segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Queda de Marina gera reação e crítica interna

Por Daniela Chiaretti | Valor Econômico

SÃO PAULO - A 20 dias do primeiro turno das eleições, a candidatura de Marina Silva vive dois movimentos. A forte queda identificada nas últimas pesquisas de intenção de voto agravou críticas de pessoas próximas à ex-senadora sobre a estratégia adotada pela campanha. O momento delicado, contudo, também despertou intensa reação da militância nas redes sociais. O alerta fez a campanha se reprogramar para buscar reverter a queda.

"Temos uma candidatura ainda competitiva. Estamos a três semanas da eleição e estamos no páreo", disse ao Valor Lourenço Bustani, que divide a coordenação da campanha de Marina Silva com Andrea Gouvêa. "As últimas pesquisas, claro, mostram uma tendência, mas esta é a eleição mais incerta deste país. Podemos mexer no tabuleiro".

A "mexida no tabuleiro" começou no sábado. Militantes circularam novos vídeos nas redes sociais e promoveram "tuitaços" com a hashtag #ElaSim, identificando Marina, e em sintonia com o movimento de mulheres contra o candidato Jair Bolsonaro, expresso pela hashtag #EleNão. A disputa pelo eleitorado feminino, que responde por 52% do total, deu resultado virtual: por várias horas Marina esteve entre os assuntos mais comentados do Twitter.

A outra meta é colocar a candidatura como "opção real de voto útil à nova polarização entre o PT e Bolsonaro", diz um colaborador. Na leitura do núcleo da campanha de Marina, hoje este espaço estaria sendo ocupado por Ciro Gomes, do PDT, e Geraldo Alckmin, do PSDB.

Neste esforço está saindo uma nova fornada de 13 vídeos com Marina e sem ela, feitos por cineastas e documentaristas como Fernando Meirelles e Tadeu Jungle ao lado de uma rede de outros voluntários.

"A campanha começa a mostrar os seus ativos", diz a fonte. Um dos vídeos lembra que o médico Eduardo Jorge, na chapa como vice-presidente, foi um dos criadores do Sistema Único de Saúde (SUS) e co-autor da lei dos remédios genéricos. Diz que um dos criadores do Bolsa Família, o economista Ricardo Paes de Barros, e um dos nomes do Plano Real, Andre Lara Resende, têm em comum o fato de fazer parte da equipe de Marina Silva. "Governar com os melhores. Isso já começou", diz o slogan.

"Somos uma campanha que tem que fazer muito barulho com poucos recursos. Temos que nos diferenciar do emaranhado de conteúdo que está saturando os canais de TV e as redes sociais", segue Bustani, rebatendo as críticas da comunicação da campanha.

Um dos vídeos mais controversos exibidos recentemente mostra Marina gastando quase todos os 20 segundos de seu tempo empurrando um banquinho, sentando nele e respondendo "Não" à pergunta se ela é corrupta. "Quando o vi, confesso, quase enfartei", diz Pedro Ivo Batista, porta-voz do Rede e coordenador político da campanha. "Mas eu sou de outra geração. Depois entendi seu impacto"
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O vídeo, diz Bustani, "viralizou". Foram quase 3 milhões de visualizações com um investimento de R$ 300. "Vemos com bons olhos quando a campanha está na boca do povo. Isso significa que estamos na pauta, o que, ao nosso ver, é positivo para uma campanha que não tem os mesmos megafones que outras."

Até agora, contudo, Marina perdeu metade de seu eleitorado em 20 dias, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto. O desânimo abateu muitos "marineiros" na sexta-feira à noite, depois da divulgação do último Datafolha.

Diagnósticos de colaboradores do Rede enxergam fatores externos e internos explicando a queda de Marina. A entrada na disputa de Fernando Haddad, do PT, criou uma situação de maior clareza para parte do eleitorado. "Tem gente que achava que o candidato de Lula era a Marina", sugere um analista. "Marina tem grande penetração em setores de baixa renda, que são meio cativos do PT." A outra vertente externa seria a estratégia bem montada de Ciro Gomes, do PDT, que, no entender dos "marineiros" ganhou espaço com promessas demagógicas, mas com linguagem clara.

Outra farpa à campanha de Marina, de pessoas do círculo da ex-senadora, seria a maneira de conquistar os eleitores que estão descontentes com a política atual. Nos vídeos, Marina repete o bordão "Não dá mais". "O eleitor quer mudança, mas com proposta. Mas a campanha está focada na negação e isto é um equívoco. Tem que se fazer uma campanha que mostre que dá para mudar", diz um deles. "A linha adotada é contraditória com a postura de Marina, que é propositiva. Perdemos muito tempo com isso".

"O posicionamento de Marina é muito ambíguo. Ela é a favor ou contra o aborto? Joga a decisão para a sociedade ao falar em plebiscito, mas fica-se sem saber o que ela pensa", diz uma analista. "Existe também o pensamento mágico, a crença de que o carisma dela é suficiente. Eleição não funciona assim".

A logística da campanha de Marina também foi revista. Com poucos recursos e pouca capilaridade nos Estados, sua agenda irá buscar o equilíbrio entre visitas a capitais do Norte, Nordeste e do Sudeste. "Em uma eleição disputada como essa não podemos colocar o alvo em uma única região, temos que correr o país todo", diz Pedro Ivo. "O jogo não está encerrado. É recuperável o que perdemos".

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