O Estado de S. Paulo.
Ex-presidente
quer que sua condenação e sua prisão despertem um grande clamor popular
A
manifestação deste domingo, na Avenida Paulista, em São Paulo, ganhou a
maquiagem, carregada no batom, de um ato a favor da anistia aos condenados de 8
de janeiro. Mas, por baixo da camada de tinta, a mensagem central dos
discursos, principalmente os de Jair Bolsonaro e de sua esposa, Michelle, foi
outra: preparem-se para o sacrifício do seu líder e lembremse de que vocês
também estão ameaçados.
O círculo próximo do expresidente está convencido de que a condenação e a prisão são favas contadas. Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara dos Deputados, chegou a dizer, antes mesmo da aceitação, pelo STF, da denúncia por tentativa de golpe de Estado, que Bolsonaro “já é um pré-condenado”. Os discursos deste domingo serviram ao propósito de preparar o terreno para a reação à condenação de Bolsonaro.
O
projeto de anistia não resolve o problema de Bolsonaro, pois o STF pode impedir
sua aplicação. A direita bolsonarista precisa manter o assunto em voga,
contudo, por dois motivos. Primeiro, para justificar a narrativa de que o
Brasil vive uma ditadura do Judiciário que persegue a direita. Segundo, para
reforçar o vínculo de lealdade entre Bolsonaro e seus seguidores. Ele precisa
que seus apoiadores estejam convencidos de que sua liberdade, seus bens e até
mesmo suas vidas estão em risco, e que, se seu líder vai se sacrificar para
salvá-los, devem estar preparados para fazer o mesmo por ele.
Bolsonaro
sintetizou as duas ideias, ditadura e perseguição, em uma fala: “Se eu
estivesse no Brasil (em 8 de janeiro de 2023), estaria apodrecendo na cadeia ou
teria sido assassinado pelos mesmos que colocaram esse vagabundo na
Presidência”.
Ele
quer que sua condenação e sua prisão despertem um grande clamor popular. O
pastor Silas Malafaia, organizador dos atos pró-Bolsonaro, deu a dica: “Se os
senhores (ministros do STF) prenderem Bolsonaro, o que pode acontecer no
Brasil? Pode não acontecer nada, ou pode acontecer tudo!” Não é por acaso que o
protesto do batom ganhou contornos religiosos tão acentuados. Bolsonaro, disse
Michelle, é o “escolhido” por Deus para enfrentar a “maldade de alguns do STF”.
O ato deste domingo, apesar de toda a fanfarra em torno da ideia de aprovação
de uma anistia para os “inocentes” do 8 de Janeiro, representou, isso sim, o
início da incitação de uma futura revolta contra a condenação de Bolsonaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário