“Em 2018, o centro foi visto como fisiológico e acabou pulverizado em candidaturas pequenas. Em um momento como o atual, este centro não pode simplesmente ser um meio-termo entre direita e esquerda. É preciso firmar uma tese original e, mais do que isso, ter expressão política.
Diante de dois atores com personalidade tão forte como Bolsonaro e Lula, o centro também precisa de alguém que seja contundente, o que não significa sair xingando todo mundo. É preciso um rosto que deixe muito claro a que veio. Apenas abraçar uma agenda reformista não transformará um candidato em um nome de centro.
Além do lado programático, é uma questão de forma também: se apresentar como alguém que não é populista, que respeita a Constituição, que não opera com maniqueísmos do tipo “nós contra eles”. Se o tal do centro não assumir o que ele é, nem disser o que não aceita de jeito nenhum, não vai se colocar como alternativa.
O antibolsonarismo e o antipetismo são maiores, hoje, do que o PT e o Bolsonaro. Quem disse que não é possível, para um candidato que se apresenta como centro, que consiga votos nos terços do eleitorado mais fiéis a Lula e a Bolsonaro? No entanto, sem uma crítica muito clara a ambos e sem um rosto que sirva de referência, o centro ficará esmagado entre os dois lados.
Uma estratégia para atrair segmento dos eleitores moderados é evitar radicalização do discurso”
*Carlos Melo, cientista político, O Globo, 17/11/2019
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