• Aliados no governo Temer, os dois partidos já miram a sucessão presidencial em 2018
Maria Lima e Simone Iglesias - O Globo
-BRASÍLIA- Ponte para a corrida presidencial, a eleição municipal deste ano está gerando turbulências na relação entre PMDB e PSDB, ambos de olho em 2018. Os dois partidos são adversários em 11 capitais, e a disputa ocorre em clima de desconfiança. Com três pré-candidatos à Presidência da República — Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin —, o PSDB vê no partido do presidente interino, Michel Temer, uma máquina eleitoral com o objetivo de impulsioná-lo à reeleição.
Apesar dos peemedebistas reiterarem que Temer está fora de 2018, os tucanos não estão convencidos disso e ainda temem uma possível candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, filiado ao PSD.
Será uma relação delicada nos próximos dois anos, já que PSDB e PMDB estão jogando todas as fichas nas eleições municipais de outubro para se cacifarem para a grande disputa pelo espólio do combalido PT em 2018.
No mapa das candidaturas nas 26 capitais, PSDB e PMDB são mais adversários do que aliados. Das 13 capitais onde os tucanos têm candidatos a prefeito, em dez o PMDB está no campo adversário: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, São Paulo, Belém, Maceió, Campo Grande, Cuiabá e Porto Velho.
Um dos raros exemplos de parceria é em João Pessoa, onde os dois apoiam a candidatura à reeleição do prefeito Luciano Cartaxo (PSD). Mas são adversários no segundo maior colégio eleitoral da Paraíba, Campina Grande, base do líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima. O tucano diz esperar que o PMDB não use o peso da máquina federal para derrotar as candidaturas do PSDB.
—É o lógico. Do contrário, terá repercussão negativa. Além do mais, o uso da máquina é crime — alerta Cunha Lima.
A contabilidade muda nas cidades grandes — fora as capitais — e de médio porte. Nesses redutos, os tucanos foram os maiores beneficiados com o rompimento entre PMDB e PT. As alianças de outrora entre petistas e peemedebistas, impulsionadas pelos governos Lula e Dilma, desintegraram. E PMDB e PSDB retomaram antigas parcerias.
Paralelamente às disputas municipais, os tucanos nutrem desconfiança em relação ao uso da máquina federal para alavancar uma candidatura do PMDB em 2018. Os tucanos estão irritados com a movimentação do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Dizem que ele atua pesadamente para tirar partidos das coligações do PSDB nas capitais, principalmente em Porto Alegre.
— Padilha está atuando direto, por debaixo dos panos, em desfavor do PSDB. Está tirando partidos das nossas coligações. Articulou pesado em umas quatro capitais, principalmente em Porto Alegre. Padilha é gato, ele tira a castanha sem se queimar na fogueira — reclama um dos dirigentes tucanos.
O ministro nega envolvimento nas campanhas municipais. Diz que não houve qualquer tentativa de impedir a candidatura tucana em Porto Alegre, tanto que o deputado Marchezan Júnior está na disputa.
— A determinação do presidente Michel Temer está sendo seguida à risca por mim. E ela é no sentido de que onde houver disputa entre candidatos de partidos que integram a base do governo, não haja nenhuma participação — disse Padilha.
O ministro citou uma mensagem que enviou a todos os demais ministros, em um grupo privado no WhatsApp: “O governo não pode tomar partido nas disputas entre as legendas que formam sua base congressual”.
Padilha reafirmou que a candidatura de Temer em 2018 está fora de cogitação, posição reforçada pelo ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo):
— Temer já disse que não é candidato, e eu estou dizendo que ele não será candidato. Para nós do PMDB, o mais importante é a nossa palavra.
O secretário-geral do PSDB, deputado Sílvio Torres (SP), chama a atenção para a ação do presidente Temer de não deixar que a disputa municipal contamine sua base de apoio no Congresso:
— Desde que o PSDB se dispôs a ajudar o governo do PMDB, Temer deixou claro que não só ele, como membros do governo, não se envolveriam na disputa municipal. Estamos contando com isso.
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