terça-feira, 19 de novembro de 2013

Mensalão - Lula, Dilma e PT baixam o tom

A reação do partido e a de seus principais nomes à prisão dos petistas condenados foram comedidas para evitar conflitos com o Supremo

Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro

Apesar da intensa movimentação da militância petista na frente da Papuda e dos próprios gestos de José Genoino e José Dirceu, de se considerarem presos políticos, as reações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff às prisões dos mensaleiros foram comedidas. O próprio PT, que reuniu o Diretório Nacional para discutir a conjuntura política e econômica brasileira, citou o mensalão em um longínquo 12° parágrafo da nota oficial emitida ontem, na qual praticamente repete opiniões expressas em notas anteriores.

Dilma tocou no assunto durante reunião com senadores da base aliada para discutir os projetos em tramitação na Casa que aumentam os gastos públicos. Questionada por integrantes da base sobre o tema, a presidente se limitou a dizer que "os partidos podem se manifestar sobre o caso, mas não o Executivo, sob pena de provocar uma crise institu-cionaT. Segundo relato de parlamentares presentes, ela rechaçou a ideia de alguns senadores de pedir o impeachment do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, por supostas ilegalidades cometidas no processo de prisão e de traslado dos presos. "Não é caso de impeachment" frisou Dilma.

A presidente apenas manifestou preocupação com o estado de saúde do deputado federal José Genoino, ex-presidente do PT. Genoino, que sofre de problemas cardíacos, luta para migrar para a prisão domiciliar. Ele e Dilma compartilham o mesmo médiço. "O estado de saúde de Genoino é dramático", comentou a presidente.

Embora não tenha citado nominalmente o deputado, o ex-presidente Lula também referiu-se aos companheiros de partido presos em Brasília afirmando que os condenados que têm direito ao regime semiaberto devem cumprir as penas nos termos definidos em lei. "Eu estou aguardando que a lei seja cumprida e, quem sabe, eles fiquem em regime semiaberto", disse.

Lula conversou rapidamente com jornalistas ao deixar uma conferência sobre igualdade racial da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo. Ele elogiou a nota divulgada pelo PT, na sexta-feira - um novo documento foi divulgado ontem -, depois que Genoino e Dirceu se entregaram à Polícia Federal em São Paulo. No texto, o presidente do partido, Rui Falcão, considerou que a prisão antes da análise dos embargos infringentes "constitui casuísmo jurídico e fere o princípio da ampla defesa". O ex-presidente voltou a prometer que fará uma manifestação pública sobre o mensalão após a conclusão do julgamento. "Eu "tô" dizendo para vocês, há muito tempo, que vou esperar o julgamento total, que eu tenho muita coisa a comentar e gostaria de falar sobre o assunto."

"Condenável"
O Diretório Nacional do PT passou o dia todo de ontem reunido em São Paulo e em uma longa nota, de quatro páginas, mencionou no 12° parágrafo o julgamento do mensalão, criticando a decisão do STF e o traslado dos presos de São Paulo para Brasília. Para a agremiação, a operação da Polícia Federal pôs em risco a vida do deputado José Genoino. "O mandado de prisão expedido pelo presidente do STF, ao não especificar o regime de cumprimento das penas, além de propiciar um espetáculo indesejado e condenável, desrespeitou direitos dos companheiros e ainda colocou em risco a vida do deputado José Geiloino, cardiopata recém-operado."

Apesar da pressão de setores da esquerda petista, foi descartada a possibilidade de um pedido de impeachment de Joaquim Barbosa. O nome do presidente do STF sequer foi citado na nota. 0 julgamento do mensalão foi incluído no rol das ações feitas pela mídia e pela oposição para atacar o PT. "Condenados sem provas, num processo nitidamente político e influenciado pela mídia conservadora, os companheiros estão sendo vítimas, desde o início, de uma tentativa de linchamento que visa, também, a criminalizar o PT e influir na disputa eleitoral."

Coube à bancada do PT na Câmara, presidida pelo deputado José Guimarães (CE), irmão de Genoino, os ataques mais incisivos a Barbosa. "Manifesto perplexidade e profunda contrariedade com as ilegalidades cometidas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, na condução do caso dos réus da Ação Penal 470. Não se pode atropelar a lei para dar demonstrações de vaidade e buscar os holofotes da mídia, como tem feito o presidente da Suprema Corte", criticou Guimarães.

Fonte: Correio Braziliense

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