BC autônomo é um teste político para Lula e o PT
O Globo
Em vez de atacar os juros, presidente
deveria lembrar como cumprir a meta de inflação ajudou em sua reeleição
As últimas declarações do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva revelam que a relação com o Banco Central (BC) impõe um
desafio ao governo petista. Em entrevista à GloboNews na semana passada, Lula
atacou a autonomia do BC, criticou a meta de inflação e disse que, no seu
governo, o presidente do BC tinha mais independência — um disparate. No dia
seguinte, voltou a atacar o nível dos juros e a soltar despropósitos sobre a
política monetária. “A gente poderia não ter nem juro, não é verdade?”,
afirmou.
Mesmo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem dado declarações sensatas quando fala na necessidade de equilibrar as contas públicas, derrapou em entrevista ao GLOBO ao sugerir que deveria haver colaboração do BC para recuperar a atividade econômica. Reclamou dos juros altos e da “situação anômala”, com “inflação comparativamente baixa e taxa de juros real fora de propósito para uma economia que já vem desacelerando”. Nada disso tem cabimento, já que a missão do BC é tão somente controlar a inflação — e nem isso tem conseguido.
Como acontece toda vez que a meta definida
pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) não é atingida, o presidente do BC,
Roberto Campos Neto, redigiu sua segunda carta aberta ao ministro da Fazenda
explicando os motivos (a primeira foi dirigida ao então ministro Paulo Guedes
em 2022). Os termos usados são técnicos, mas não é difícil entender o quadro
traçado por Campos Neto. A economia já emite sinais de desaquecimento, mas
mesmo juros altíssimos (de 13,75%) não bastaram para baixar a inflação para
menos de 5%, o limite superior da meta (ela ficou em 5,79% no ano passado).
Na carta enviada a Haddad, Campos Neto
aponta motivos conhecidos. “As pressões inflacionárias globais”, escreve, e “a
elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais
adicionais” aconselham “serenidade na avaliação dos riscos” antes de decidir o
que fazer com os juros. Traduzindo: os juros continuarão nas alturas até que o
governo — leia-se Haddad — apresente regras fiscais confiáveis para substituir
o desmoralizado teto de gastos, que manteve as despesas públicas sob controle
desde o governo Temer até ser na prática revogado por uma sucessão de emendas
constitucionais.
Ao se queixar dos juros, tanto Lula quanto
Haddad desdenham a autonomia do BC e põem sobre a mesa ingredientes que podem
causar um inútil e desgastante choque com a autoridade monetária. Cobrar do BC
que ajude a criar postos de trabalho é esquecer que uma inflação fora do
controle e uma política monetária desacreditada empurram qualquer economia para
a recessão. Foi essa a fórmula que levou a presidente Dilma Rousseff à crise
econômica e política que produziu seu impeachment.
No primeiro mandato de Lula, em 2003,
Henrique Meirelles assumiu o Banco Central com carta branca do presidente para
apertar a política monetária, enquanto, no Ministério da Fazenda, Antonio
Palocci segurava os gastos. Não houve recessão, e a inflação caiu de 12,5% no
primeiro ano do governo para 3,1% em 2006. Campos Neto tem ainda dois anos de
mandato para fazer a inflação convergir para o centro das metas: 3,25% neste
ano e 3% nos dois seguintes. Antes de falar sobre o assunto, Lula deveria
lembrar quanto o cumprimento das metas inflacionárias ajudou em sua reeleição.
Encolhimento precoce da população chinesa
serve de alerta a brasileiros
O Globo
Dados preliminares do Censo de 2022 sugerem
que, como a China, o Brasil ficará velho antes de ficar rico
A população chinesa registrou no ano
passado a primeira queda em mais de 60 anos e deverá ser ultrapassada em breve
pela indiana. A China contava em dezembro 1,41 bilhão de habitantes, segundo o
Escritório Nacional de Estatísticas. No decorrer de 2022 houve 9,56 milhões de
nascimentos, 850 mil a menos que os 10,41 milhões de mortes registradas.
