Eleito para a presidência do Senado pela terceira vez por uma estranha coligação que colocou lado a lado o PT e o DEM, o senador José Sarney já não consegue mais se equilibrar no poder à custa apenas de seu bom relacionamento pessoal, e perdeu qualquer condição de presidir a Casa, onde mal tem colocado os pés nestes dias de crise. Já perdeu o apoio da maioria de seus pares, e o mínimo que lhe pedem é que se licencie por um período de 60 dias para que se apurem as mazelas que impedem o Senado de funcionar desde que ele foi eleito, no início do ano.
Seria uma maneira de deixar o cargo sem passar pelo vexame de ser julgado por seus pares, como já pediu o PSOL, partido que quer ver Sarney e seu fiel escudeiro, Renan Calheiros, sendo processados pelo Conselho de Ética do Senado.
Não parece haver muita margem de manobra para que Sarney mantenha seu cargo depois que o DEM — partido que é herdeiro da Frente Liberal, que deu uma renovada na biografia de vários políticos, inclusive na de Sarney, ao romper com o governo militar e apoiar a candidatura de Tancredo Neves à Presidência — negou-se delicadamente a manter o apoio à sua administração.
Todos, com raras exceções, tratam Sarney com o respeito devido a quem já foi presidente da República num processo de redemocratização do país. Mas pouco a pouco vão lhe dando as costas, por ser impossível apoiá-lo na situação atual, em que a gestão que ajudou a implantar na sua primeira presidência, e que conta com seu apoio público até hoje, se revela tão corrupta.
Restou ironicamente a Sarney, além de seu partido, o PMDB, o apoio solitário do presidente Lula e de parte do PT, e essa situação, de certa maneira, reflete a que ponto chegou a política do país, onde cada um assume o papel que melhor lhe serve naquele momento, sem guardar qualquer resquício de coerência com a vida política anterior.
A defesa da senadora petista Ideli Salvatti, em nome do governo e ainda não do seu partido, foi patética.
Como não pudesse defender as práticas adotadas nos últimos anos no Senado, defendeu Sarney com a tese que é usada por dez entre dez petistas desde que chegaram ao poder central: sempre foi assim, não se pode culpar apenas uma pessoa.
Além do fato de que o senador Sarney está exercendo a presidência do Senado pela terceira vez e que foi na sua primeira gestão que Agaciel Maia assumiu a direção-geral da Casa, não é possível aceitar que mais uma vez seja a feita a defesa política com a desculpa de que “sempre foi assim”.
É até admissível que o próprio Sarney pense assim, pois ele está apenas traduzindo o seu entendimento do que seja fazer política, mas essa visão apequenada da política não deveria prevalecer no Senado e nem ser motivo de defesa de um governo comprometido com os avanços da instituição.
Mas o fato é que há muito tempo o governo Lula está comprometido apenas com uma coisa: a manutenção do poder político e a construção de uma candidatura viável para sua sucessão.
Para tanto, precisa do apoio do PMDB que, pelo menos nesse episódio, mostrou-se unido. Dos 16 senadores do PMDB, apenas dois, além do próprio Sarney, não assinaram a nota de apoio do partido: Jarbas Vasconcelos, que se recusou, e Pedro Simon (RS), que foi operado de emergência.
Mas certamente Simon não assinaria o documento, pois já pediu da tribuna do Senado a licença do senador Sarney da presidência, mesma posição assumida pelo PSDB, pelo DEM e pelo PDT.
O PSOL foi mais adiante, e pediu a abertura de uma CPI para apurar todas as falcatruas do Senado nos últimos anos, e entrou com um processo no Conselho de Ética do Senado contra o atual presidente, José Sarney, e o ex-presidente Renan Calheiros.
O cerco está se fechando, e é improvável que Sarney resista por muito mais tempo. Já não tem mais condições de presidir uma sessão plenária, raramente vai ao Senado e, e quando vai, fica preso em seu gabinete.
Não é uma situação politicamente sustentável, e o mais provável é que acabe aceitando as sugestões para que afaste temporariamente para que as investigações sejam feitas sem a sua interferência.
A situação é tão grave que o DEM como partido não aceitou a tese de que estava, na prática, comandando as ações no Senado a partir do momento em que o primeiro-secretário, Heráclito Fortes, assumira de fato a reforma administrativa, afastando diversos diretores ligados a Agaciel Maia.
A questão é que já passou o momento em que apenas fazer uma faxina completa na administração do Senado bastaria para manter os dedos e os anéis dos senhores senadores.
À medida que foram aparecendo todos os problemas relacionados com a gestão do Senado, que se transformou em uma fonte de irregularidades a par tir da crescente influência exercida pelos “agacielboys”, ficou claro que o “paraíso” de que falava Darcy Ribeiro fora forjado à base da corrupção e da leniência com o dinheiro público.
