Mesmos fatores que impediram queda acentuada da desocupação agora devem
agir em sentido contrário
A situação só não foi pior graças aos estímulos do governo. A Medida Provisória 936/2020, por exemplo, permitiu por quatro meses redução de salários a partir de 25% com cláusula de seis meses de estabilidade no período, o que evitou maior aumento do desemprego. A reclusão imposta pela política de controle da pandemia manteve muita gente em casa e, portanto, incapacitada de procurar emprego.
O auxílio emergencial, lançado em abril, contribuiu para que muitos adiassem a procura do que fazer.
Os mesmos fatores que impediram a queda mais acentuada da
desocupação devem agora agir em sentido contrário. A força da MP, agora
convertida em lei com vigência até dezembro, começa a se esgotar; os auxílios
emergenciais chegaram ao limite da capacidade fiscal do governo. As pessoas
estão se cansando da reclusão e vêm se aventurando em busca de uma ocupação
qualquer, apesar do recorde de infectados e da marca de quase 100 mil mortes
pelo novo coronavírus no País. Isso sugere que a desocupação deverá aumentar no
segundo semestre, mesmo com certo aumento da atividade econômica.
O setor de serviços continua desempregando. O comércio varejista,
por exemplo, verificou que o fraco movimento quase não justifica a abertura de
lojas e, portanto, pressiona por mais dispensas de pessoal. Se antes da
pandemia o empresário ainda não estava convencido de que devesse apelar para a
automação e para os aplicativos, altamente poupadores de mão de obra, agora
entendeu que esse caminho, além de promissor, é irreversível.
A perspectiva de maior deterioração do mercado de trabalho sugere
que a demanda por mercadorias e serviços também seguirá frouxa. É fator que
aponta para mais lenta recuperação da economia e para a continuação de uma
política de dinheiro farto, ou de juros persistentemente baixos.
O comunicado da reunião do Copom da
quarta-feira mostrou que o Banco Central gostaria de admitir
o fim do ciclo de baixa dos juros. Mas a demanda fraca, a grande capacidade
ociosa das empresas e a perspectiva de novas quedas da inflação o obrigaram a
deixar aberta a possibilidade de novo corte dos juros. As próximas semanas
darão ideia melhor do que virá.
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