O recuo demográfico era esperado apenas
para 2031, pela previsão das Nações Unidas, e não antes de 2029, segundo outras
estimativas. A antecipação em quase uma década no declínio populacional não
aconteceu por acaso e põe em xeque o plano, formulado sob a liderança de Xi
Jinping, de tornar a China um país desenvolvido até 2030.
Parte do motivo evidentemente está na
política de filho único, imposta pelo Estado chinês à população entre 1979 e
2016. A esterilização forçada e as punições a casais que desobedeciam à norma
até hoje cobram seu preço (só há cerca de dois anos os casais foram autorizados
a ter três filhos). Mas o cenário demográfico também sofre impacto de outros
fatores que aceleraram o declínio.
Por mais vigilantes que fossem os
comissários do Partido Comunista Chinês, a melhoria de renda, a maior
qualificação trazida pela educação e a migração para as cidades, onde o custo
de vida é maior, levaram os jovens chineses a constituir famílias pequenas. Criar
filhos na China ficou mais caro que em países ricos, como Japão ou Estados
Unidos. Como noutros países, as mulheres têm preferido investir em sua carreira
à maternidade e encontram menos resistência social, numa sociedade já
acostumada a famílias menores. No caso específico da China, a juventude sofre
com a insegurança trazida pela pandemia e pelo esgotamento do modelo econômico.
Ao mesmo tempo, o encolhimento populacional
representa nova ameaça a esse modelo. O PIB chinês cresceu em 2022 apenas 3%,
abaixo da meta de 5,5%. As estatísticas demográficas mostram que a economia
contará cada vez menos com uma mão de obra jovem e barata, um dos principais
fatores de projeção da China na primeira fase da abertura econômica para o
mundo, quando o país passou a exportar volumes crescentes de bens de consumo e
produtos manufaturados.
Riscos para o sistema previdenciário, que
pareciam inexistentes em um país com população e crescimento tão grandes, se
tornaram tangíveis no novo cenário demográfico, com queda na parcela de jovens
e crescimento na proporção de idosos.
O exemplo chinês funciona como alerta para o Brasil, onde dados preliminares do Censo de 2022 sugerem um crescimento populacional inferior ao previsto e demonstram que o período de bônus demográfico — em que há mais jovens do que idosos na população — acabou antes do esperado. Como a China, o Brasil também ficará velho antes de ficar rico — e só terá como manter índices robustos de crescimento se conseguir alavancar a produtividade da economia.
Somente a lei
Folha de S. Paulo
Ataque a Brasília foi criminoso, mas
tratá-lo como terrorismo é contraproducente
Augusto Aras, quem diria, acertou uma.
Notabilizado por se submeter antes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) do que
a sua missão constitucional, o procurador-geral da República reagiu de forma
correta aos ataques de 8 de janeiro à democracia brasileira.
Nas denúncias
já apresentadas pela Procuradoria ao Supremo Tribunal Federal, estão
arrolados os crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado
democrático de Direito, golpe de Estado, dano e deterioração do patrimônio
público tombado.
Não há, como se vê, terrorismo nessa lista,
assinada por Carlos Frederico Santos, subprocurador-geral encarregado por Aras
de coordenar o grupo responsável pelas apurações dos atos antidemocráticos.
Alguém poderia imaginar que o terrorismo só
ficou de fora por interessar a Bolsonaro ver o mínimo rigor aplicado a seus
apoiadores. Seria uma leitura apressada. A verdade é que a legislação
brasileira define as condutas típicas do crime de terrorismo e estabelece
algumas condições necessárias para que ele esteja caracterizado.
Uma dessas condições é que os suspeitos
tenham "a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a
perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública".
A outra é que o ato criminoso se baseie em
"razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e
religião". E, para que não fiquem dúvidas quanto ao que não está dito, o
texto exclui expressamente motivações políticas.
Se é possível associar a primeira dessas
condições aos vândalos celerados que dilapidaram os prédios dos três Poderes, o
mesmo não se dá em relação à segunda. Afinal, onde estava a xenofobia? Ou a
discriminação? Ou o preconceito?
