A campanha presidencial começa formalmente em 16 de agosto, mas a encenação prévia dos candidatos a candidato ao lugar mais alto do pódio não deixa margem para otimismo. Muito se falou, antes de 2018, em renovação da política e na mudança dos (maus) costumes políticos. O que se viu até agora, no entanto, foi um festival de meias verdades e de desrespeito à legislação vigente que não autorizam a presunção de uma campanha transparente, centrada no interesse público, diferente de jornadas eleitorais anteriores. O pior da política está em exibição.
A precipitação de campanhas não constitui propriamente uma novidade, o que ocorre nos dias de hoje é marcado por uma particularidade: a falta de competitividade dos candidatos a representar o centro político, o que inevitavelmente levou à consideração de nomes que, em condições normais de pressão e temperatura, nem sequer seriam lembrados para a disputa. São candidatos de si mesmos, na falta do chamado candidato natural.
A incerteza se dá também à esquerda, onde o debate está bloqueado pela candidatura virtualmente insustentável, por motivos legais, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2002-2010).
Lula é destaque no festival de horrores. A cruzada do ex-presidente pode muito bem ser considerada uma apologia ao descumprimento das leis do país. Na iminência de sofrer uma condenação de segunda instância, que o tornará inelegível, Lula e o PT já decretaram que uma eleição sem o cacique petista não vale. É ilegítima.
Em resumo, a Lei da Ficha limpa até agora serviu para todos os políticos candidatos a um cargo eletivo, mas aparentemente não vale para Lula, um brasileiro que se julga acima de qualquer suspeita.
A desfaçatez é tanta que o PT se julgou no direito de acionar o apresentador de TV Luciano Huck, que nem candidato é, por campanha eleitoral antecipada. No entanto, Lula, desde o ano passado, percorre o país em caravanas sob o olhar pusilânime da Justiça Eleitoral - e não faz só campanha eleitoral antecipada, faz também uma campanha de descrédito da Justiça, a qual acusa de perseguição política. A lei, do ponto de vista do PT e suas atitudes o comprovam, é uma para Lula e outra para todos demais, seja Michel Temer ou um anônimo apanhado nas malhas da Justiça.
Sem nunca ter sido político, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, repete vícios antigos que em outras épocas poderiam ser atribuídos à sagacidade e esperteza dos políticos e que hoje não são mais admissíveis. O que se exige de um candidato é clareza, transparência. Meirelles, no entanto, parece convencido de que as pessoas acreditam quando ele diz que não é candidato, é apenas presidenciável. A diferença, segundo o ministro da Fazenda, é a mesma de ministeriável para ministro - ele mesmo foi considerado ministeriável no governo Dilma Rousseff sem nunca ter assumido o cargo. O ministro poderia ao menos respeitar a inteligência do eleitor a quem pede o voto.
Na mesma situação se encontra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que em menos de um mês já disse que a chance de ser candidato era "zero", depois agradeceu a lembrança de seu nome para a Presidência, mas "eu já disse a todos que sou candidato a deputado federal" e por fim, no último dia 9, afirmou que não via "problema em discutir o assunto [sua candidatura ao Palácio do Planalto]". As críticas que Rodrigo faz à politicagem do ministro Henrique Meirelles ganhariam um pouco mais de credibilidade se o presidente da Câmara fosse mais claro e transparente sobre suas intenções.
No momento em que sustenta o segundo lugar nas pesquisas, o deputado Jair Bolsonaro (ninguém sabe ainda de que partido-RJ) deve sim explicação sobre o uso que faz de sua verba de gabinete (é dinheiro público), sobretudo se é acusado de manter um funcionário fantasma no Rio de Janeiro. Culpar a imprensa é mais antigo que andar pra frente, assim como é coisa da velha política esquivar-se de um problema culpando um inimigo genérico, sem identificar precisamente a quem atribui responsabilidades. Nesse aspecto, o segundo nas pesquisas não difere muito do primeiro.
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