• Prefeito do Rio pretende repetir com Temer as parcerias que fez nas gestões do PT: ‘Papel de prefeito é dialogar’
Alfredo Mergulhão - O Estado de S. Paulo
RIO - Um dos mais antigos aliados do governo federal, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), anunciou neste domingo, 8, seu apoio a uma eventual administração do vice-presidente, Michel Temer, no caso de confirmação, pelo Senado, do afastamento da presidente Dilma Rousseff do cargo. “Se há governo, estou a favor”, afirmou, em visita ao Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, em Bangu, na zona oeste da capital fluminense.
Ele sustentou que repetirá com uma eventual administração conduzida por Temer, também peemedebista, as mesmas parcerias firmadas com as administrações do PT. “O prefeito não faz oposição a governo nenhum. Não é papel de prefeito fazer oposição, só de deputado. Existe aquela famosa frase: ‘Se há governo, sou contra’.
Na minha frase é: ‘Se há governo, estou a favor’”, afirmou o prefeito peemedebista.
Paes lembrou que a prefeitura do Rio foi “usada como trincheira de brigas políticas” ao longo da história, o que trouxe prejuízos aos cariocas. “Nosso papel é esse, dialogar. A população não merece sofrer pelas brigas políticas. Isso é jogo do Congresso. Fico distante desse conflitos e busco lidar bem com todos aqueles que estão governando”, afirmou. O prefeito se aproximou do PT no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2007-2010). Foi quando se tornou amigo do presidente a quem se opusera, em seu primeiro mandato, durante a CPI dos Correios, que investigou o mensalão.
As declarações de Paes ontem se deram em meio a um quadro de fragilidade política, ligado às incertezas com os Jogos Olímpicos do Rio, em agosto. Quando se mobilizou para trazer a Olimpíada ao Rio, o prefeito acenou aos cariocas com um legado de obras e melhorias. Também sonhava com o impulso que daria à sua carreira, com possíveis candidaturas ao governo do Rio e até à Presidência da República. A menos de 90 dias do início dos jogos, porém, o peemedebista não sabe como será lembrado pelos eleitores.
Alguns fatos – do pedido da Procuradoria-Geral da República para que seja investigado por suposta fraude na CPI dos Correios, que apurou o escândalo do mensalão, em 2005, à queda de parte da ciclovia Tim Maia, com dois mortos – lançaram incerteza sobre a herança política que deixará. “Acho que (a percepção das pessoas) é sempre o conjunto da obra, né? Vai desde conversa com Lula até as grandes coisas que fiz. Enfim, deixa a história cuidar isso”, afirmou Paes, na sexta-feira, após a inauguração de um complexo de oito escolas para 4.740 alunos em Sepetiba, zona oeste.
No último ano de mandato, tentando maximizar seu legado de obras, o prefeito entregará equipamentos de impacto, como a infraestrutura olímpica e o VLT no centro, além da nova Orla Luiz Paulo Conde, passeio público de 3,5 quilômetros à beira-mar, também no centro.
PGR. Paes também tem tentado se defender do desgaste de ver parte desse legado ruir. O prefeito negou a acusação da PGR, de que teria maquiado dados do Banco Rural para proteger Aécio Neves (PSDB-MG) durante a CPI dos Correios. “Em nenhum momento o senador Aécio me pediu qualquer coisa em relação ao Banco Rural. Ao contrário, basta ver os requerimentos apresentados, todos pressionando o banco. Mais do que isso, ao final do relatório, escrito por mim, a gente indicia todo mundo do Banco Rural, inclusive as pessoas que estão na cadeia até hoje”, disse Paes.
No jogo. Na análise do cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ, o prefeito enfrenta um quadro de dificuldades, mas ainda não pode ser considerado fora da disputa política. “São dificuldades que ele terá de superar, mas ele tem condições de colocar seu candidato no 2º turno.”
Para Ismael, o prefeito ainda pode se beneficiar politicamente de obras que serão inauguradas, do possível sucesso da Olimpíada e de provável espaço em um eventual governo Temer. Outro fator é o desgaste geral dos políticos, inclusive concorrentes nas eleições deste ano. “Esta será uma eleição nacionalizada. Enquanto possíveis candidatos, como Alessandro Molon (Rede), foram contra o impeachment, Paes se descolou da presidente Dilma e se reposicionou, recuperando espaço que vinha perdendo em seu eleitorado na zona sul.”/ Colaborou Wilson Tosta
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