Embora a definição jurídica não seja a
única possível, e apesar de normas internacionais contemplarem uma gama maior
de condutas e motivações, não convém, sobretudo no contexto conturbado que o
país atravessa, ir além do que dispõe a legislação.
Foi o que fizeram, lamentavelmente, os
presidentes dos Poderes quando divulgaram no dia 9, nota conjunta classificando
os atos como terroristas. Foi também o que fez, de modo ainda mais lamentável,
o ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao afastar
Ibaneis Rocha (MDB) do cargo de governador do Distrito Federal.
É inegável que se vivenciaram momentos de
intolerância política e desgaste institucional. Superá-los exigirá que as
autoridades saibam investigar, processar e punir os responsáveis pela intentona
extremista. Retaliações além da lei tendem a fortalecer a radicalização.
As regras do jogo
Folha de S. Paulo
Faltam boas razões para incluir esports nas
políticas públicas para os esportes
Uma declaração da ministra do Esporte, Ana
Moser, sobre as competições com jogos eletrônicos —chamadas de esports— gerou
controvérsia pouco usual na pasta.
Segundo a ex-jogadora de voleibol, o órgão
que agora comanda não investirá em tais atividades. "O
esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte",
afirmou Moser.
Teve início, então, um debate conceitual. A
Lei Pelé, de 1998, que dita normas e diretrizes para o esporte no Brasil,
curiosamente não define de forma clara seu objeto.
Já o projeto de lei do Plano Nacional do
Desporto, de 2022 —que trata das verbas públicas para o setor e tramita no
Congresso— delimita a prática como "toda forma de atividade
predominantemente física" que vise recreação, promoção da saúde, alto
rendimento esportivo ou entretenimento.
A assertiva de Moser coaduna-se com o
diploma, já que o caráter eminentemente físico exclui competições mentais como
pôquer, xadrez e jogos eletrônicos. Mais importante, a promoção da saúde e o
combate ao sedentarismo são diretrizes claras do ministério. Seria correto, por
essa perspectiva, afirmar que esports não são esporte.
Críticos apontam preconceito contra uma
prática competitiva, popular em todo o mundo, que gera renda e está inserida
numa indústria bilionária. A ausência de investimento público deixaria o Brasil
para trás nesse setor, e a falta de regulação prejudicaria atletas.
No entanto é justamente por alcançar
sucesso global de audiência, a partir da
injeção de vultuosos patrocínios das empresas desenvolvedoras dos jogos,
que a atividade não necessita de aporte estatal.
Na verdade, a ação do poder público sobre o
esporte eletrônico é vista com desconfiança por parte dos fãs e de
especialistas na área. Corre-se o risco de sufocar as competições com uma série
de regulações burocráticas desnecessárias. Para ter acesso aos principais
programas federais de incentivo aos esportes, por exemplo, seria obrigatório
criar uma confederação oficial que minaria a independência das empresas sobre
seus produtos.
Ademais, por serem considerados como
manifestações culturais, eventos competitivos já obtém incentivos estatais e
abatimento de tributos até mais vantajosos do que os oferecidos à área
esportiva.
Uma gestão pública racional deve evitar excessos regulatórios e alocar recursos em setores que enfrentam mais dificuldades para florescerem no ambiente de mercado —o que não é o caso dos esports.
O que faz um verdadeiro estadista
O Estado de S. Paulo.
É natural que Lula fale do 8 de janeiro a
todo momento, mas um verdadeiro estadista não remói ressentimentos; ao
contrário, deve agir para serenar os ânimos, e não atiçá-los
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem
falado frequentemente dos atos de 8 de janeiro. No dia 18, por exemplo, em
encontro com as centrais sindicais, disse não saber se Jair Bolsonaro “mandou
fazer aquilo, mas ele precisa responder por ter passado quatro anos dizendo que
o povo tinha que se armar para defender a democracia”. No mesmo dia, em
entrevista à GloboNews, referindo-se à invasão das sedes dos Três Poderes, o presidente
da República afirmou ter ficado com a impressão de que “era o começo de um
golpe de Estado” e de que “o pessoal estava acatando ordem e orientação” de
Bolsonaro. “Durante muito tempo, ele (Bolsonaro) mandou invadir a Suprema
Corte, desacreditou o Congresso Nacional, pediu que o povo andasse armado”,
disse.
