terça-feira, 24 de junho de 2025

Os novos reizinhos do Brasil - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

É mais um projeto que passa por cima da lei para defender grupos específicos

Aprovadas por 88% dos moradores de São Paulo, segundo pesquisa Datafolha de 2024, e tendo seu uso comprovadamente associado à redução de mortes, tanto de policiais como de cidadãos, as câmeras corporais continuam a incomodar a bancada da bala.

A Comissão de Segurança Pública da Câmara aprovou na semana passada um projeto de lei que proíbe o uso das imagens de bodycams para instruir processos contra todos os profissionais que atuam na segurança pública —polícias Militar, Civil, Federal, Rodoviária, Distrital e Municipal.

O argumento do autor, deputado Capitão Augusto (PL-SP), e do relator, deputado Coronel Ulysses (União-AC), é que ninguém é obrigado a produzir provas contra si. Só faltou dizer que o uso da força desmedida e a má conduta estão previstos na Constituição.

Não por acaso, os parlamentares que defendem o absurdo são oficiais da PM. Criticado por juristas, é mais um projeto que pretende passar por cima da lei para salvaguardar um grupo específico. Ou até mesmo uma única pessoa, como na proposta de anistia com o objetivo de proteger Bolsonaro.

A eleição de Davi Alcolumbre e Hugo Motta para as presidências do Senado e da Câmara foi um aviso. Havia algo de estranho na quase unanimidade das candidaturas, com oposição e situação trocando abraços e beijinhos. O cheiro de esquema arranjado ficou mais forte com as primeiras declarações de Alcolumbre e Motta: a prioridade de suas gestões seria pautar matérias que atendessem aos interesses da população.

O que se vê é o contrário. Com requintes de maldade, predomina nas duas casas o mote de Justo Veríssimo, o antigo personagem de Chico Anysio, que não só se mantém atual como se multiplicou: "Eu quero que o pobre se exploda!". Ganham os lobbies (do setor elétrico, do agronegócio, das bets e das fintechs) e sobretudo ganham os congressistas. Os novos reizinhos do Brasil querem a ampliação do fundo eleitoral para R$ 1,3 bilhão neste ano e o acúmulo de aposentadoria e salário. Além de beber uísque direto do gargalo.

 

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