – e, se
possível, influente –, que devolva ao Congresso o que é do Congresso e lembre
ao Supremo que sua credibilidade decorre menos do poder que exerce do que do
limite que se impõe.
Em tempos de juízes celebridades, togados
moralistas e ministros legisladores, a lição de Fachin ressoa como pregação no
deserto. Mas toda restauração institucional começa assim: com um princípio bem
dito, mesmo que por poucos. Que seu exemplo frutifique.
O desmonte da Cidade Limpa
O Estado de S. Paulo
Câmara de SP aprova projeto que desfigura lei
e representa risco de volta da poluição visual
Os vereadores de São Paulo aprovaram
recentemente um projeto de lei que flexibiliza a Cidade Limpa. A ideia é
retirar o limite de até dois anúncios por edificação, liberar anúncios em vias,
parques, praças, logradouros em geral, pontes, viadutos, muros, paredes e
empenas cegas, entre outros equipamentos urbanos, e aumentar o tamanho dos
anúncios em relação às larguras das fachadas dos imóveis. Na prática, as
propagandas poderão ser até 200% maiores do que o permitido atualmente, e
poderá ser aberta uma brecha para que anúncios cubram até 70% da fachada de um
bem de valor cultural, ocultando os prédios históricos da metrópole. Ou seja,
um desastre.
Essa investida contra a Cidade Limpa é de
autoria do vereador Rubinho Nunes (União Brasil). À coluna Alice Ferraz,
do Estadão, o parlamentar afirmou que quer “criar um cartão-postal para o
mundo”, com os anúncios em painéis de LED. Propõe replicar o modelo da Times
Square, de Nova York, com seus telões publicitários, na Avenida Paulista, na
Avenida São João e na Rua Santa Ifigênia, para, em suas palavras, “modernizar
as regras” e tornar São Paulo mais atrativa para investimentos.
Trata-se de evidente retrocesso. Em um
manifesto publicado recentemente, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB)
afirmou que o projeto de lei reverte os princípios centrais da Cidade Limpa e,
“sob a roupagem de ‘modernização’, representa um risco iminente de desfiguração
da cidade, de reintrodução massiva da poluição visual, de comprometimento da
segurança e de fruição do patrimônio cultural”.
Nos últimos 19 anos, a Cidade Limpa ajudou
São Paulo a construir a sua identidade como “uma cidade madura, que se
respeita”, segundo a avaliação do urbanista Valter Caldana, coordenador do
Laboratório de Projetos e Políticas Públicas da Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Antes dessa lei saneadora, São Paulo vivia no caos visual, que
destruiu a identidade arquitetônica e urbanística da cidade. Foi a Cidade Limpa
que removeu outdoors, letreiros, faixas em postes, cavaletes das calçadas e
sujeira de toda sorte que estavam espalhados por todos os lados. Até um zepelim
que propagandeava uma marca de pneus foi proibido.
Mesmo com tantos resultados positivos, esse
programa urbanístico que se tornou uma referência e ganhou o apoio dos
paulistanos sempre enfrenta alguma ameaça. As irregularidades, por exemplo, são
visíveis, muito embora no ano passado tenham sido aplicadas apenas 228 multas,
ante 4,5 mil em 2011, auge das autuações, durante o governo Gilberto Kassab.
Além disso, um projeto de lei que tentou liberar anúncios no topo dos prédios
foi aprovado em primeira votação em 2020, mas foi abandonado após forte repercussão
negativa.
O prefeito Ricardo Nunes garantiu que não
apoia “em hipótese nenhuma” um projeto de lei que possa desfigurar a Cidade
Limpa. E, como as reações começam a ganhar força, o vereador Rubinho Nunes
afirmou que vai apresentar um substitutivo, em segunda votação, para restringir
o projeto só às suas “Times Squares”. Com ou sem megalomania, na Câmara,
espera-se que a proposta seja abandonada e, se aprovada, que o prefeito a vete.
Prova pode elevar a qualidade do ensino no
país
Correio Braziliense
Além de obter elementos que aprimorem a
qualidade da educação no Brasil, a iniciativa poderá reduzir ou eliminar a
possibilidade de falta de professores no país
No próximo mês, concluintes da licenciatura e
formados de todo o país poderão se inscrever para a primeira Prova Nacional
Docente (PND). A iniciativa do Ministério da Educação (MEC) objetiva avaliar a
formação dos futuros professores e subsidiar concursos públicos para ingresso
na carreira docente da educação básica pública. Embora apelidada de "CNU
dos professores", a prova não é um concurso público, destinada ao
preenchimento de vagas nas unidades de ensino. Mas poderá ser utilizada por
estados e municípios como critério nos seus processos de avaliação, desde que
tenham aderido ao projeto do ministério.
Os estudantes concluintes de cursos de
licenciatura que estejam inscritos no Enade 2025 — esses participarão
automaticamente da PND, sem necessidade de nova inscrição e com isenção da
taxa. Demais interessados em participar de concursos públicos ou processos
seletivos de União, estados, Distrito Federal e municípios que optem por
utilizar o resultado da PND como etapa classificatória — esses candidatos devem
se inscrever individualmente.
Não faltam críticas à educação brasileira,
principalmente a oferecida pela rede pública. Na maioria das vezes, alguns
fatores, como condições socioeconômicas dos alunos, qualificação dos
professores, infraestrutura e políticas públicas, são desconsiderados —
elementos que comprometem a avaliação. O PND não será a tábua de salvação, mas
buscará melhorar a qualidade do ensino do país em todas as etapas. Facilitará,
principalmente, a seleção de docentes pelos municípios e estados que aderirem à
iniciativa do MEC.
A prova está planejada para ser anual. Neste
ano, será aplicada em outubro. De acordo com o diretor de avaliação da educação
superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira, Ulysses Teixeira, a PND refletirá na formação de professores. Em
entrevista ao caderno Trabalho e Formação Profissional, ele prevê que o impacto
se dará por meio de "devolutivas pedagógicas mais robustas e com a
possibilidade de se criar um padrão de desempenho esperado, que afetará também
a educação básica. "Passa-se a ter um processo mais qualificado de
contratação de professores", prevê Teixeira. Ele tem a expectativa de que
os novos docentes sejam contratados no próximo ano.
Além de obter elementos que aprimorem a
qualidade da educação no Brasil, a iniciativa poderá reduzir ou eliminar a
possibilidade de falta de professores no país. Em 2022, um estudo do Instituto
Semesp previu a possibilidade de um deficit de 250 mil docentes até 2040, no
país. Embora seja uma categoria de grande importância em qualquer sociedade, os
professores não têm uma valorização compatível com a sua relevância para a
transformação socieconômica desejada e capaz de elevar o Brasil à condição de
país desenvolvido. Não basta selecionar bons profissionais, como é esperado
pela PND. É indispensável que eles sejam tratados como categoria imprescindível
ao país.
O nosso apelo à paz
O Povo (CE)
O momento delicado da conjuntura
internacional exige uma ampla reflexão e um esforço da comunidade internacional
para que o diálogo seja recuperado como caminho adequado para superação das
crises que movem a geopolítica global. A opção bélica precisa voltar ao seu
caráter extremo, utilizável por países e governos apenas depois de esgotadas
todas as possibilidades que priorizem a paz.
O Grupo de Comunicação O POVO lamenta que um
conjunto de equívocos tenha nos trazido à quadra atual de instabilidade e medo.
É um fracasso do mundo civilizado que se arraste por tanto tempo o cenário de
aflições diárias do Oriente Médio, desde quando se registrou aquela
injustificável ação violenta protagonizada pelo terrorismo do Hamas em 7 de
outubro de 2023, invadindo o território de Israel, sequestrando, matando,
atirando a esmo contra homens, mulheres, jovens, crianças e quem mais surgisse
à frente. Um horror!
É intolerável que a comunidade internacional
aceite de maneira passiva a resposta do governo de Benjamin Netanyahu, na qual
a via militar prevalece quase todo o tempo. Sem espaço para negociação e a um
custo muito alto, no aspecto econômico ou quanto às consequências diretas que
recaem sobre a população civil.
Com capítulo especial para o que se dá na
Faixa de Gaza, na Palestina, com a destruição física de áreas importantes do
seu território e dezenas de milhares de mortes oficialmente contabilizadas,
incluindo inocentes crianças que tombam atingidas por uma violência que
contexto político nenhum será capaz de justificar.
Infelizmente, em desdobramentos que nos
deveriam envergonhar mais ainda, a mesma demonstração de pouco apreço às vidas
humanas é registrada em cidades de Israel e, mais recentemente, na capital
iraniana, Teerã, em todos os casos tendo cidadãos e cidadãs comuns como alvos.
Direta ou indiretamente.
Onde estão, afinal, os organismos
multilaterais que deveriam atuar para conter essa escalada da violência? A mais
emblemática delas, Organização das Nações Unidas (ONU), lamentavelmente, acabou
transformada em instância esvaziada pelos fatos insanos dos últimos meses,
semanas e dias e já não apresenta mais perspectiva de levar à reversão de um
quadro de predominância absoluta do poderio militar e bélico, do qual resulta
uma estatística macabra de mortes e de prejuízos materiais incalculáveis. Para
todos os lados envolvidos, em proporções diferentes.
Em meio aos últimos desdobramentos desse
quadro sangrento que sacrifica a liberdade de muitos e custa a vida de outros
tantos, vale lançar luzes sobre o que disse o papa Leão XIV, em seu chamamento
mais recente. Um grito pela paz, disse o pontífice, demanda responsabilidade e
razão e não deve, por isso, ser ofuscado pelo ruído bélico ou pelos discursos
que estimulam o conflito e a guerra
De fato, é preciso que se dê uma chance à
busca da paz possível, capaz de restabelecer um ambiente de civilidade nas
relações entre os povos e os países. A via da diplomacia precisa ser
recuperada, buscando-se a superação das diferenças pelo saudável caminho do
diálogo, pois nunca é tarde para abrir espaço a uma conversa que tenha no seu
sentido o objetivo nobre de pôr fim a uma guerra.
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