Não tem hora marcada, mas nada
vai impedir o que tiver de acontecer. A questão presidencial depende mais do
imponderável que dos atores, na
oportunidade que se limita às candidaturas da presidente Dilma Rousseff e do
ex-presidente Luiz Inácio etc. No caso dele, reincidência. Resta saber qual das duas hipóteses
prevalecerá como solução natural e o que pode suceder à candidatura excedente.
Em política, mas principalmente
em eleição, entre pretendentes de procedência diversa não há observação a fazer.
A situação muda quando a origem é a mesma. Localizam-se aí, geralmente, as
cisões partidárias cujas conseqüências fazem história à margem da própria.
Pode-se considerar também algo imprevisível
nas candidaturas de Lula ao terceiro mandato e de Dilma Rousseff ao segundo, apertados
numa única chapa. Um de vice, como prêmio de consolação. Mas é assunto de que
se pode tratar sentado.
Depois de três insucessos nas
urnas, Lula aposentou a proposta pendendo à
esquerda e, tangenciando a direita, numa carta aos brasileiros e, por
uma visão mais objetiva, chegou à presidência
da República e à reeleição com a maior
facilidade. Ao preço da uma carta-manifesto que o brasileiro não precisou ler,
porque foi o óbvio que viabilizou o acesso de Lula ao poder e deixou o petismo na
sala de espera do Planalto.
O mandato do qual a
presidente Dilma já deu conta da metade (enquanto o antecessor se recupera do
que não fez nos dois que lhe couberam) valeu opinião pública favorável e não
disfarça preferência por um toque de moralização política e
administrativa.
A questão vai ser resolvida
no curso da sucessão, se o que se apresenta como oposição não chegar às vias de
fato eleitoral. Por enquanto, não parece provável uma candidatura oposicionista digna de
esperança.
Quando Lula resolveu o problema com o PT mediante lançamento da candidatura
Dilma Rousseff, não percebeu que estava criando outro, obviamente muito mais
delicado. Fazer um candidato é mais fácil do que desfazer uma candidatura. O
problema decorrente veio a ser a hipótese da reeleição da presidente, graças às
pesquisas. Lula cuidou de não deixar, entre o criador e a criatura, respectivamente
ele e Dilma, espaço para intermediários. Assumiu a paternidade da candidatura
e, contra seus hábitos, fez hora extra e trabalhou em regime de dedicação
exclusiva. Botou para correr os intermediários de oportunidades. E
tratou de passar adiante,
como quem não quer nada, a versão de que a presidente iria fazer o papel de
rainha da Inglaterra e a ele caberia governar por intermédio dela. Dona Dilma,
porém, aproveitou a oportunidade e tratou de ter eleitorado próprio, com
indicações preciosas na formação do seu governo para contar com o eleitorado
que chegava, de mala e cuia, para
engrossar a classe média.
A conseqüência não se fez esperar e a ética
voltou a ter cotação em alta na bolsa (e
em baixa no bolso). Cada pesquisa mensal
de opinião pública distinguia a presidente com números de fazer inveja. E fez..
O ex presidente fez de conta
que estava ciente e passou a andar em
círculos, como sintoma de que perdera o fio da meada. E tantas fez que não deixou
aumentar a distância entre a presidente e ele.
A candidatura Dilma dispõe do suficiente para atender mais
depressa às aspirações da classe média, que
havia se estabelecido com peculiaridades
universais e nacionais perfeitamente assimiláveis. Ficou demonstrado que Dilma
vê mais claro e mais longe. E assim o tempo cumpre a sua parte sem atropelar a
vida alheia. e o lastro da democracia.
O resto não passa de
conseqüência antecipada, nem altera os equívocos presumíveis. O ponto de
partida da candidatura Dilma Rousseff foi o bloqueio social e político do
terceiro mandato de Lula. Já deu para perceber no eleitorado os primeiros
sinais de que o Brasil pode ser o mesmo, mas o brasileiro já se apresenta
politicamente como democrata funcional, tem peso nas pesquisas de opinião e
vota com desembaraço eletrônico.
Por essa fresta, que não preocupa
o patrocinador da candidatura Dilma, os dois – o padrinho e a candidata natural
à próxima reeleição _ levaram a classe
média, que tem mais de velha do que de nova, a se refazer com a brisa
moralizante, embora sem convicção suficiente para a limpeza completa de dentro para fora do
governo.
O que aconteceu até a metade
do governo Dilma e o que deverá ser o
saldo a ser compartilhado entre o padrinho e a candidata, pode não ser
previsível, mas o prejuízo será alto. Assim que se consumar o último capítulo
desta história prolongada, as versões
terão o sabor de verdades tardias.
Fonte: Jornal do Brasil
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