É compreensível que o presidente da
República fale reiteradamente dos chocantes atos de 8 de janeiro. O que
aconteceu foi muito grave, não deve ser esquecido e não pode ficar impune. Além
disso, as ponderações de Lula sobre o episódio têm sido, em geral, razoáveis.
Ele não falou nada além do que os fatos mostraram e sugerem. Ninguém pode
condenar Lula, por exemplo, quando este comenta os indícios de participação de
alguns integrantes das Forças Armadas nos tumultos e quando cobra que esses
militares sejam punidos. A destruição das sedes dos Três Poderes não autoriza
nenhuma forma de contemporização.
No entanto, se o presidente da República
deseja pacificar o País, ou seja, se deseja se portar como um estadista, e não
como mero político de ocasião, ele deve, doravante, ter outro comportamento. É
inegável que a barbárie do 8 de janeiro gerou simpatia pelo governo e,
portanto, dividendos políticos para Lula. Os maiores símbolos desse ganho
certamente foram o encontro de Lula com os 27 governadores e a imagem destes
com o presidente e com ministros do Supremo Tribunal Federal caminhando no
mesmo lugar conspurcado horas antes pelos vândalos, sugerindo uma forte união
nacional contra a barbárie, independentemente das afinidades políticas. Mas é
bom que Lula saiba que essa união não é, nunca foi e jamais será em torno do
presidente da República, e sim de todas as instituições republicanas – o
Executivo é apenas uma delas, e o atual presidente é apenas seu ocupante
temporário.
A necessária responsabilização dos atos golpistas,
tanto dos executores quanto dos mandantes, não depende de Lula ou de seu
governo. Para a tarefa de apurar e processar os crimes cometidos, existem o
Poder Judiciário, a Polícia Federal e o Ministério Público. Por mais
contundentes que possam ser, as falas de Lula sobre o dia 8 de janeiro – assim
como as de qualquer outra autoridade política – são incapazes de prover maior
efetividades às investigações. A depender do tom, podem apenas sugerir uma
politização das investigações e, portanto, indispor parte da população em
relação a esse indispensável trabalho da Justiça.
No momento, a melhor defesa da democracia
que Lula pode fazer é trabalhar dedicada e decididamente pela pacificação
nacional, assegurando que os primeiros passos de seu governo sejam responsáveis,
baseados numa perspectiva muito mais ampla do que aquela demonstrada
habitualmente por seu partido.
Os atos de 8 de janeiro geraram um enorme
desafio para o Judiciário. Trata-se de um caso de proporções astronômicas, com
muitas frentes de investigação, milhares de envolvidos e uma multidão de
elementos probatórios. No caso do governo federal, o desafio, igualmente
imenso, é outro. Seu trabalho não é lidar com a responsabilização dos atos
criminosos, mas transmitir e assegurar serenidade a toda a população,
arrefecendo os ânimos e criando as condições para que o País não pare e possa
enfrentar seus inúmeros problemas e entraves.
Absolutamente inédita, a barbárie de 8 de
janeiro exige de Lula uma atitude também inédita em sua trajetória pública. Não
basta ter esperteza política. É preciso a magnanimidade de pensar no País. Do
contrário, o slogan de seu governo – “união e reconstrução” – será apenas um
conjunto de palavras vazias.
É preciso cuidado com a inflação
O Estado de S. Paulo.
Governo precisa compreender que ter uma
meta de inflação realista é diferente de não ter meta alguma, e que o controle
da inflação não é capricho, mas uma conquista civilizatória
A desorganização das cadeias produtivas
após a pandemia de covid-19, a guerra na Ucrânia e as demandas por novas
tecnologias rumo à transição energética inauguraram uma discussão sobre o nível
de inflação aceitável nas economias avançadas. No Fórum Econômico Mundial em
Davos, na Suíça, Christian Ulbrich, CEO do grupo imobiliário global JLL,
expressou o entendimento de uma parte de executivos das maiores empresas do
mundo a respeito do impacto desses fatores no regime inflacionário. Essas
mudanças, para os executivos, teriam um caráter estrutural e elevariam a
inflação nas economias mais avançadas dos atuais 2% para 5%.
