O Globo
A postura de Tarcísio passa uma mensagem a
seus subordinados, gerando o total descontrole social a que assistimos com medo
Quando política pública é feita com
finalidade eleitoreira, sem analisar os dados empíricos nem respeito à ciência,
o resultado é invariavelmente desastroso. E esse é exatamente o caso da
segurança pública do Estado de São Paulo.
Em estudo realizado pelo Unicef, constatou-se que 77 crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos morreram em intervenções policiais no estado em 2024, segundo ano do governo Tarcísio de Freitas. Enquanto em 2022, na gestão Rodrigo Garcia, foram 35 vítimas — houve aumento de 120%. Depurando as informações, verifica-se que crianças e adolescentes negros são 3,7 vezes mais vítimas de intervenções letais da PM do que brancos.
Não à toa, esse fato terrível ocorre durante
uma administração que não investiu nas câmeras de farda dos policiais. Ainda em
2022, meses antes das eleições, então pré-candidato, Tarcísio foi o primeiro a
abordar o tema, expondo sua pretensão de extinguir a obrigatoriedade de uso,
por entender que é mais eficaz para o combate ao crime o treinamento contínuo e
a capacitação da tropa. Na época, nesta mesma coluna, apontei, acompanhado de
estudos consistentes sobre o tema, o grave erro que seria seguir por esse
caminho.
Em 2024, em entrevista à TV, Tarcísio
perguntou que benefícios as câmeras de farda traziam ao cidadão, afirmando em
seguida que a resposta era zero. Àquela época, números contundentes já
apontavam para o impacto da direção de sua gestão na segurança pública. Segundo
os dados disponíveis até então, a capital paulista registrara 229.639 furtos
entre janeiro e novembro de 2023, média de 28,6 por hora — 15.219 a mais que no
mesmo período do ano anterior. Mas não foi só isso. O primeiro ano do mandato
de Tarcísio marcou o maior índice de roubos desde 2001, quando começaram a ser
apurados os dados de violência da série histórica da Secretaria de Segurança
Pública.
Ainda no primeiro ano, a letalidade policial
aumentou 20% e seguiu em curva crescente até hoje. Dados do Ministério Público
mostram que houve um salto de 355 para 702 mortes cometidas por agentes entre
2022 e 2024. Esse cenário não é apenas coincidência. A postura de Tarcísio
passa uma mensagem a seus subordinados, gerando o total descontrole social a
que assistimos com medo, em que os crimes sobem, e a violência é disseminada e
acelerada pelo próprio Estado.
Outra consequência nefasta é o aumento da
exposição ao perigo dos policiais que patrulham as ruas. Desde 2022, houve
crescimento de 133% nos assassinatos desses agentes em serviço.
Nesse período, celebrou-se a queda de
homicídios em 2023 e de roubos. Entretanto não se falou em relação ao aumento
de furtos, estupros e latrocínios, de modo que é perceptível a falta de
compromisso com uma análise séria da situação. Isso fica ainda mais evidente
quando se olha para a curva descendente de homicídios no estado há mais de dez
anos.
Se a violência é a maior preocupação da
população brasileira hoje, é preciso olhar para tal situação e pensar até
quando queremos nos manter nessa caminhada.
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