- O Globo
As ameaças ao youtuber Felipe Neto não são caso isolado. As milícias virtuais agem diariamente contra pesquisadores, jornalistas, políticos e artistas que ousam contestar o poder
O youtuber Felipe Neto falaria hoje no Educação 360, o seminário que acontece na Cidade das Artes. Ontem ele cancelou a palestra por razões desegurança. Em comunicado, relatou “ameaças que atentam contra a sua vida e de sua família”.
Felipe pilota um canal de vídeos com 34 milhões de seguidores. Virou empresário bem sucedido e ídolo do público infanto-juvenil. Nos últimos tempos, ele reduziu o besteirol em favor das mensagens educativas. Também conquistou desafetos ao se insurgir contra os discursos de ódio e a homofobia.
Há dez dias, o youtuber peitou o prefeito Marcelo Crivella, que tentava ressuscitar a censura na Bienal do Livro. Em reação ao bispo, comprou e distribuiu gratuitamente 14 mil volumes com temática LGBT. Marquetagem à parte, a ação enfureceu as milícias virtuais. Felipe virou alvo de uma campanha difamatória, impulsionada por robôs e liderada por blogueiros governistas e deputados do PSL.
“É estarrecedor que no Brasil, em 2019, um indivíduo seja impossibilitado de se manifestar e lutar contra qualquer tipo de censura e opressão sem ser ameaçado”, ele escreveu ontem. Não se trata de um caso isolado. A mesma fórmula tem sido usada para silenciar pesquisadores, jornalistas, políticos e artistas que ousam contestar o poder.
Todo governo lida mal com críticas. Os últimos três presidentes também viveram às turras com a imprensa. No entanto, nenhum deles mostrou tanto empenho quanto o atual para sufocar o contraditório e calar as vozes divergentes.
Há método por trás da política da intimidação. Em vídeo divulgado no domingo, o ideólogo Olavo de Carvalho incitou governo e militância bolsonarista a se unirem contra quem ele vê como inimigos.
“É contra essa gente que o presidente tem que se voltar. Não na base do xingamento, que não adianta nada. Tem que agir contra essas pessoas. Mas ele só pode fazer isso se tiver apoio de uma militância organizada”, receitou o autoproclamado filósofo.
Só faltou explicar o que ele entende por “agir”.
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