Ao qualificar esse cenário como “novo
normal”, o Financial Times alertou que as impressões do executivo deveriam ser
ouvidas com atenção pelos investidores, mesmo porque ele não é o único a pensar
dessa forma. Em um artigo publicado pelo jornal recentemente, Olivier
Blanchard, ex-economistachefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), defendeu
a revisão da meta de inflação dos países ricos para 3%. Só o tempo dirá se
essas mudanças na dinâmica inflacionária são temporárias ou permanentes, mas
esse debate já gera consequências no mundo todo, inclusive no Brasil, onde o
processo inflacionário tem suas particularidades.
Pelo segundo ano consecutivo, o presidente
do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, teve de enviar uma carta ao governo
para justificar o descumprimento da meta de inflação. Em 2021, a meta era de
3,75%, e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o ano em
10,06%. Em 2022, o alvo era de 3,5%, e o índice fechou em 5,75%. A despeito dos
esforços do BC, tudo indica que não será possível atingir o centro da meta
deste ano, de 3,25%, tanto que a autarquia diz trabalhar com um horizonte de
seis trimestres à frente.
Nesse contexto, o presidente Lula da Silva
aproveitou para deixar claro seu incômodo com a autonomia do Banco Central
(BC). Se suas críticas não trazem novidades, elas destacam uma teimosa
convicção, compartilhada pela maioria do PT, de que uma inflação mais alta é
capaz de impulsionar o crescimento econômico – diferentemente da maioria dos economistas
ortodoxos, para quem o controle da inflação é premissa para um crescimento
econômico sustentável. A experiência brasileira, de forma geral, e o governo
Dilma Rousseff, em particular, mostram quem tem razão.
O Conselho Monetário Nacional (CMN), colegiado
formado pelos ministros da Fazenda e Planejamento e pelo presidente do Banco
Central, já definiu a meta de inflação para 2024 e 2025 em 3%. O novo governo,
no entanto, pode mudar esses objetivos.
A inflação brasileira sofre os efeitos do
câmbio, das cotações das commodities, dos preços dos alimentos e dos preços
administrados, mas há ao menos dois aspectos que influenciam seu comportamento
de forma muito particular e que, por essa razão, não podem ser desprezados: as
fragilidades fiscais e o mercado de trabalho. Aliados, seus efeitos podem ser
trágicos. Deveria servir de alerta ao governo, portanto, o fato de que o País
acaba de aprovar um aumento de gastos que elevou o déficit primário a mais de
R$ 200 bilhões e registrou um índice de desemprego de 8,1% no trimestre
encerrado em novembro, o menor patamar desde abril de 2015.
Quando a inflação volta a ser um problema
para economias no mundo todo, o Brasil pode e deve debater seus limites, mas
dentro de uma perspectiva muito mais cautelosa e vigilante. A história prova
que o controle da inflação não foi um trabalho fácil. Em um contexto de maior
tolerância com a inflação, não se pode perder de vista que os picos registrados
nos Estados Unidos no início da década de 1980 foram rapidamente debelados, enquanto
no Brasil a batalha somente foi vencida mais de dez anos depois, com o Plano
Real.
Antes de liderar esse debate, o governo
precisa compreender que ter uma meta de inflação realista é muito diferente de
não ter meta alguma, e que o controle da inflação não é um capricho, mas uma
conquista civilizatória, da qual o País não pode abrir mão.
Meta necessária
O Estado de S. Paulo.
Universalização do ensino em tempo
integral, como quer o MEC, é passo na direção certa
O ministro da Educação, Camilo Santana,
disse ao Estadão que tem como meta a universalização do ensino em tempo
integral nas escolas públicas do País. Eis um passo mais do que necessário para
melhorar a qualidade da educação brasileira e elevar os níveis de aprendizagem.
