O Estado de S. Paulo.
Candidatos à Presidência precisam
esclarecer como vão montar e gerenciar coalizões
Um dos problemas cruciais em qualquer
sistema político é como gerar governabilidade para que um governo eleito tenha
condições de implementar sua plataforma. Se tiver maioria no Legislativo, essa
tarefa é facilitada. Mas, em sistemas multipartidários, chefes do Executivo
necessitam governar por meio de coalizão por não desfrutarem de maioria.
A forma como se gerencia a coalizão impacta
decisivamente na performance do governo.
Não sabemos ainda como alguns candidatos à Presidência pretendem lidar com tais restrições, mas já sabemos que os modelos e estratégias de gerência implementados tanto pelo petismo como pelo bolsonarismo fracassaram.
Lula confundiu coalizão com negociações
espúrias e trocas ilegais com parceiros. Essa foi a alternativa por ele
encontrada, na medida em que geriu mal seus aliados. Montou coalizões distantes
da preferência do Congresso, com um número exagerado de partidos
ideologicamente heterogêneos e não compartilhou poderes e recursos de forma proporcional
ao peso político de cada parceiro.
Bolsonaro preferiu, no início, governar
sozinho através de conexões diretas com os eleitores.
Mas, depois, em situação de grande
vulnerabilidade, montou uma coalizão minoritária e de sobrevivência, na
condição de refém do Centrão, e seus neo-aliados têm exigido cada vez mais
recursos, provenientes de orçamentos secretos não republicanos, para se
manterem disciplinados.
Esses dois modelos de gerência de coalizão,
além de acarretarem ineficiências governativas, têm gerado pressões para
comportamentos populistas, oportunistas e desviantes com implicações econômicas
desastrosas.
É importante destacar que é possível
governar através de coalizões de forma virtuosa e com baixo custo. Foi por meio
de coalizões que o Brasil foi capaz de alcançar equilíbrio macroeconômico com
inclusão social responsável, gerando diminuição de pobreza e desigualdade.
Os candidatos à Presidência necessitam
falar de forma franca, clara e transparente ao eleitor sobre as escolhas que
pretendem fazer e as estratégias que vão utilizar para terem condições de
governar com eficiência e sem desvios.
Diálogo e capacidade de articulação
política são ingredientes importantes, mas não são suficientes. É decisivo que
o eleitor saiba antecipadamente, já durante a campanha, quais serão os
critérios e os termos de troca entre o futuro governo e os potenciais parceiros
de coalizão.
Sem dizer claramente o que fará e, principalmente, como pretende fazer, a tarefa de governar torna-se ainda mais difícil, obscura e ineficiente.
*Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE)
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