quarta-feira, 19 de junho de 2013

Para Aécio, siglas não devem se apropriar dos protestos

Por Raymundo Costa

BRASÍLIA - Na festa de comemoração dos 25 anos de criação do PSDB, o pré-candidato do partido à sucessão de 2014 assegurou que não pretende fazer das manifestações ocorridas nos últimos dias "um embate político", mas na emenda não poupou o governo federal: "Temos que reconhecer que esse sentimento de insatisfação é derivado da alta do custo de vida, da péssima qualidade dos serviços públicos e de outras demandas específicas que vamos identificar ao longo do tempo".

Pouco antes, Aécio havia dito que as manifestações deixaram "claro que o Brasil cor-de-rosa, pintado e cantado em verso e prosa da propaganda oficial não encontra correspondência na vida real das pessoas"

O pré-candidato do PSDB fez essas afirmações na inauguração de uma exposição em comemoração dos 25 anos de criação do PSDB, 19 anos do Plano Real e ao aniversário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ontem na Câmara dos Deputados. Há tempos um evento do PSDB não registrava demanda igual da imprensa e de políticos, à exceção das convenções partidárias.

FHC deu o tom do discurso tucano. "É importante que as pessoas mais jovens, e não só os jovens, expressem suas vontades, mesmo que não saibam muito bem para que lado vão e que sejam muito díspares as suas vontades", disse. "É claro que a partir daí, os que são responsáveis, que estão no governo, têm que perceber: as coisas não estão tão bem quanto eles pensam".

Segundo o ex-presidente há um "crescente mal-estar que deriva de muitos problemas estruturais" na origem das manifestações. "Há uma certa descrença nos caminhos políticos, então, os partidos políticos que quiserem se recompor com o povo têm que chegar mais perto e sentir qual é a demanda", afirmou.

Apenas Aécio e FHC falaram na abertura da exposição. Um tradicional aliado do PSDB, o Democratas, se fez representar na pessoa de seu presidente José Agripino Maia (RN). O objetivo do DEM, nas eleições de 2014, é eleger o maior número de deputados e senadores possível, o que pressupõe ter candidatos aos governos em maior número de Estados, o que pode dificultar as articulações para provável reedição da aliança entre os dois partidos.

O ex-governador José Serra era esperado mas não compareceu. Serra telefonou para Aécio e disse que motivos particulares o impediram de viajar. Mas aliados do ex-governador de São Paulo, como um dos seis vice-presidentes do PSDB, Alberto Goldman, e o senador Aloysio Nunes Ferreira compareceram ao evento.

De acordo com Aécio Neves, as manifestações ocorridas em todo o país, nos últimos dias, não mudam os planos do PSDB para a eleição de 2014. Na realidade, ontem mesmo o pré-candidato fazia reflexões sobre o movimento. "As redes sociais são um fenômeno do nosso tempo", disse. "Essa capacidade de mobilização é algo com que nós vamos ter que nos acostumar daqui por diante", seja na dimensão verificada na atual onda de protestos ou em outras", afirmou.

Segundo Aécio, os políticos devem "tomar um cuidado muito grande, porque ninguém deve se apropriar ou tentar se apropriar desse movimento e quem tentar fazer isso vai ter uma resposta muito dura da sociedade". O senador mineiro também considerou um equívoco, na mesma dimensão, a transferência de responsabilidades políticas. " Nós não fazemos isso. Mas quem está em qualquer nível de governo logicamente é cobrado por dar respostas mais imediatas", disse. Não citou o nome, mas referia-se evidentemente à presidente da República, Dilma Rousseff.

Fernando Henrique também insistiu que o PSDB deve ser intransigente na defesa da estabilidade econômica. "Não se assegura a crença na democracia, e nem se consegue avanços concretos para o povo, se não houver uma direção econômica bem estabelecida, bem feita", disse. "O termômetro disso é a inflação: quando a inflação começa a inquietar, o povo se inquieta, porque sente que o que está montado começa a desmoronar".

Fonte: Valor Econômico

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