Poder público brasileiro ainda está devendo um planejamento mais integrado para mitigar o impacto da crise sobre os jovens
A pandemia, por definição, impacta todos os países e todas as pessoas. Mas ela exige políticas especiais para os grupos de risco. Tal como os idosos são mais vulneráveis do ponto de vista sanitário, do ponto de vista econômico os mais ameaçados são os jovens. “O impacto sobre os jovens é sistemático, profundo e desproporcional”, alerta um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que mensura os efeitos da crise sobre os empregos, educação, saúde mental, direitos e ativismo social daquela que está sendo chamada de “geração lockdown”. O impacto “foi particularmente duro para as jovens mulheres, os jovens mais novos e a juventude nos países de baixa renda”.
Um em seis jovens (entre 18 e 29 anos) relata ter sido obrigado a interromper o trabalho. A interrupção foi mais frequente entre os mais novos, assim como aqueles ocupados em serviços, escritórios e vendas. Os jovens relatam uma perda média de 23% nas horas de trabalho e 42% na renda. As reduções foram mais frequentes e severas em países pobres.
Esse cenário demanda medidas especiais para proteger as perspectivas de trabalho da juventude, como políticas macroeconômicas (fiscais e monetárias) que orientem gastos públicos para subsídios para os empregadores ou garantias para os jovens, assim como investimentos em setores econômicos com potencial de absorver os jovens desempregados. É também essencial, segundo a OIT, “encorajar o diálogo social para impulsionar o acesso dos jovens trabalhadores às medidas de auxílio às empresas e à renda, promovendo ao mesmo tempo os seus direitos trabalhistas e oportunidades para a formação no trabalho”.
Cerca de 70% dos jovens foram negativamente afetados pelo fechamento de escolas, universidades e centros de formação. Para um em oito, a interrupção foi total, privando-o por completo de cursos, aulas ou testes. Para piorar, a transição para o ensino remoto exacerbou as desigualdades digitais, especialmente nos países de baixa renda.
Isso cria o risco de uma fratura traumática e indelével na transição da escola para o emprego. Para mitigá-la, é importante fomentar o acesso a oportunidades alternativas de aprendizagem. A adaptação das instituições de ensino à transmissão digital de conteúdos precisa ser correspondida por um esforço programático de ofertas públicas de conectividade para os jovens mais pobres. Os governos também precisam dar especial atenção aos programas de formação técnica e profissional.
As incertezas no mercado de trabalho resultantes das transformações tecnológicas foram potencializadas pela pandemia. Assim, o aprimoramento e a modernização dos programas de orientação e aconselhamento vocacional podem ajudar muitos jovens a planejar com eficácia sua inserção ou reintegração ao mundo do trabalho.
As incertezas sobre o futuro também provocaram desgastes expressivos no bem-estar mental dos jovens. Apesar disso, eles estão dispostos a cooperar com o poder público e a sociedade civil para “reconstruir melhor” o mundo. Embora sejam menos afetados pelo patógeno, a maioria é favorável às medidas de confinamento para salvar vidas. Eles também advogam medidas robustas para proteger a saúde e a renda dos segmentos sociais mais vulneráveis, incluindo imigrantes e trabalhadores informais. Mais de um em quatro jovens relatou envolvimento ativo em algum tipo de voluntariado ou em doações para as respostas à covid-19. Com efeito, a participação dos jovens em ações sociais cresceu durante a pandemia.
O poder público brasileiro, nos três níveis de administração, ainda está devendo um planejamento mais integrado para mitigar o impacto da crise sobre os jovens e aproveitar as suas potencialidades. Como lembrou a própria OIT em relatório recente, a taxa de desemprego entre os jovens brasileiros é o dobro da média global, e um em quatro não está nem em escolas, nem em programas de formação, nem tem emprego. Políticas públicas consistentes para assegurar o futuro desta geração constituem, além de uma obrigação moral, um imperativo econômico.
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