Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO
Nesta crise tudo é diferente. Até o comportamento do emprego. Esta semana sairá a nova Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, sobre o mês de junho. A expectativa é de estabilidade, o que significa que, nos piores meses da crise, o desemprego subiu menos do que se temia. Mas há outros dados desafinando essa música: a queda das horas trabalhadas, a queda da População Economicamente Ativa (PEA).
Na PEA estão os brasileiros empregados e os que procuram emprego. Ela tem caído. Isso significa que menos gente procura emprego, ou porque acha que não vai encontrar mesmo na crise ou por outros motivos.
- Houve muita formalização nos anos recentes. Como o empregado formal quando é demitido recebe o equivalente a três ou quatro meses de salário, em aviso prévio, férias, décimo terceiro, e tem o seguro-desemprego, muitos podem estar esperando a crise melhorar para voltar a procurar emprego - diz o economista José Márcio Camargo.
Se for isso, neste segundo semestre quando normalmente a taxa de desemprego cai, ela pode não cair e até subir um pouco contrariando a tendência.
O professor de Relações do Trabalho José Pastore tem números preocupantes. Ele publicou um artigo ontem no "Estado de S. Paulo" lembrando que de janeiro a maio foram criados 180 mil empregos. No ano passado, no mesmo período, foram um milhão e 50 mil empregos. Para eliminar essa diferença, o país teria que criar 800 mil vagas até o fim do ano, o que é difícil porque dezembro é mês que normalmente elimina empregos numa faixa de 300 mil. Se a tendência se repetir, o país teria que gerar 1,1 milhão de postos de trabalho até novembro, apenas para empatar o jogo.
Voltar a 2008, quando a economia estava gerando postos, aumentando salários, formalizando trabalhadores, vai ser mais difícil. Pastore acha que nem em 2010. O banco Credit Suisse fez um relatório também prevendo que o ano que vem será fraco na recuperação do emprego.
Por tudo isso, as previsões de estabilidade da taxa de desemprego em junho não tranquilizam. Os sinais são de um mercado fraco, ainda em crise, que está muito longe de atender a necessidade de um país.
A queda das horas trabalhadas também mostra essa fraqueza do mercado. Mas indica outro fenômeno interessante, apontado por José Márcio Camargo:
- Nos últimos tempos houve alguma flexibilização do contrato de trabalho. Passou a haver banco de horas, suspensão do contrato, renegociação. Isso permitiu que agora as empresas reduzissem a jornada na prática, mantendo empregados.
Mesmo assim, o contrato ainda é muito rígido, com mais de uma centena de cláusulas que não podem ser alteradas. A pouca flexibilização que houve pode já ter funcionado em parte.
A boa notícia é que as previsões de piora foram revistas para melhor. O Credit Suisse disse que "as condições do mercado de trabalho foram mais favoráveis do que prevíamos". O banco achava que a taxa média de desemprego do ano seria de 9,7%, e agora reviu para 8,7%.
Já em 2010, mesmo com o aumento da população ocupada, a taxa de desemprego não vai cair porque deve aumentar a PEA. Mais trabalhadores, animados com uma economia em recuperação, voltarão a procurar vagas e esse aumento impedirá a queda da taxa de desemprego. Assim é a estatística. A notícia não é tão ruim este ano porque caiu o número de pessoas procurando emprego; já no ano que vem, a notícia boa da recriação de empregos será mitigada na estatística porque as pessoas estarão no mercado à cata de oportunidades.
O governo acenou com a possibilidade de desonerar a folha. Seria um bom caminho, se ele realmente quisesse ou pudesse.
- Isso reduziria o custo do trabalho, aumentaria o salário real, aumentaria a produtividade e diminuiria a informalidade. O ganho seria substancial para a economia, o problema é que pode ter sobrado pouco espaço para desoneração depois dos benefícios fiscais concedidos pelo governo - calcula Camargo.
O número de pessoas desocupadas, nas seis capitais que o IBGE pesquisa, saltou de 1,743 milhão para 2,036 milhões entre outubro de 2008 e maio de 2009, nos piores meses da crise. Uma alta de 16%. No mesmo período entre 2007 e 2008, houve redução de 9,2% no total de pessoas desocupadas.
Desigual, como tudo, o desemprego atinge mais alguns que outros: os muito jovens, as mulheres e os acima de 50 anos. O desemprego em maio foi de 8,8% no geral, mas para homens foi de 7,3%, e para mulheres, 10,7%. Para os de 18 a 24 anos foi de 18,9%.
A taxa de desemprego para pessoas com mais de 50 anos é mais baixa, mas a tendência de criar empregos nesta faixa se inverteu. Entre outubro de 2008 a maio de 2009, o número de pessoas com mais de 50 anos desempregadas cresceu 18%. No mesmo período entre 2007 e 2008, houve queda de 16%.
Entre os mais jovens, de 18 a 24 anos, os efeitos são parecidos. Nesses oito meses de crise, o número de desempregados subiu 18%. No mesmo período entre 2007 e 2008, houve queda de 8,6%.
É bom que o desemprego esteja crescendo menos do que se temia, mas há pouco a se comemorar no mercado de trabalho.
