domingo, 14 de agosto de 2016

Aposta em voo solo

• Por motivos diversos, PMDB e PT terão mais candidatos próprios nas capitais do que em 2012

Sérgio Roxo e Silvia Amorim - O Globo

-SÃO PAULO- O PMDB tenta aproveitar o impulso da chegada ao poder com o presidente interino, Michel Temer, para ampliar sua força nas maiores cidades do país nas eleições deste ano. Por isso, aumentará em um terço o número de candidatos a prefeito em capitais, em comparação com a disputa de 2012. Será a maior representação desde 1996.

O PT é o partido que disputará eleição em mais capitais, mas o que o move é outro objetivo. A legenda lançou nomes, mesmo com poucas chances de vitória, para garantir espaço no horário eleitoral e defender suas bandeiras, forma de amenizar o desgaste sofrido nos últimos anos com os escândalos de corrupção.

Entre as três maiores forças políticas no país atualmente, o PSDB é o único que reduzirá as campanhas em capitais. Após o resultado conquistado na eleição presidencial de 2014, o partido pretendia aproveitar o sentimento antipetista para ampliar suas fronteiras na eleição municipal. No entanto, não conseguiu viabilizar nomes competitivos e preferiu ser vice de candidatos de outras siglas em muitas cidades.

Sinal do apetite peemedebista, o partido entrará em campo nesta semana — a campanha eleitoral começa terça-feira — com mais postulantes a prefeito do que o PSDB em capitais. Serão 16, enquanto o PSDB terá 13 e o PT, 19. Em 2012, eram 12, 18 e 17, respectivamente.

Os partidos têm até amanhã para apresentar o registro de seus candidatos à Justiça Eleitoral. Podem ocorrer mudanças de última hora, apesar de o prazo para a realização de convenções já ter sido encerrado.

As eleições municipais são consideradas estratégicas para a disputa presidencial, na medipelas da em que têm potencial para ampliar as bases partidárias nos estados. Quanto maior a pretensão de um partido de lançar candidato à Presidência da República, mais valorizado o trabalho na disputa municipal.

Temer tem negado que disputará a reeleição, se confirmado o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff. Ele tem um entrave jurídico, por ter sido incluído no cadastro de inelegíveis pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo. Também há um obstáculo político: o acordo de não tentar se reeleger, fechado com o PSDB, em troca do apoio tucano ao seu governo. Mas a cúpula do PMDB, após a chegada à Presidência, não vê a eleição de 2018 sem um candidato do partido na disputa.

— A chegada ao poder através do Michel Temer estimula candidaturas porque tira o discurso do PT de que é importante o alinhamento com o poder central. Se é que existe isso, esse discurso agora é nosso — afirmou o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Geddel Vieira Lima.

O PMDB que, nos últimos anos foi uma força auxiliar no plano nacional, manteve seu poderio nas pequenas cidades; agora investe em candidaturas fortes em grandes capitais.

— Temos candidatos competitivos no Rio, em São Paulo, em Vitória. Isso para falar só do Sudeste — disse Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães e secretário do Programa de Participação de Parcerias do governo federal.

Para o cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV, o afastamento de Dilma deu força ao projeto que o PMDB vinha preparando desde o início do segundo mandato da petista.

— Há uma sensação de que o PMDB tem um desejo de ocupar o centro do palco político. Estão apostando muito que as eleições nas capitais podem ser uma demonstração de que o partido já tem condições de ser o protagonista da eleição presidencial em 2018. É um projeto de poder — disse Abrucio.

Outra consequência do desgaste do PT para esta eleição é a dificuldade de fechar apoios. Em Fortaleza e João Pessoa, os candidatos petistas farão campanha sem aliados. O secretário nacional de Organização do partido, Florisvaldo Souza, diz que a pulverização de candidatos é um fenômeno nacional este ano.

— Há uma tendência de mais candidaturas próprias de todos os partidos em função da conjuntura política.

Para Abrucio, a expansão de candidatos do PT é uma tentativa de renovação interna.

— Mais importante do que ganhar, o que parece pouco provável para o PT, é começar um processo de reconstrução, que pode durar alguns anos — avaliou o cientista político.

Já o comportamento do PSDB, para Abrucio, é resultado de conflitos internos entre lideranças:

— O PSDB não consegue se articular internamente. É um clima muito ruim. O desafio do PSDB é, de um lado, unificar-se e, de outro, ter uma cara própria.

O secretário nacional do PSDB, deputado Silvio Torres, explicou que o partido preferiu investir em candidatos com chance de vitória.

— Onde não tivemos nomes fortes, decidimos coligações. Teremos candidatos a vice em mais de sete capitais — afirmou.

Em São Luís, onde tiveram candidato em 2012, os tucanos indicaram este ano o vice na chapa do PPS, um aliado em potencial para a eleição de 2018. Em Curitiba, o partido apoiará um candidato do PMN.

Tucanos voltam a disputar em BH
A novidade no mapa das candidaturas tucanas este ano é Belo Horizonte. Lá, o partido rompeu um jejum de 16 anos sem candidato à prefeitura. A mudança atende a uma necessidade do presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, précandidato à Presidência em 2018, de usar a eleição para defender seu legado no estado, ameaçado por denúncias de envolvimento em esquemas de corrupção de empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato.

Quarto partido com o maior número de deputados federais eleitos em 2014, o PP terá seis candidatos a prefeitos em capitais, contra cinco de 2012. O destaque é o retorno da ex-prefeita Angela Amin para a sucessão em Florianópolis. Ela administrou a cidade entre 1997 e 2004. A quinta maior legenda, o PSD, não forneceu informações sobre as suas candidaturas. Já o PSB, sexto maior, manterá em 11 o total de representantes nas disputas em capitais, apesar da morte de seu principal líder, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, num acidente de avião em 2014. O partido havia conseguido eleger o maior número de prefeitos de capitais há quatros anos: cinco (Fortaleza, Belo Horizonte, Recife, Cuiabá e Porto Velho).

O PT vai disputar a reeleição em duas capitais (São Paulo e Rio Branco). Os tucanos tentarão um segundo mandato em Manaus, Maceió, Teresina e Belém. Já o PMDB vai para a reeleição em apenas uma cidade, Boa Vista.


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