Sem praticamente abrir a boca, a ex-senadora Marina Silva sobe sem parar nas pesquisas de opinião. Abrindo mais a boca do que o costume, e viajando sem parar, a presidente Dilma recupera alguns pontos de sua popularidade, investindo mais do que nunca em propaganda oficial.
Abrindo pouco a boca em público, mas trabalhando muito nos bastidores, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mantém atitude dúbia em relação à sua candidatura a presidente em 2014, aguardando que os cenários fiquem menos nebulosos.
O senador Aécio Neves trabalha em silêncio, aprofundando suas características mineiras, fazendo acordos de bastidores que hoje parecem improváveis, mas que mais adiante poderão ser viabilizados pelas trapaças da política.
Falando muito, e negociando bastante, o ex-governador José Serra tenta manter-se na disputa, avaliando que as mutações do cenário eleitoral podem levar um dia, quem sabe, a que a maioria do eleitorado se decida por escolher "quem sabe fazer acontecer". Neste momento, ele se considera o homem certo e pretende estar no lugar certo. Precisa decidir primeiro se esse lugar é o PSDB ou se pode ser outra sigla que o acolha e ao seu projeto de disputar pela terceira vez a Presidência. Por enquanto, o eleitorado que não quer que Dilma se reeleja continua majoritário, e procura um nome novo para substituí-la.
O fato de Marina continuar subindo como consequência da onda dos protestos mostra que há parcela silenciosa do eleitorado que vê nela a alternativa de uma maneira diferente de fazer política. Mesmo que as grandes manifestações espontâneas tenham refluído, o sentimento de insatisfação continua latente.
Depois da ressaca de junho, as ruas foram ocupadas por grupos políticos organizados, manipulados por partidos tomados de susto com a espontaneidade das multidões, que mostraram sua indignação sem lideranças e rejeitando bandeiras partidárias. As reivindicações de saúde e educação "padrão FIFA", numa fina ironia, ou de combate à corrupção continuam valendo, e são elas que levarão à escolha do futuro presidente.
Não adianta grupos ligados ao PT, como o Fora do Eixo e seus derivados, e o Movimento Passe Livre, tentarem dominar as ruas partidarizando os protestos, porque não dominarão as mentes da classe média, que saiu das ruas devido à violência dos Black Blocs e de outros grupos de ativistas violentos, mas continua querendo mudanças.
Marina pode ter dificuldades para ser o escoadouro dessa insatisfação se não colocar de pé sua Rede de Sustentabilidade. Qualquer partido político gostaria de tê-la como candidata, mas aí terá que fazer acordos com os tais políticos tradicionais, o que retirará, pelo menos em parte, sua legitimidade.
O PSDB espera se transformar em abrigo natural desse eleitorado descontente e sem partido, por sua estrutura partidária mais forte e pelos acordos que estão sendo costurados por baixo do pano. Aécio faz política à moda antiga para ter condições logísticas de levar sua mensagem de renovação na política mais longe.
Seu mote de choque de gestão tornou-se subitamente uma resposta adequada aos anseios das ruas. Caberá a ele provar durante a campanha, com as experiências em Minas e outros estados governados pelos tucanos, que a boa gestão é condição prévia para serviços de boa qualidade.
Subitamente a multidão nas ruas passou a exigir qualificação dos serviços públicos oferecidos pelos governos, e a boa gestão pública passou a ser um ativo valorizado pelos eleitores. Resta saber se o PSDB conseguirá representar esse papel, que é também o que pretende desempenhar na campanha presidencial Eduardo Campos, se é que será mesmo candidato.
As denúncias de corrupção nas obras do metrô de São Paulo sem dúvida dificultarão essa tarefa. Dilma terá que descontar muitos prejuízos para se colocar novamente como boa gestora depois de quatro anos sem crescimento econômico e derrapadas de diversos calibres na gestão da coisa pública, sendo o trem-bala a mais exemplar, embora menos prejudicial, pois cada atraso da concorrência evita gastos desnecessários.
O problema de Marina será quando ela tiver que abrir a boca para dar suas receitas de boa gestão pública. Pode ser que aí comece a perder eleitores.
Fonte: O Globo
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