DEU EM O GLOBO
Nesta crise tudo é diferente. Até o comportamento do emprego. Esta semana sairá a nova Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, sobre o mês de junho. A expectativa é de estabilidade, o que significa que, nos piores meses da crise, o desemprego subiu menos do que se temia. Mas há outros dados desafinando essa música: a queda das horas trabalhadas, a queda da População Economicamente Ativa (PEA).
Na PEA estão os brasileiros empregados e os que procuram emprego. Ela tem caído. Isso significa que menos gente procura emprego, ou porque acha que não vai encontrar mesmo na crise ou por outros motivos.
- Houve muita formalização nos anos recentes. Como o empregado formal quando é demitido recebe o equivalente a três ou quatro meses de salário, em aviso prévio, férias, décimo terceiro, e tem o seguro-desemprego, muitos podem estar esperando a crise melhorar para voltar a procurar emprego - diz o economista José Márcio Camargo.
Se for isso, neste segundo semestre quando normalmente a taxa de desemprego cai, ela pode não cair e até subir um pouco contrariando a tendência.
O professor de Relações do Trabalho José Pastore tem números preocupantes. Ele publicou um artigo ontem no "Estado de S. Paulo" lembrando que de janeiro a maio foram criados 180 mil empregos. No ano passado, no mesmo período, foram um milhão e 50 mil empregos. Para eliminar essa diferença, o país teria que criar 800 mil vagas até o fim do ano, o que é difícil porque dezembro é mês que normalmente elimina empregos numa faixa de 300 mil. Se a tendência se repetir, o país teria que gerar 1,1 milhão de postos de trabalho até novembro, apenas para empatar o jogo.
Voltar a 2008, quando a economia estava gerando postos, aumentando salários, formalizando trabalhadores, vai ser mais difícil. Pastore acha que nem em 2010. O banco Credit Suisse fez um relatório também prevendo que o ano que vem será fraco na recuperação do emprego.
Por tudo isso, as previsões de estabilidade da taxa de desemprego em junho não tranquilizam. Os sinais são de um mercado fraco, ainda em crise, que está muito longe de atender a necessidade de um país.
A queda das horas trabalhadas também mostra essa fraqueza do mercado. Mas indica outro fenômeno interessante, apontado por José Márcio Camargo:
- Nos últimos tempos houve alguma flexibilização do contrato de trabalho. Passou a haver banco de horas, suspensão do contrato, renegociação. Isso permitiu que agora as empresas reduzissem a jornada na prática, mantendo empregados.
Mesmo assim, o contrato ainda é muito rígido, com mais de uma centena de cláusulas que não podem ser alteradas. A pouca flexibilização que houve pode já ter funcionado em parte.
A boa notícia é que as previsões de piora foram revistas para melhor. O Credit Suisse disse que "as condições do mercado de trabalho foram mais favoráveis do que prevíamos". O banco achava que a taxa média de desemprego do ano seria de 9,7%, e agora reviu para 8,7%.
Já em 2010, mesmo com o aumento da população ocupada, a taxa de desemprego não vai cair porque deve aumentar a PEA. Mais trabalhadores, animados com uma economia em recuperação, voltarão a procurar vagas e esse aumento impedirá a queda da taxa de desemprego. Assim é a estatística. A notícia não é tão ruim este ano porque caiu o número de pessoas procurando emprego; já no ano que vem, a notícia boa da recriação de empregos será mitigada na estatística porque as pessoas estarão no mercado à cata de oportunidades.
O governo acenou com a possibilidade de desonerar a folha. Seria um bom caminho, se ele realmente quisesse ou pudesse.
- Isso reduziria o custo do trabalho, aumentaria o salário real, aumentaria a produtividade e diminuiria a informalidade. O ganho seria substancial para a economia, o problema é que pode ter sobrado pouco espaço para desoneração depois dos benefícios fiscais concedidos pelo governo - calcula Camargo.
O número de pessoas desocupadas, nas seis capitais que o IBGE pesquisa, saltou de 1,743 milhão para 2,036 milhões entre outubro de 2008 e maio de 2009, nos piores meses da crise. Uma alta de 16%. No mesmo período entre 2007 e 2008, houve redução de 9,2% no total de pessoas desocupadas.
Desigual, como tudo, o desemprego atinge mais alguns que outros: os muito jovens, as mulheres e os acima de 50 anos. O desemprego em maio foi de 8,8% no geral, mas para homens foi de 7,3%, e para mulheres, 10,7%. Para os de 18 a 24 anos foi de 18,9%.
A taxa de desemprego para pessoas com mais de 50 anos é mais baixa, mas a tendência de criar empregos nesta faixa se inverteu. Entre outubro de 2008 a maio de 2009, o número de pessoas com mais de 50 anos desempregadas cresceu 18%. No mesmo período entre 2007 e 2008, houve queda de 16%.
Entre os mais jovens, de 18 a 24 anos, os efeitos são parecidos. Nesses oito meses de crise, o número de desempregados subiu 18%. No mesmo período entre 2007 e 2008, houve queda de 8,6%.
É bom que o desemprego esteja crescendo menos do que se temia, mas há pouco a se comemorar no mercado de trabalho.
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