Correio Braziliense
Ficou claro para muitos presentes à
manifestação — e, inclusive, para quem não foi e nem apoia Bolsonaro — que o
ato foi uma demonstração de força da direita brasileira que, se conseguir
praticar a união que promoveu ontem, dificultará e muito a vida de Lula na
campanha reeleitoral
A manifestação na Avenida Paulista nesse domingo (6/4) serviu para que os bolsonaristas começassem a alinhavar um acordo de cavalheiros com os governadores interessados em concorrer ao Planalto nos seguintes termos: vocês, gestores estaduais, ajudam a levar adiante a proposta de anistia aos acusados pelo quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023, reforçando o discurso de que não houve golpe de Estado, e, lá na frente, se continuar inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro apoiará quem estiver mais condições de vencer Luiz Inácio Lula da Silva. E mais: ficou claro para muitos presentes ao ato — e, inclusive, para quem não foi e nem apoia Bolsonaro — que o ato foi uma demonstração de força da direita brasileira que, se conseguir praticar a união que promoveu ontem, dificultará e muito a vida de Lula na campanha reeleitoral.
Esses acertos, porém, estão longe de serem
cumpridos. Os governadores não têm o domínio das bancadas na Câmara
para forçar uma união geral pela anistia. Tentarão, a partir de agora, buscar
esses votos no varejo. Jair Bolsonaro, por sua vez, ciente da sua força
política, não escolherá nem tão cedo um nome a apoiar para 2026. Ele se mantém
como "o candidato" e continuará assim, pelo menos, até o fim de 2025.
E a depender do cenário, nem no fim do ano o ex-presidente abrirá mão de uma
potencial candidatura para apoiar um outro nome. O receio de alguns bolsonaristas
mais fiéis é que o capitão termine perdendo protagonismo, caso desista de
concorrer para apoiar um aliado.
Por último, a sonhada união dos partidos de
direita está longe de ocorrer na prática. O mais próximo dessa união hoje é o
projeto de federação entre União Brasil, presidido por Antônio Rueda, e o PP,
comandado pelo senador Ciro Nogueira. Na hipótese de Bolsonaro não se
apresentar como candidato, a tendência é uma profusão de candidatos que se
unirão apenas no segundo turno, e olhe lá.
Dos sete governadores presentes ontem, pelo
menos quatro são considerados no páreo de 2026. O de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o de Goiás,
Ronaldo Caiado (União Brasil), que, inclusive, já lançou oficialmente uma
pré-candidatura, o de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o do Paraná, Ratinho
Jr. Se tem um consenso entre os conservadores, é que, a preços de hoje, Jair
Bolsonaro aglutina os votos da direita e terá mais chances de sucesso quem
atrair o fiel eleitorado do ex-presidente. Tarcísio, por exemplo, chegou a
puxar um "volta Bolsonaro" em sua fala na Paulista. E, de todos os
potenciais candidatos ao Planalto com viés de direita, foi o único a quem o
ex-presidente derramou elogios e a quem Michelle Bolsonaro chamou de
"melhor ministro" do governo do marido.
Se quiser Tarcísio como o representante do
seu time na corrida eleitoral de 2026 ao Planalto, o ex-presidente terá que
tomar uma decisão ainda este ano. Isso porque Tarcísio precisaria preparar a
própria sucessão em São Paulo, onde os conservadores têm uma profusão de nomes:
do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ao presidente do PSD, Gilberto Kassab, passando
o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL). Diante de tantos
ensaios políticos, o ato terminou mantendo todos em campo e pontes abertas. Porém,
ainda estamos muito longe do desfecho desta temporada, seja para a anistia,
seja para a definição de candidatos.
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