O Globo
Ao celebrar 80 anos, escritor reflete sobre a idade, a crise da esquerda e os rumos do país
Hoje Frei Betto faz 80 anos. O escritor
escolheu celebrar a data em Belo Horizonte, sua cidade natal. De manhã, vai à
missa na paróquia em que fez catequese. À tarde, reunirá parentes e amigos para
um almoço festivo. “Será uma grande freijoada”, brinca, depois de enumerar
os seis irmãos, 16 sobrinhos e 24 sobrinhos-netos convidados para o banquete.
Militante político desde o início da década de 1960, quando foi eleito dirigente da Juventude Estudantil Católica, o frade dominicano diz que o Brasil atual está “muito distante” do país com que ele sonhava naqueles anos. “Quando a ditadura acabou, imaginei que finalmente nos tornaríamos uma democracia de verdade. Hoje temos uma democracia liberal, mas estamos longe de ser uma democracia econômica”, reflete. “As marcas deixadas por 350 anos de escravidão estão presentes. A desigualdade ainda é brutal. E o leque de preconceitos, que produz o racismo e a homofobia, também”, observa.
Velho amigo de Lula, a quem assessorou no
primeiro mandato, o escritor define o presidente como um “equilibrista”. “Ele
não faz o desejável, faz o possível”, resigna-se. “Lula governa com duas
tornozeleiras eletrônicas, uma em cada perna: o Banco Central e o Congresso.
Mas o Brasil marcou um tento com a sua volta, que tirou o neofascismo do
poder.”
Betto diz não estar surpreso com o
crescimento de Pablo Marçal na eleição de São Paulo, assunto do momento na
política. “O novo modelo para ganhar eleições é o modelo do palhaço, com todo
respeito a quem ganha a vida honestamente no circo”, critica, antes de comparar
o coach a Donald Trump e Javier Milei. “O personagem histriônico, disfarçado de
antipolítico, é o que rende votos hoje em dia”, lamenta.
Em abril, o dominicano agitou suas bases com
um artigo intitulado “Cabelos brancos”, em que constatou o envelhecimento da
militância de esquerda. “Precisamos fazer autocrítica, rever nossas ideias, ter
a coragem de abrir espaços às novas gerações e reinventar o futuro”, provocou.
Quatro meses depois, ele mantém o diagnóstico. “Está difícil mexer com os
jovens. Nós, da esquerda, ainda não sabemos lidar com a nova trincheira
política, que são as redes digitais”, alerta.
Para o autor de “Batismo de sangue”, um dos
relatos mais pungentes da luta contra a ditadura, a saída passa
obrigatoriamente pelas salas de aula. “Não é o benefício social que muda a
cabeça do povo. É a educação política”, sentencia. Num encontro recente, ele
sugeriu a Lula que o governo espalhasse 50 mil educadores populares pelo país.
A ideia foi depositada na gaveta das boas intenções.
Em pouco tempo, Betto terá mais livros do que
anos. Já publicou 78 e tem mais dois no prelo. O próximo a ser lançado é “Jesus
Revolucionário”, uma releitura do Evangelho de Lucas. O frade costuma repetir
que todo cristão é discípulo de um prisioneiro político, condenado à Cruz como
subversivo.
Apesar dos pesares, o novo octogenário se
define como um “otimista inveterado”. Ao refletir sobre o aniversário, ele
arriscou uma receita para chegar à sua idade com o corpo e a cabeça em dia: “A
vida se divide em duas fases, a da sorveteria e a da farmácia. Sou freguês da
segunda, cadastrado em todas elas. Mas observo alguns requisitos da boa saúde:
meditação; ginástica; moderação na comida e na bebida; boas amizades; bom
humor; e, sobretudo, não dar importância ao que não tem importância. O segredo
da felicidade está no desapego. Do dinheiro, do poder e, o mais difícil, de si
mesmo”.
2 comentários:
O cara fala claramente em doutrinar crianças e adolescentes na esquerda, usando o estado pra isso, e nem ficam vermelhos de vergonha, afinal essa é a democracia relativa que vigora em Cuba Venezuela e afins pelo mundo, no qual o colunista é obcecado em implantar no Brasil, mas, afinal é em nome da democracia.....
Ele devia falar sobre a justiça divina sem passar pelo crivo da reencarnação - Apesar que em seus livros ele até aborda o assunto,rs.
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