terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lula critica centrais e ajuda Dilma na guerra do mínimo

Em sua primeira declaração pública sobre o governo Dilma desde que deixou o Planalto, o ex-presidente Lula, em viagem a Dacar, no Senegal, onde participou do Fórum Social Mundial, fez ontem críticas duras aos ex-colegas de militância sindical. Ao comentar a negociação sobre o aumento do salário mínimo, Lula disse que os companheiros sindicalistas não podem mudar as regras do jogo a cada momento. Para o ex-presidente, é "oportunismo" vincular o mínimo aos índices da economia, como a inflação e o PIB. O governo aumentou ontem a pressão para impedir a derrota de Dilma na votação do mínimo e garantir os R$ 545 rejeitados pelas centrais. Projeto de lei que está sendo elaborado pelo governo e será enviado ao Congresso prevê a manutenção, até 2014, da regra atual de reajuste do mínimo - a inflação do período e o crescimento do PIB de dois anos anteriores. O projeto modifica o de Lula: ano passado, ele enviou à Câmara proposta prevendo a política de valorização do mínimo até 2023 - que não foi aprovada. O ministro Luiz Sérgio disse que Dilma restringiu o alcance do projeto à duração de seu mandato.

Lula: sindicalistas são oportunistas

O MÍNIMO DA DISCÓRDIA

Ex-presidente diz que querem "mudar a regra do jogo" e que espera que haja acordo

Tatiana Farah

- O que não pode é os nossos companheiros sindicalistas mudarem a regra do jogo a cada momento - disse Lula a jornalistas brasileiros em Dacar, no Senegal, antes de participar de uma mesa de debate do Fórum Social Mundial com diversos sindicalistas da CUT (Central Única dos Trabalhadores) na plateia.

Segundo Lula, o acordo do salário mínimo foi fechado durante a gestão do ex-presidente da CUT, Luiz Marinho, no Ministério da Previdência.

- (O acordo) era combinar o PIB com a inflação até 2023 para que a gente pudesse recuperar definitivamente o salário mínimo - explicou Lula, completando: - Aí, você tem uma regra, aprova na Câmara, vira lei e todo mundo fica tranquilo. Ou você fica com o oportunismo: quando a inflação é maior, você quer antecipar; quando o PIB é menor, você quer antecipar.

Críticas à tentativa de mudar acordo

Lula lembrou aos sindicalistas que o acordo foi fechado em seu governo, mas que, apesar de se sentir confortável para intermediar a questão por ser "amigo e companheiro" dos dirigentes sindicais, o assunto já estava sendo tratado pelo ministro Gilberto Carvalho, representante da presidente Dilma Rousseff, e pelo Congresso Nacional:

- Penso que seria prudente que os nossos companheiros sindicalistas soubessem que a proposta não é do governo. É combinada entre todos nós. Então, espero que eles façam um acordo.

Lula reforçou a importância de cumprir o combinado entre governo e centrais sindicais:

- Não é uma boa política essa de querer mudar a cada ano um acordo que a gente faça. Na política vale, muitas vezes, o cumprimento da palavra. Se é verdade que este ano o PIB vai dar zero, no outro ano ia dar 8%. Então, tem a compensação.

O ex-presidente não quis falar sobre os passaportes diplomáticos recebidos por seus filhos e neto dias antes de deixar a Presidência.

- Te incomoda?- retrucou ao jornalista que perguntou sobre os documentos, entrando em seguida no carro que o levou até o debate do Fórum Social Mundial, aberto domingo em Dacar. Ao lado de políticos da África, Lula foi saudado com o tradicional hino de suas campanhas: "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".

Em um café da manhã com a secretária-geral do Partido Socialista Francês, Martine Aubry, ontem pela manhã, Lula defendeu que, como o Brasil, a França tenha uma mulher como presidente da República. O país terá eleições no próximo ano e duas mulheres são cotadas para disputar o cargo com o presidente Nicolas Sarkozy, um dos líderes internacionais mais próximos de Lula.

- Ele disse que seria bom que fosse uma mulher, como Dilma (Rousseff) - afirmou à imprensa Martine Aubry.
FONTE: O GLOBO

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