• A eCMetrics detecta baixa expectativa com governo Temer
- Valor Econômico
O governo brasileiro estará sujeito a uma convulsão nos próximos dias. Encerrará a semana possivelmente sob nova direção. Na quarta-feira, o Senado votará o parecer que recomenda o impeachment da presidente Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Nesta fase, se aprovado o parecer, Dilma é afastada por até 180 dias - tempo para investigação das denúncias. O afastamento definitivo da presidente da República ou seu retorno ao Palácio do Planalto para cumprir o restante do segundo mandato, que sequer chegou à metade, se dará em uma próxima votação no Senado. Torcidas à parte - a favor e contra o processo -, pesquisas colocam o impeachment no caminho da presidente.
Levantamentos diários publicados pelos maiores jornais do país mostram que há voto no Plenário do Senado para afastar Dilma por até 180 dias. Pesquisa realizada pela aCMetrics com internautas revela que a maioria defende o impeachment. O monitoramento semanal de até 1,2 milhão de posts, colunas e editoriais, feito pela MAP, Mapeamento, Análise e Perspectivas indica que entre o desalento com a economia e o bem-estar e a saturação com a política, os frequentadores de redes sociais preferiram, em abril, debater o "novo" governo.
Na quarta-feira, terá início a sessão no Plenário do Senado para votar a admissibilidade do processo de afastamento de Dilma Rousseff. A sessão deve se estender por 20 horas e terminar na quinta. Se acolhido o pedido, a presidente será notificada e deixará a função a partir de sexta. O virtual sucessor é o vice, o peemedebista Michel Temer.
Uma explosão de euforia no mercado financeiro na quinta, caso se confirme a troca de governo, não está garantida. E por três motivos: os investidores já transferiram para os preços dos ativos a saída de Dilma Rousseff, o início de um novo governo e a indicação de Henrique Meirelles para o comando do Ministério da Fazenda do presidente Michel Temer, aproveitando a deixa da Câmara ao aprovar o processo contra Dilma em meados de abril; segundo, embora a maioria da sociedade apoie o impeachment, uma minoria acredita que o possível governo de Temer será ótimo ou bom; terceiro, os brasileiros gostam da ideia de escolher o próximo governante pelo voto - em nova eleição.
Pesquisa da eCMetrics mostra que a favor do impeachment estão 70% de 1.001 entrevistados entre 18 e 24 de abril. Compõem a amostra internautas de todas as regiões do país para mensurar o nível de envolvimento com a votação do processo na Câmara em meados de abril e a expectativa com um futuro governo Temer. Segundo o instituto de pesquisa especializado no uso de metodologias interativas (online, mídia social e mobile), para apenas 8% dos entrevistados o governo Temer será ótimo ou bom.
Por trás da postura ressabiada dos internautas quanto ao sucesso do novo governo está a quase certeza de que a corrupção continuará sendo um problema para o Brasil. Entre os favoráveis ao afastamento de Dilma, há uma percepção maior que a corrupção ficará igual; entre os contrários ao seu afastamento, há convicção de que a corrupção aumentará, informa a eCMetrics, que identificou também, com entrevistados de todas as classes econômicas, que a vontade da maioria é que ocorram novas eleições para Presidente da República.
Para 21% dos entrevistados nos meios interativos, deve estar no comando do Planalto o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa; para 19%, o posto deve ser ocupado pelo juiz federal Sérgio Moro; 11% citaram Marina Silva como a preferida para o Planalto; 8% apontaram Aécio Neves; 7% o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que empatou com outros 7% que escolheram o deputado carioca do PSC, Jair Bolsonaro, para presidente do Brasil. Dilma Rousseff foi citada por 3% dos entrevistados pela eCMetrics. Michel Temer, por 1%.
A exaustação provocada por tão teimosa discussão sobre decisões e omissões dos últimos presidentes é evidenciada também pelo IP Brasil (Índice de Impacto e Perspectivas Brasil), divulgado com exclusividade pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, às quintas-feiras.
O IP Brasil mede a opinião e o alcance dos frequentadores das redes sociais e colunistas da imprensa e mostra que, em abril, entre o desalento com a economia e a saturação com a política, a sociedade optou pela virada com o novo governo.
No mês passado, portanto, o indicador fechou em 28%, marca distante dos piores momentos observados entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano - quando caiu de 13% positivos para apenas 9% -, mas inferior ao observado em março, quando chegou a 32% no embalo das manifestações em favor do impeachment.
Criado por Marília Stabile, sócia e diretora geral da MAP, Mapeamento, Análise e Perspectivas, em parceria com o economista Heron do Carmo, professor da FEA/USP e membro do conselho consultivo do IBGE, o indicador é resultado da avaliação semanal de até 1,2 milhão de posts, colunas e editoriais com o objetivo de quantificar o poder da informação e como a sociedade avalia a Economia, o Bem-Estar e a Política.
"A comoção do país em torno do processo de impeachment de Dilma Rousseff e a expectativa de um eventual governo Temer é o final de um processo marcado por dois momentos: o desalento com as condições do Bem-Estar e a economia; e a saturação com o impasse político", afirma Marília.
A diretora da MAP pondera que essas variáveis combinadas revelam que há apostas na melhora do ambiente para uma árdua tarefa no emprego, saúde e infraestrutura. Esses temas apresentam continuamente níveis de expectativa de crise. Há uma apreensão com o futuro que a perspectiva de que o Brasil terá um "novo" governo não atenuou.
Em abril, o Bem-Estar respondeu por 20% das manifestações nas redes, a Economia por 13% e a Política por 67%. "A tendência é a economia reassumir o protagonismo, ainda que o foco permaneça no Congresso", acrescenta a diretora da MAP.
A economia deve voltar ao centro das atenções porque haverá uma vigília permanente em torno das decisões que serão tomadas por Temer. O Congresso deve dividir os holofotes porque o 'novo' governo só sairá do lugar com o apoio da maioria parlamentar.
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