Vegetariano
não dispenso chorar
sobre os legumes esquartejados
no meu prato.
Tomates sanguram em mim boca,
alfaces desmaiam ao molho de limão-mostarda-azeite,
cebolas soluçam sobre a pia
e ouço o grito das batatas fritas.
Como.
Como um selvagem, como.
Como tapando o ouvido, fechando os olhos,
distraindo na paisagem o paladar,
com a displicente volúpia
de quem mata para viver.
Na sobremesa
continua o verde desespero:
peras degoladas,
Figos desventrados
e eu chupando o cérebro
amarelo das mangas.
Isto cá for a. Pois lá dentro
sob a pele, uma intestino disputa
me alimenta: ouço o lamento
de milhões de bactérias
que o lança-chamas dos antibióticos
exaspera.
Por onde vou é luto
e luta.
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