quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Vera Magalhães - Eleição verde-amarela na Argentina

O Globo

Qualquer um dos dois que vença, a dependência econômica em relação a Brasília se manterá

Nada como uma crise sem precedentes para aplacar a rivalidade histórica — no futebol, na cultura, na influência geopolítica sobre o continente e na economia — entre Argentina e Brasil e fazer desta não só a mais imprevisível, como a mais “abrasileirada” eleição do país vizinho.

A influência brasileira no pleito argentino se mostra em vários aspectos concretos e simbólicos. Representa ao mesmo tempo alguns dos maiores trunfos e as principais fraquezas dos dois candidatos que foram ao segundo turno.

O peronista Sergio Massa não só se valeu da proximidade de seu grupo político — o do presidente Alberto Fernández — com o governo Lula e o presidente brasileiro, como importou os marqueteiros do PT e algumas teses bem-sucedidas usadas pelo partido em diferentes disputas presidenciais por aqui.

Vem da eleição de 2014 a tática que ajuda a explicar a arrancada de Massa na reta final do primeiro turno: plantar o medo do fim de programas sociais para demonizar candidatos adversários — aqui, Aécio Neves, do PSDB; lá, o extremista Javier Milei, que está mais para Bolsonaro que para tucano.

À receita de João Santana em 2014 se somou a tática óbvia de colar Milei a Bolsonaro, algo que o próprio candidato da extrema direita vinha fazendo com entusiasmo e agora pretende fingir que não aconteceu, não era verdade.

O filme em que as feições de Milei são (ainda mais) contorcidas até ele se transfigurar no ex-presidente brasileiro fez enorme sucesso e foi uma bola dentro, do ponto de vista dos efeitos pretendidos pelo marketing político, da dupla brasileira Otávio Antunes e Raul Rabelo.

O problema para Lula e o PT é que, empolgados com a arrancada desde as primárias, os peronistas querem mais apoio, mais explícito e, se possível, mais institucional. Nos últimos dias, ministros de Lula negaram sistematicamente que o presidente se reunirá com Massa ou Fernández, gravar ou postar qualquer manifestação de apoio ao peronista.

A ordem é que todos os integrantes do governo tentem ao máximo segurar a onda na torcida, coisa que escapou ao controle com a euforia demonstrada por integrantes do primeiro escalão ainda no domingo.

A razão é óbvia: não está dado que, por ter passado ao segundo turno na frente, Massa seja favorito. Tudo dependerá da distribuição de votos da terceira colocada. Outra circunstância que lembra o Brasil de 2014 e 2022, quando Marina Silva e Simone Tebet saíram como terceira via cortejada.

Na primeira dessas disputas, Marina deixou de lado o passado petista e declarou voto em Aécio. Dilma Rousseff venceu no olho mecânico. Em 2022 foi a vez de a liberal Tebet dar uma guinada à esquerda, que ajudou, bem como a ampliação da frente pela democracia, na vitória também apertada de Lula.

Tudo indica que os votos de Patricia Bullrich tendem a migrar para Milei. Mas, para isso, o figurino tresloucado exibido pelo candidato que desfilou “propostas” como dolarização radical ou até venda de órgãos e achou bacana se apresentar como alguém que fala com um cachorro morto não parece cair bem. Razão por que, agora, o candidato da extrema direita parece querer certa distância dos bolsonaristas, que, órfãos, aportaram eufóricos em Buenos Aires com direito a gafes na TV local e torcida organizada em comitê.

O Brasil nunca foi fator de influência tão forte na política argentina. Qualquer um dos dois que vença, a dependência econômica em relação a Brasília se manterá — razão por que até Milei parou com a bravata de que pretende tirar o país do Mercosul e romper com o governo Lula.

Acontece que, tanto para o presidente brasileiro quanto para Bolsonaro, que já vive reveses em massa (sem trocadilho) e dúvidas quanto à manutenção de sua influência “em casa”, não parece ser bom negócio mergulhar na tentação de tentar repetir por lá a polarização daqui.

 

5 comentários:

EdsonLuiz disse...

Estes governos da América Latina, África e Oriente médio são feitos de mentiras e delinquência.

EdsonLuiz disse...

Veja-se os vários últimos mandatos aqui no Brasil::
▪Mentiras!
▪Mentiras!
▪Mentiras!
/////////////////
▪Delinquências!
▪Delinquências!
▪Delinquências!

EdsonLuiz disse...

Qual pais tem estrutura para sair vivo depois de repetidos governos Lula/Dilma/Bolsonaro/Lula?

EdsonLuiz disse...

Qual estrutura tem hoje a Argentina depois de sucessivos presidentes tão absurdos.

ADEMAR AMANCIO disse...

Brasil e Argentina viraram parceiros.