domingo, 25 de dezembro de 2022

Cristovam Buarque* - Esperança na educação

Blog do Noblat / Metrópoles

Os ex-governadores Camilo e Izolda chegam com apoio do Presidente e com a marca do êxito que tiveram no Ceará

A escolha do Ministro Camilo Santana para o MEC permite ao Brasil ter esperança no enfrentamento da tragédia educacional que o país atravessa desde sempre. O Presidente Lula e o novo ministro afirmam priorizar educação de base, e para tanto contarão com a competência e experiência de Izolda Cela na secretaria de educação de base. Esta é uma novidade no governo federal que, tradicionalmente, deixa este setor aos cuidados de municípios e estados, porque o MEC tem sido historicamente sequestrado pelo ensino superior. Raros ministros conseguiram priorizar à educação de base e se manterem no cargo.

Desta vez, o próprio Presidente Lula parece estar percebendo que, sem uma educação de base sólida, o ensino superior fracassa, mesmo com todo apoio que receba. Os ex-governadores Camilo e Izolda chegam com apoio do Presidente e com a marca do êxito que tiveram no Ceará. Por isto, o Brasil entra em 2023 com direito à esperança, mas precisando ficar alerta.

Primeiro, saberem da dificuldade que enfrentarão para vencer o poder do ensino superior, que tende a considerar que educação começa na universidade. O ministro corre o risco de ser prisioneiro e a secretária de educação de base sem força nem ferramentas para influir sobre os quase seis mil sistemas municipais e estaduais. O ideal seria que a SESU, secretaria do ensino superior, passasse para o Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, como é em tantos países e também nos estados brasileiros, inclusive no Ceará, durante os governos Camilo Santana e Izolda Cela. Deixando o MEC com a responsabilidade e os instrumentos para cuidar da educação de base. Mas esta possibilidade já não será possível e fica ao ministro e sua secretária o desafio de cuidarem e mudarem a educação de base no Brasil, ao mesmo tempo que atendem as reivindicações das universidades.

Segundo, eles precisam saber que o resultado obtido na educação de base no Ceará é um grande êxito quando comparado com o passado nesse estado e com outros estados e municípios do Brasil. Mas ainda longe do que o Brasil precisa ao compararmos nossa educação com as melhores do mundo. Apesar dos avanços, o Ceará continua com indicadores educacionais muito atrás do resto do mundo; mais grave, apesar dos avanços nos indicadores médios, permanece e até aumenta a desigualdade na qualidade conforme a renda e o endereço da família do aluno. A educação dos pobres melhorou, mas a dos filhos dos ricos e das classes médias melhora ainda mais.

A nova gestão no MEC estará dando uma enorme contribuição à educação brasileira se, nos próximos quatro anos, repetir para o Brasil o que fizeram no Ceará, mas isto não bastará para a educação brasileira dar o necessário salto na qualidade e na equidade ao longo das próximas décadas. Além da experiência e competência que trazem do passado, esta nova gestão precisa de ambição para o futuro. Precisa apresentar e iniciar uma estratégia para que nas próximas décadas o Brasil promova o salto radical na qualidade média, igualando nossa educação às melhores do mundo, e o salto ainda mais radical na equidade como a educação deve ser oferta dentro do país, independente da renda e do endereço da criança.

Para levar adiante estas ambições, Lula e sua equipe precisam promover uma consciência nacional por educação de qualidade para todos: sermos campeões em educação e abolir a persistente divisão do sistema escolar em “escolas casa grande” e “escolas senzala”.

Como se não bastasse este desafio, o novo governo precisa apresentar uma estratégia para a grande revolução tecnológica que substituirá a velha “aula teatral” por nova “aula cinematográfica”, utilizando as modernas ferramentas dos tempos digitais, das telecomunicações e dos bancos de dados.

Todos estamos esperançosos com o novo ministro e sua secretária para educação de base, desejamos que permaneçam nos cargos pelo tempo necessário, que em quatro anos tragam para o Brasil o que fizeram no Ceará, mas tenham a ambição de ir além, deixando a estratégia e dando os primeiros passos que o Brasil precisa para o futuro: educação entre as melhores do mundo e a mesma qualidade, independente da renda e do endereço da criança.

Sem esquecer que no dia a dia precisamos vencer o desafio imediato de erradicar o analfabetismo que aflige mais de dez milhões de brasileiros adultos.

*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador

2 comentários:

Anônimo disse...

Um pouco de esperança em meio ao retorno dos vorazes petistas envelhecidos ao comando de dezenas de ministérios.

Anônimo disse...

Educação, prioridade sempre! É um prazer ler este novo texto do professor Cristovam!