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Política não existe sem economia e vice-versa
Política não anda sem economia e vice-versa. Juntas levam ao Olimpo ou despacham governos para o inferno, quintos que o Brasil habita há anos.
Apesar das promessas de bonança, os sucessores dos trágicos anos Dilma Rousseff mal conseguiram puxar o país de volta ao purgatório. Dados oficiais apontam crescimento entre 0,85% e 0,90% para 2019, menos da metade do prometido pelo governo Jair Bolsonaro, que deve terminar o ano atrás de seu antecessor Michel Temer.
Temer herdou o país no auge da depressão provocada pelo petismo, com índices negativos sucessivos de 3,8% e 3,6%. Saiu do vermelho, colheu crescimento de 1% em 2017 e entregou a batuta ao novo chefe do governo com PIB positivo de 1,1%. Nem isso Bolsonaro conseguirá.
Como falta competência ao governo para colocar em prática uma agenda séria contra a persistência do marasmo, muito menos divindade capaz de mudar os números bem abaixo da expectativa criada, o presidente recorre aos falsos milagres. Os conhecidíssimos ou os mais exóticos.
Entre métodos antigos e experimentados – diga-se, sem sucesso -, estão a desoneração da folha de pagamentos sob o pretexto de criar empregos e o tabelamento de juros. Ambos tão danosos quanto as intervenções feitas por Dilma quando ela se viu no desespero da popularidade em queda.
Lançada com fogos de artifícios, a mexida em encargos trabalhistas é a alma do Programa Verde-Amarelo, Medida Provisória de nome pomposo e constitucionalidade duvidosa já questionada pelo Senado. De caráter ainda mais populista, o tabelamento dos juros do cheque especial até parece um ovo de Colombo. Só não fica de pé. Estimula o mal uso do crédito emergencial e fermenta o lucro escorchante dos bancos, autorizados a cobrar novas taxas de seus correntistas.
Paralelamente, Bolsonaro se utiliza de uma agenda dispersiva, por vezes excêntrica, para mudar o foco sobre a incapacidade de seu governo. E, pior, rouba energia do que realmente importa.
Os expedientes mais bizarros incluem um rol de falas sem pé nem cabeça e atos de natureza discutível. De Bolsonaro e de auxiliares fundamentalistas. Reside aqui, por exemplo, o projeto do Canal 100 para que alunos denunciem a conduta ideológica de professores na sala de aula.
Acusar o ator Leonardo DiCaprio de “dar dinheiro para tacar fogo na Amazônia”, defender exportação de madeira protegida in natura ou garimpo em terras indígenas fazem parte desse esforço sempre bem sucedido de ocupar a mídia com os impropérios ditos e, assim, arregimentar os seus.
Na outra ponta, Bolsonaro trata a ferro e fogo a imprensa, na maior parte das vezes indesejada. Baniu a assinatura do jornal Folha de S.Paulo das hostes governistas, o que atenta contra a lei de licitações, e estimulou o boicote aos produtos anunciados pelo jornal desafeto. Sem a oficialização pretendida pelo PT e rechaçada publicamente, faz o controle da mídia – por tergiversação, a partir de falas absurdas (a maior parte deletérias), e por asfixia.
No Congresso, projetos como o fim da obrigatoriedade da cadeirinha para crianças no carro concorrem com o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, desdenhado pelo capitão. Para o Legislativo o governo enviou propostas como a da autonomia do Banco Central, de privatização da Eletrobrás e da quebra do monopólio da Casa da Moeda. Por elas, liberais demais, Bolsonaro não mexe um único dedo.
Na alma do presidente moram outros demônios. Daí a invenção da urgência para conferir à polícia autorização para matar, para ampliar o porte e posse de armas e para que a União, por meio de forças especiais, possa atuar em reintegrações de posse no campo. Nada capaz de alterar um milímetro na necessária agenda de desenvolvimento do país, para a qual, ao que parece, o presidente se lixa.
É fato que desde a campanha Bolsonaro demonstrou desconhecimento e delegou a economia a Paulo Guedes. Ao presidente caberia a política.
Mas política não existe sem economia e vice-versa. Não à toa tem-se o caos quando, sem resultados positivos entre os números, o Posto Ipiranga abraça a política ao citar o famigerado AI-5. Resta saber quem não entende de quê. Se ambos não entendem nada ou apenas se fazem de desentendidos. Até porque ninguém é santo.
*Mary Zaidan é jornalista
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