O Globo
‘Acho que o senhor vai gostar do Haddax
Classic. Tirando o arcabouço, que ficou meio frágil, é um carro com potencial’
Interior (bem interiorzão). Concessionária
hipotética de carros usados imaginários, em algum ponto de um lugar mítico
chamado Brasil. Manhã de sábado.
Zé, maltrapilho e maltratado, conversa com o
vendedor, que o olha com mal disfarçado desdém.
— Então, de 2019 a 2023 eu andei de carro de boi. Sofri muito. Daí resolvi mudar radicalmente e troquei por uma carroça. Estou com ela há dois anos e não aguento mais. Só vou poder trocar em 2026, mas já queria dar uma espiada nos modelos disponíveis.
— Pois não. Mais ou menos 65% dos brasileiros
procuram algo novo para 2026. Um dos lançamentos mais esperados é o Císio SP,
um carro sem muito carisma, mas com bastante tração. Todos os modelos dessa
montadora, como o Zemaxx e o Rattch Junior, puxam um bocado para a direita,
então é bom ter cuidado nas curvas. Mas nada que alinhamento e balanceamento
constantes não resolvam.
— Hmmm, esse tom verde-oliva, sei não...
— Acho que o senhor vai gostar do Haddax
Classic. Tirando o arcabouço, que ficou meio frágil, é um carro com potencial.
É perfeito se o senhor for dos que engatam a primeira e não vão muito além
disso. Era para ser econômico e popular, mas consome bastante e vem com taxas,
tributos, tarifas, encargos e impostos adicionais. Tem uma roda presa, parece,
assim como o outro da mesma fábrica, o Bowlles 1.0. Mas deve ser coisa do
antigo dono, que puxava muito para a esquerda. Talvez sob nova direção...
— Não gostei do tamanho do retrovisor...
— Então o senhor precisa é do Arduo LT. É um
modelo versátil, arrojado, de design contemporâneo, mas projetado para
travessias difíceis. Suporta condições adversas, seja frio intenso ou calor
escaldante. Resiste bem às intempéries, é estável, um modelo para quem se
cansou de aventuras e quer uma viagem sem sobressaltos.
— Moderno demais...
— Bom, tem o Ronauto, um off road mais
tradicional, robusto, com um desenho vintage, que topa qualquer parada. É
praticamente um trator.
— Aí também não!
— Quem sabe o Cyrallis, que fez muito sucesso
em 1998, 2002 e 2018? Perdeu um pouco de potência na versão 2022 e tem um
probleminha no freio, que costuma deixá-lo desgovernado. Faz um pouco mais de
barulho que o desejável, mas, no segmento dos conversíveis, e com essa
quilometragem, é o melhor que o senhor vai encontrar.
— Não tem nada mais competitivo?
— Se o senhor quiser uma picape com pegada
eco friendly, que não queime combustível fóssil e sobreviva aos piores trancos,
temos a Marine. Parece frágil, mas é sustentável e valente. Já deu umas batidas
de frente, mas nada que comprometa a performance.
— Hmmm, esse painel...
— Bom, já mostrei quase todo o estoque.
— Horrível essa concessionária; quase não tem
opção. Pelo jeito, vou acabar tendo de escolher entre o carro de boi e a
carroça. De novo.
— Talvez não: tanto a carroça quanto o carro
de boi devem ser relançados em versões femininas. Mesmo fraco desempenho, sem
garantia nenhuma, só com uma maquiagem na lataria. Se o senhor não quiser mesmo
ir a lugar nenhum e achar que aguenta esperar até 2030...
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