Manifestação contra reformas afeta as grandes cidades e termina em violência
Greve começou na madrugada desta sexta e, com adesão de trabalhadores do setor de transporte, ruas das principais cidades ficaram vazias durante boa parte do dia; os protestos que começaram no final da tarde tiveram tumulto e confrontos com a polícia
- O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - A greve geral convocada para a sexta-feira pelas centrais sindicais, para protestar principalmente contra os projetos de reforma trabalhista e da Previdência, afetou a rotina de cidades em todos os Estados. Com a adesão dos trabalhadores do setor de transportes, as ruas, principalmente das grandes cidades, ficaram vazias. Em São Paulo, os índices de congestionamento ficaram bem abaixo da média.
As avaliações sobre o movimento eram divergentes. Mas, para boa parte dos analistas, o impacto na aprovação das reformas em tramitação no Congresso não deve ser muito forte. Para a consultoria Eurasia, que prevê que tanto a reforma trabalhista quanto a previdenciária sejam aprovadas até julho, as manifestações foram menores do que o esperado. A avaliação é que novos protestos poderão ocorrer nas próximas semanas, mas não devem paralisar o Congresso.
O governo fez questão de afirmar, desde o início do dia, que a greve tinha adesão menor do que a esperada. A avaliação era de que as manifestações ficaram concentradas nos grandes centros urbanos. As centrais sindicais, porém, asseguram que essa foi a maior greve já registrada no País.
No mercado financeiro, as manifestações não provocaram reações negativas. A percepção dos analistas foi de que a greve não foi suficiente para abalar o andamento das reformas. O dólar fechou o dia em queda de 0,1%, cotado a R$ 3,1787, após subir mais de 1% no início do dia. A Bovespa, por sua vez, fechou em alta de 1,12%, aos 65.403 pontos.
“Havia uma certa preocupação com o tipo de repercussão que (a greve) poderia ter, que se diluiu durante o dia. A paralisação praticamente se resumiu à mobilidade urbana”, disse o estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno.
O cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Cláudio Couto, porém, considera que a greve foi bem-sucedida. Para ele, o movimento tem potencial de influenciar a votação das reformas encaminhadas pelo governo ao Congresso, embora seja difícil fazer um prognóstico sobre qual será esse impacto. “A paralisação foi grande, principalmente no transporte público, que causa um efeito em cadeia, e na área de educação, que tem efeito na percepção das famílias”, avalia o especialista.
O comércio fez cálculos de uma grande perda com a paralisação. Segundo a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o faturamento diário do setor no País chega a R$ 5 bilhões, e uma greve geral tem potencial de causar um forte rombo. E, levando-se em conta o feriado de 1.º de maio, quando boa parte das lojas estará fechada, esse prejuízo potencial fica bem maior.
O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, afirmou que a realização de uma greve geral neste momento de recessão só atrapalha. “Os sindicalistas estão se esquecendo que estão em um País onde 14 milhões de pessoas estão desempregadas”, disse, em entrevista ao Broadcast.
A GREVE PELO BRASIL
As paralisações deixaram milhões de pessoas sem transporte público e transformaram parte das capitais do País em "cidades fantasma".