terça-feira, 2 de agosto de 2011

Siglas temem que prévia contagie eleição

Para especialistas, temor com consequências da disputa interna e falta de tradição no Brasil explicam indefinições sobre tema no PT e PSDB

Julia Duailibi

A pouco mais de um ano das eleições municipais, PT e PSDB estão em polos distintos, e com papéis inversos, ao criticarem ou defenderem as prévias para a escolha do candidato a prefeito de São Paulo.

O uso das prévias para definir o nome que representará determinada legenda numa disputa pode causar rachas internos e levar à derrota na eleição. Na avaliação de especialistas, embora seja um instrumento "saudável" de mobilização, a campanha intrapartidária é arriscada, principalmente para as siglas que estão no poder.

Instrumento tradicional na história do PT, as prévias têm sido criticadas pela cúpula do partido, que quer engavetá-las e emplacar o ministro da Educação, Fernando Haddad, como candidato.

O PSDB, que nunca abriu esse tipo de consulta para os filiados, passou a defender as prévias como o mecanismo legítimo de escolha de seu candidato, num cenário em que não há um nome natural para concorrer à Prefeitura - o ex-governador José Serra tem dito que não pretende ser candidato a prefeito.

"É uma questão muito mais conjuntural do que programática. Quando há um candidato muito forte, a prévia é vista como algo que pode pôr em risco uma vitória quase certa. Quando não tem uma liderança muito clara, a tendência é que se opte pela prévia", afirma o cientista político e diretor do Centro de Pesquisas e Análises de Comunicação Cepac), Rubens Figueiredo.

O cientista político David Fleischer conta uma experiência que teve em Honduras, na eleição presidencial de 1989. "Uns deputados falaram para a gente: "Professor, perdemos a eleição por causa de vocês, americanos". Os consultores aconselharam a fazer prévia. Havia quatro candidatos. Ficou tão dividido que perderam a eleição. O outro partido não fez e ganhou", explica. "É um risco, porém a vantagem da prévia é uma pré-mobilização eleitoral. Isso divulga o partido e mobiliza filiados."

As prévias tornaram-se mais comuns nos países com tradição democrática na segunda metade do século 20. A primeira realizada no Brasil foi em 1982, quando Jair Soares, Octávio Germano e Nelson Marchezan disputaram a indicação para o governo do Rio Grande do Sul, pelo PDS, que dava sustentação ao regime militar. Soares ganhou a indicação e, depois, a eleição.

"É extremamente saudável ter prévia. Mas ela é também uma faca de dois gumes. Se a prévia funcionar como uma cisão, aí o partido, em vez de se fortalecer com a democracia, se enfraquece, porque os grupos não vão unidos para a disputa eleitoral", afirma Figueiredo.

A Justiça Eleitoral considera a matéria uma questão interna dos partidos e não impõe realização de prévias - só determina que o candidato escolhido seja chancelado pelos delegados da legenda, em convenção.

Tradição. A tradição brasileira tem sido o acordo entre os pré-candidatos, promovido pela cúpula partidária. As únicas experiências do PSDB com prévias foram no Acre, nas eleições de 2006 e 2008. Detalhe: tiveram um colégio eleitoral restrito, que contou apenas com uma centena de integrantes dos diretórios estadual e municipal.

O PT promoveu campanhas internas para escolher candidatos a prefeito, governador e presidente em 2002, quando Eduardo Suplicy e um contrariado Luiz Inácio Lula da Silva disputaram as prévias. Com o discurso de que a disputa intrapartidária causa racha, o partido debate agora a reforma do estatuto que prevê limites para o uso das prévias. "O PT não quer mostrar rachas. Por ser governo, quer manter a imagem de partido unido", observa Fleischer.

Em defesa das prévias, o exemplo americano é sempre citado. Para os especialistas, porém, são realidades distintas. "Nos Estados Unidos, a democracia está mais consolidada, o bipartidarismo passa para a sociedade uma noção clara do que representam os candidatos", diz Fleischer.

No Brasil, os próprios líderes partidários admitem que as prévias podem ser manipuladas. "Os candidatos vão usar todo o seu caixa 2 para ganhar as prévias", ironiza Fleischer.

PERGUNTAS PARA...

Edinho Silva, presidente estadual do PT

1. Por que líderes do PT querem evitar prévias?

Temos que trabalhar para o PT se unificar e evitar as prévias, que são um processo de disputa que sempre deixa sequelas. Se for possível construir um ambiente de diálogo que unifique o PT, é mais construtivo que prévia.

2. Isso não vai contra a tradição do partido?

Ninguém é contra a prévia, ela é um dos maiores avanços estatutários do PT. Agora, a prévia é última instância. Se for possível, por meio do diálogo, construir a unidade, é evidente que é a melhor saída.

Pedro Tobias, presidente estadual do PSDB

1.Por que o PSDB resolveu defender as prévias?

Caciques fundadores e respeitáveis já estão morrendo, só sobrou o Fernando Henrique. Eu acho que precisamos acostumar o partido a disputar prévias, ganhar e perder. É saudável. Precisamos democratizar essa decisão.

2.Tem gente que diz ser jogo de cena essa defesa de prévias no PSDB.

Podem achar o que querem, mas estou defendendo em todas as cidades. Para o partido, nós somos passageiros. Mas não é fácil. Quem tem o poder na mão, quem decide, por que vai dividir com a base?

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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