segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A contabilidade para 2014

Embora eles afirmem que têm a maioria dos prefeitos mineiros, o senador Aécio Neves e a presidente Dilma precisarão suar a camisa para arrebanhar os que são aliados de ambos

Juliana Cipriani

Cantar vitória é fácil. Prever a adesão da maioria das prefeituras mineiras para reforçar a campanha em 2014 e ter palanques certos para buscar votos também. Os números, porém, mostram que, embora os dois lados apostem que têm maioria, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a presidente Dilma Rousseff (PT) vão ter que se esforçar para garantir o apoio das bases dentro de casa, caso os dois realmente concorram ao Palácio do Planalto daqui a dois anos. Isso porque a maioria dos municípios de Minas Gerais estará nas mãos de partidos híbridos, ou seja, que são aliados tanto do governo estadual quanto do federal.

Os resultados fechados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) mostram que os partidos historicamente aliados somente do tucano Aécio – PSDB, DEM e PPS – abocanharam 233 prefeituras mineiras. Já os que seriam exclusivos da petista Dilma – PT, PCdoB e PMDB – somaram 238 postos. As urnas colocaram o restante dos 382 municípios mineiros nas mãos de legendas como PP, PDT, PTB, PR e outros aliados do governo Antonio Anastasia (PSDB)/Aécio e da administração Dilma.

No discurso dos eleitos, é muito cedo para definir qual rumo tomar em 2014, e as candidaturas à Presidência da República ainda nem estão colocadas. Também é preciso avaliar o comportamento do partido no plano nacional. O prefeito Marcio Lacerda (PSB), vitorioso em Belo Horizonte, no dia seguinte à sua reeleição não deu garantias ao seu apoiador no pleito. Pelo contrário. Afirmou que, se a sucessão presidencial fosse hoje, seguiria seu partido, ou seja, estaria com Dilma.

Prefeito de Sete Lagoas pelo PP, partido entre os aliados híbridos que fez o maior número de prefeitos em Minas (foram 70), Márcio Reinaldo diz que a parte mineira da legenda fica com Aécio. O partido é comandado pelo vice-governador Alberto Pinto Coelho, que foi presidente da Assembleia na gestão de Aécio. "Sou amigo particular do Aécio e o partido em Minas deve marchar com ele. Nacionalmente a tendência é apoiar Dilma, mas vai depender do trabalho que o senador fizer com as bancadas do Nordeste e sobretudo do Sul", afirmou.

Outro aliado dos dois é o PTB, que conquistou 50 prefeituras. Segundo o presidente estadual, Dilzon Melo, o PTB mineiro estará com Aécio. "No passado o PTB apoiou nacionalmente Dilma e tem tirado dividendo disso, tanto que é base do governo dela. Acho que isso perdura dois anos até 2014, quando será hora de definir", disse.

VISÕES DIVERGENTES. Os presidentes do PT e do PSDB no estado têm visões completamente divergentes do resultado eleitoral. O deputado federal petista Reginaldo Lopes acredita que os aliados estarão com Dilma, enquanto o parlamentar tucano Marcus Pestana está convicto de que eles apoiarão Aécio. "Na dinâmica local eles sempre estiveram conosco. Na dinâmica mineira se desfaz a lógica de Brasília para efeito do jogo. É a construção de uma candidatura de Minas para 2014 e a maioria absoluta vai ficar com o Aécio", afirma Pestana, que, quando questionado sobre o fato de Dilma também ter nascido no estado, rebate afirmando que ela tem domicílio eleitoral em Porto Alegre. Ainda de acordo com o dirigente tucano, até mesmo aliados da petista podem migrar o apoio ao tucano. "Mais da metade dos prefeitos do PMDB se alinharam com Anastasia na eleição", argumenta.

O presidente do PT mineiro afirma que o eleitor de Minas ficará com Dilma e, quanto aos partidos, acredita que as pesquisas de opinião, que hoje indicam maioria para a petista, serão decisivas. "Tirando PT, PMDB e PCdoB, que estão no núcleo duro do governo Dilma e nos apoiam em qualquer hipótese, os demais vão ficar de olho nas pesquisas para tomar uma posição", afirmou. Os petistas garantiram fatias importantes do eleitorado, comandando algumas das maiores cidades do estado, que, juntas, somam 1,4 milhão de potenciais votos.

Tradicionais aliados de Dilma, PT e PCdoB foram apoiados pelo governo tucano no segundo turno das eleições, depois que candidaturas do PSDB foram derrotadas inicialmente. Segundo Carlin Moura, eleito prefeito de Contagem, os apoios que fechou foram em função das questões locais. "Em momento algum entrou em discussão a questão nacional. Em 2014, o PCdoB vai tomar suas posições e eu vou seguir a orientação do partido", afirmou. Apesar do apoio recebido, Carlin disse que no Legislativo mineiro o PCdoB continua sendo oposição.

Já Bruno Siqueira (PMDB), que ganhou a Prefeitura de Juiz de Fora, tendo no segundo turno o apoio dos tucanos, não nega a origem política. Ligado ao grupo do falecido ex-presidente Itamar Franco, não garante qual será a postura do partido, mas faz questão de ressaltar a preferência pessoal por Aécio. "Não sabemos nem quem serão os candidatos. O PMDB vai ter sua decisão no momento oportuno. Agora, em Juiz de Fora, o que tenho a dizer é que minha relação com Aécio, a partir do momento que ele me apoiou no segundo turno, é a melhor possível", disse. Detalhe: nem Carlin nem Bruno tiveram o apoio do Palácio do Planalto, que teve nos dois municípios candidaturas do PT.

Fonte: Estado de Minas

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