Blog do Noblat / Metrópoles
Os ex-governadores Camilo e Izolda chegam
com apoio do Presidente e com a marca do êxito que tiveram no Ceará
A escolha do Ministro Camilo Santana para o
MEC permite ao Brasil ter esperança no enfrentamento da tragédia educacional
que o país atravessa desde sempre. O Presidente Lula e o novo ministro afirmam
priorizar educação de base, e para tanto contarão com a competência e
experiência de Izolda Cela na secretaria de educação de base. Esta é uma
novidade no governo federal que, tradicionalmente, deixa este setor aos
cuidados de municípios e estados, porque o MEC tem sido historicamente
sequestrado pelo ensino superior. Raros ministros conseguiram priorizar à
educação de base e se manterem no cargo.
Desta vez, o próprio Presidente Lula parece estar percebendo que, sem uma educação de base sólida, o ensino superior fracassa, mesmo com todo apoio que receba. Os ex-governadores Camilo e Izolda chegam com apoio do Presidente e com a marca do êxito que tiveram no Ceará. Por isto, o Brasil entra em 2023 com direito à esperança, mas precisando ficar alerta.
Primeiro, saberem da dificuldade que
enfrentarão para vencer o poder do ensino superior, que tende a considerar que
educação começa na universidade. O ministro corre o risco de ser prisioneiro e
a secretária de educação de base sem força nem ferramentas para influir sobre
os quase seis mil sistemas municipais e estaduais. O ideal seria que a SESU,
secretaria do ensino superior, passasse para o Ministro da Ciência, Tecnologia
e Inovação, como é em tantos países e também nos estados brasileiros, inclusive
no Ceará, durante os governos Camilo Santana e Izolda Cela. Deixando o MEC com
a responsabilidade e os instrumentos para cuidar da educação de base. Mas esta
possibilidade já não será possível e fica ao ministro e sua secretária o
desafio de cuidarem e mudarem a educação de base no Brasil, ao mesmo tempo que
atendem as reivindicações das universidades.
Segundo, eles precisam saber que o
resultado obtido na educação de base no Ceará é um grande êxito quando
comparado com o passado nesse estado e com outros estados e municípios do
Brasil. Mas ainda longe do que o Brasil precisa ao compararmos nossa educação
com as melhores do mundo. Apesar dos avanços, o Ceará continua com indicadores educacionais
muito atrás do resto do mundo; mais grave, apesar dos avanços nos indicadores
médios, permanece e até aumenta a desigualdade na qualidade conforme a renda e
o endereço da família do aluno. A educação dos pobres melhorou, mas a dos
filhos dos ricos e das classes médias melhora ainda mais.
A nova gestão no MEC estará dando uma
enorme contribuição à educação brasileira se, nos próximos quatro anos, repetir
para o Brasil o que fizeram no Ceará, mas isto não bastará para a educação
brasileira dar o necessário salto na qualidade e na equidade ao longo das
próximas décadas. Além da experiência e competência que trazem do passado, esta
nova gestão precisa de ambição para o futuro. Precisa apresentar e iniciar uma
estratégia para que nas próximas décadas o Brasil promova o salto radical na
qualidade média, igualando nossa educação às melhores do mundo, e o salto ainda
mais radical na equidade como a educação deve ser oferta dentro do país,
independente da renda e do endereço da criança.
Para levar adiante estas ambições, Lula e
sua equipe precisam promover uma consciência nacional por educação de qualidade
para todos: sermos campeões em educação e abolir a persistente divisão do
sistema escolar em “escolas casa grande” e “escolas senzala”.
Como se não bastasse este desafio, o novo
governo precisa apresentar uma estratégia para a grande revolução tecnológica
que substituirá a velha “aula teatral” por nova “aula cinematográfica”,
utilizando as modernas ferramentas dos tempos digitais, das telecomunicações e
dos bancos de dados.
Todos estamos esperançosos com o novo
ministro e sua secretária para educação de base, desejamos que permaneçam nos
cargos pelo tempo necessário, que em quatro anos tragam para o Brasil o que
fizeram no Ceará, mas tenham a ambição de ir além, deixando a estratégia e
dando os primeiros passos que o Brasil precisa para o futuro: educação entre as
melhores do mundo e a mesma qualidade, independente da renda e do endereço da
criança.
Sem esquecer que no dia a dia precisamos
vencer o desafio imediato de erradicar o analfabetismo que aflige mais de dez
milhões de brasileiros adultos.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
2 comentários:
Um pouco de esperança em meio ao retorno dos vorazes petistas envelhecidos ao comando de dezenas de ministérios.
Educação, prioridade sempre! É um prazer ler este novo texto do professor Cristovam!
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