sábado, 14 de junho de 2025

Fanfarrões - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Hugo Motta informou que pautará a urgência do projeto que sustaria o decreto que estabelecera novas alíquotas para o IOF. Votação prevista para segunda. Até lá, um longo mar a atravessar. E nenhuma deliberação de mérito no horizonte. Muitas águas sobre as quais negociar.

Fantasiado de fiscalista, Motta usa Haddad de escada – para (tentar) encontrar uma identidade à sua gestão na Câmara e para acarinhar a oposição, que o percebe como governista de primeira classe nos voos de Lula pelo mundo.

O deputado “morde e assopra” pode bradar à vontade sobre não estar “à frente da presidência da Câmara para servir a projeto político de ninguém”. O mundo real se impõe na prática. Não somente os petistas têm projeto de poder. Não será apenas Lula a concorrer à reeleição.

Hugo “dever de casa fiscal” Motta foi eleito para comandar a Casa com um mandato corporativista explícito: defender o lote bilionário das emendas parlamentares. Sob seu comando, a Câmara aprovou o aumento do número de deputados e quer aprovar a autorização para que parlamentares acumulem salário e aposentadoria especial. Esse é o mundo real.

O governo está preocupado em levantar dinheiros para fechar a conta de 25 e rolar o presunto natimorto do arcabouço fiscal até 26, já que isso significará empurrar a bomba para 27. O ano eleitoral será o da verdadeira anistia – toda a gastança será perdoada. Toda, estimulada. O papo é reto. O governo está concentrado em assegurar as condições a que nós financiemos a tentativa de reeleição de Lula.

Os haddads podem falar à vontade em justiça tributária, em os moradores da “cobertura” pagarem mais. Repassarão para nós. Todos nós – com ou sem cobertura – pagando para que Lula continue no palácio. Esse é o mundo real. Ninguém vai cortar despesas.

Ninguém quer. Nem Motta. As exigências do mundo real deixam a fanfarronice pelada. Cortar despesas exigiria cortar emendas. E o Parlamento, na prática, ora perverte projeto de outra finalidade para malocar contrabando que recupera verbas canceladas do orçamento secreto de modo a serem usadas em obras públicas com problemas técnicos. A isso tem mandato Motta.

Lula e Haddad parolam contra as centenas de bilhões de reais em isenções fiscais – como se grande parte delas, a imensa maioria ineficaz, não fosse produto de concessões “aos ricos” feitas pelos petistas. O papo é reto. Ninguém vai cortar benefícios fiscais.

Ninguém quer. Muito menos Motta. Falavam em PEC para tratar do assunto. A ideia da PEC sumiu. Reveriam agora apenas os gastos tributários infraconstitucionais. Reverão nada. Lembrese da reação do Congresso quando se tentou acabar com a desoneração da folha de pagamento.

Basta de terrorismo. Não pode haver shutdown em máquina já paralisada. Basta de palhaçada. O governo vai pagar as emendas embarreiradas – o tesoureiro Dino abrirá o cofre – e serão todos felizes. 

 

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