Será preciso mais do que uma simples reforma administrativa para devolver a credibilidade dos senhores senadores, e é isso que o senador José Sarney parece não ter entendido até o momento.
Ele se tornou o símbolo dessa distorção, e só sua saída dará credibilidade às medidas que venham a ser tomadas no futuro.
Seria uma maneira de deixar o cargo sem passar pelo vexame de ser julgado por seus pares, como já pediu o PSOL, partido que quer ver Sarney e seu fiel escudeiro, Renan Calheiros, sendo processados pelo Conselho de Ética do Senado.
Não parece haver muita margem de manobra para que Sarney mantenha seu cargo depois que o DEM — partido que é herdeiro da Frente Liberal, que deu uma renovada na biografia de vários políticos, inclusive na de Sarney, ao romper com o governo militar e apoiar a candidatura de Tancredo Neves à Presidência — negou-se delicadamente a manter o apoio à sua administração.
Todos, com raras exceções, tratam Sarney com o respeito devido a quem já foi presidente da República num processo de redemocratização do país. Mas pouco a pouco vão lhe dando as costas, por ser impossível apoiá-lo na situação atual, em que a gestão que ajudou a implantar na sua primeira presidência, e que conta com seu apoio público até hoje, se revela tão corrupta.
Restou ironicamente a Sarney, além de seu partido, o PMDB, o apoio solitário do presidente Lula e de parte do PT, e essa situação, de certa maneira, reflete a que ponto chegou a política do país, onde cada um assume o papel que melhor lhe serve naquele momento, sem guardar qualquer resquício de coerência com a vida política anterior.
A defesa da senadora petista Ideli Salvatti, em nome do governo e ainda não do seu partido, foi patética.
Como não pudesse defender as práticas adotadas nos últimos anos no Senado, defendeu Sarney com a tese que é usada por dez entre dez petistas desde que chegaram ao poder central: sempre foi assim, não se pode culpar apenas uma pessoa.
Além do fato de que o senador Sarney está exercendo a presidência do Senado pela terceira vez e que foi na sua primeira gestão que Agaciel Maia assumiu a direção-geral da Casa, não é possível aceitar que mais uma vez seja a feita a defesa política com a desculpa de que “sempre foi assim”.
É até admissível que o próprio Sarney pense assim, pois ele está apenas traduzindo o seu entendimento do que seja fazer política, mas essa visão apequenada da política não deveria prevalecer no Senado e nem ser motivo de defesa de um governo comprometido com os avanços da instituição.
Mas o fato é que há muito tempo o governo Lula está comprometido apenas com uma coisa: a manutenção do poder político e a construção de uma candidatura viável para sua sucessão.
Para tanto, precisa do apoio do PMDB que, pelo menos nesse episódio, mostrou-se unido. Dos 16 senadores do PMDB, apenas dois, além do próprio Sarney, não assinaram a nota de apoio do partido: Jarbas Vasconcelos, que se recusou, e Pedro Simon (RS), que foi operado de emergência.
Mas certamente Simon não assinaria o documento, pois já pediu da tribuna do Senado a licença do senador Sarney da presidência, mesma posição assumida pelo PSDB, pelo DEM e pelo PDT.
O PSOL foi mais adiante, e pediu a abertura de uma CPI para apurar todas as falcatruas do Senado nos últimos anos, e entrou com um processo no Conselho de Ética do Senado contra o atual presidente, José Sarney, e o ex-presidente Renan Calheiros.
O cerco está se fechando, e é improvável que Sarney resista por muito mais tempo. Já não tem mais condições de presidir uma sessão plenária, raramente vai ao Senado e, e quando vai, fica preso em seu gabinete.
Não é uma situação politicamente sustentável, e o mais provável é que acabe aceitando as sugestões para que afaste temporariamente para que as investigações sejam feitas sem a sua interferência.
A situação é tão grave que o DEM como partido não aceitou a tese de que estava, na prática, comandando as ações no Senado a partir do momento em que o primeiro-secretário, Heráclito Fortes, assumira de fato a reforma administrativa, afastando diversos diretores ligados a Agaciel Maia.
A questão é que já passou o momento em que apenas fazer uma faxina completa na administração do Senado bastaria para manter os dedos e os anéis dos senhores senadores.
À medida que foram aparecendo todos os problemas relacionados com a gestão do Senado, que se transformou em uma fonte de irregularidades a par tir da crescente influência exercida pelos “agacielboys”, ficou claro que o “paraíso” de que falava Darcy Ribeiro fora forjado à base da corrupção e da leniência com o dinheiro público.
Será preciso mais do que uma simples reforma administrativa para devolver a credibilidade dos senhores senadores, e é isso que o senador José Sarney parece não ter entendido até o momento.
Ele se tornou o símbolo dessa distorção, e só sua saída dará credibilidade às medidas que venham a ser tomadas no futuro.
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