O Estado de S. Paulo
Incapacidade de políticos de dominar meios digitais ajudou a nos levar ao pior
Uma das hipóteses levantadas com frequência
por cientistas políticos é a de que após uma derrota eleitoral Jair Bolsonaro não conseguiria
manter vivo o movimento reacionário que encabeçou. O resultado que saiu das
urnas mostra o contrário. Em 2018, descobrimos que as redes poderiam mudar
radicalmente o cenário político. Aí parece que esquecemos a lição. Pois elas
seguem transformando o Brasil. Para pior.
Os partidos de Centro e Centro-Direita foram dizimados no Congresso. PSDB, Novo, MBL, mesmo MDB, reduzidos a uma fração do que já foram. No último pleito, Bolsonaro trouxe consigo uma penca de parlamentares. Os que entregaram o nível de lealdade e extremismo exigidos pelo presidente se elegeram.
Com base na teoria política tradicional,
não era para ter sido assim. Os candidatos fisiológicos tiveram muito dinheiro
para fazer campanha, os bolsonaristas não tanto. Mas foram estes que acumularam
milhares de votos. Além disso, Bolsonaro não tem um partido, é hóspede no PL.
Sem partido, sugere a teoria que temos, não dá para ter movimento.
Mas, se não houvesse um movimento, se não
houvesse um Bolsonarismo vivo e na sociedade, nem Bolsonaro teria dado sua
arrancada final, nem sua base teria sido a campeã.
Não precisa de partido. Bastam as lives de
dentro do plenário, na saída de um palácio. Bastam as bem construídas redes de Zap, que atingem num só dia dezenas de
milhões de brasileiros. O algoritmo do TikTok e do Kwai, o do YouTube. Essas estruturas mantém
políticos bolsonaristas e suas bases em contato contínuo, mantendo a militância
mobilizada.
Esta comunicação que o digital proporciona
aos políticos, e isso é quase exclusividade da extrema-direita, é barata,
envolve emocionalmente, é permanente e instantânea.
O digital transformou a maneira como a
política é feita. Quando mergulharmos nas pesquisas para entender onde erraram,
possivelmente descobriremos que não erraram. A instantaneidade do digital
catalisa decisões de última hora. Pesquisas feitas pessoalmente mostram o
retrato de três dias atrás, as por telefone de um ou dois, painéis na internet
conseguem encurtar o tempo. Na semana da eleição, pesquisas serão mais úteis
para detectar movimentos do que placares.
Hoje, pela incapacidade de boa parte dos
políticos dominarem o digital, porque a ciência política e o jornalismo
político não estão suficientemente atentos, o poder foi capturado pelo pior que
temos.
O que sobrou da democracia brasileira foram Esquerda e Centro-esquerda. É isso que temos para hoje.
2 comentários:
"O que sobrou da Democracia brasileira foram Esquerda e Centro-esquerda. É isso que temos para hoje."
O colunista disse tudo! É Lula ou Lula...
Eu também gostaria,mas não podemos contar com o ovo dentro da galinha.
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