O ensino integral, como se sabe, é regra em países desenvolvidos. Enquanto
isso, no Brasil, a maioria dos alunos ainda cumpre jornada de cerca de quatro
horas − um atraso que prejudica o País em muitas dimensões, seja pelos alunos
que pouco aprendem e se desinteressam da escola, seja pelos pais que não têm
onde deixar os filhos para trabalhar.
Por maior que seja o investimento para
dotar o País de escolas de ensino integral, algo é certo: sairá mais caro não
fazê-lo. Tudo passa pela definição de prioridades, e a universalização do
ensino integral está alinhada a um objetivo estratégico e inadiável: criar condições
para um verdadeiro salto de qualidade na educação do País.
Este jornal defende que se priorize a
educação básica. Já passou da hora de assegurar o que prevê o artigo 205 da
Constituição, quando diz que a educação visa “ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Eis o que se espera da formação escolar − um direito historicamente subtraído
de crianças e adolescentes de Norte a Sul do País, ano após ano, governo após
governo.
Mudar tal realidade, por óbvio, não será
tarefa simples. A oferta de ensino integral requer a superação de muitos
desafios, a começar pela necessidade de mais recursos. Para que os alunos
permaneçam mais horas na escola, é preciso aumentar o número de professores,
além de garantir que cada unidade tenha o seu próprio espaço físico.
Atualmente, com a jornada reduzida, um mesmo prédio pode abrigar turmas
diferentes a cada turno.
Nesse sentido, a entrevista do ministro
Camilo Santana ao Estadão aponta na direção certa. Corretamente, ele enfatizou
a necessidade de planejamento das ações, sinalizando a intenção de avançar por
etapas. A ampliação do ensino integral, desse modo, poderia começar pelo ensino
médio e avançar para os anos finais do ensino fundamental (6.º ao 9.º ano),
antes de chegar aos anos iniciais (1.º ao 5.º ano).
Outro ponto importante destacado pelo
ministro diz respeito à colaboração entre os três níveis de governo: as redes
estaduais e municipais concentram oito em cada dez matrículas de ensino fundamental
e médio no País. Logo, qualquer proposta de incentivo ao ensino em tempo
integral por parte do Ministério da Educação (MEC), por melhor que seja,
dependerá do engajamento dos governos estaduais e das prefeituras. Quanto a
isso, não se espera outra atitude de prefeitos e governadores.
O Brasil só tem a ganhar ao investir na
oferta de ensino em tempo integral. Em Pernambuco, o programa estadual resultou
até na diminuição das taxas de homicídio de jovens. No Ceará, Estado que virou
referência nacional em educação − e onde Camilo Santana foi governador −, o
ensino integral faz parte das estratégias de melhoria do ensino. Chegou a hora
de fazer o mesmo no País inteiro.
2 comentários:
Quanto ao primeiro editorial do jornal O Globo sobre a autonomia do Banco Central. O que Lula da Silva tinha que fazer é uma auditoria da Dívida Pública, coisa que Dilma pensou em fazer mas não teve peito. E chamar a Maria Lúcia Fattorelli para comandar (ui!) a auditoria. Ela ajudou o Equador e a Grécia a fazer a auditoria de suas Dívidas e no caso do Equador, o resultado foi uma redução de 40% da dívida. Ela disse que no Brasil esse percentual seria maior. Porque no Brasil se rouba mais digo eu.
Quanto ao editorial do Estadão O Que Faz Um Verdadeiro Estadista. O editorialista parece um invejoso: "Essa união não é, nunca foi e jamais será em torno do presidente da República", não mencionou a solidariedade dos presidentes da Câmara e do Senado além dos ministros do Supremo e dos 27 governadores. Nem vamos mencionar o Papa, Biden e Putin e todo o mundo. O editorialista ignora que a vítima IMEDIATA de um golpe de estado tal qual o planejado pelo boçal seria Lula? Assim sendo todo o movimento de solidariedade foi dirigido a Lula. É claro!
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