DEU NO JORNAL DO BRASIL
O rumo que a classe média tomar na eleição deste ano tem tudo, pelo menos em princípio, para confirmar a continuidade da democracia e reduzir a folga ética praticada de maneira equivocada abaixo do Equador.
Só não se sabe até quando.
A falta de consequência legal para práticas inaceitáveis ou a interrupção das investigações por motivos aleatórios, de força maior e no pior sentido, continuam a perverter os costumes.
Partindo do princípio de que não há como piorar o teor da representação política com graves danos à credibilidade democrática, como passou a ser desde o mensalão, a conclusão é pela necessidade de um ponto de inflexão, a partir do qual a classe média entornará o caldo.
Por mais qualificado que seja o eleitor dessa faixa social, espremida entre o nível superior de renda e o inferior, que não são expressos em números, o que genericamente se entende como classe média, com margem de folga à direita e à esquerda, não para de crescer. Por enquanto, ainda é cedo para entender o que se passa na cabeça dessa gente que, para não se comprometer, limitase a manifestar-se em pesquisas de opinião. O anonimato funciona também no espaço cibernético que se expande socialmente com o exercício de pequenos textos, meia dúzia de linhas, opiniões veementes que traduzem mais irritação e impaciência do que raciocínio.
Na internet circula material que diz mais do quea intenção de voto. Vem aí a campanha eleitoral em novos termos.
Depois da eleição que se arma em estilo de tempestade de verão, com mais ruído do que chuva, será inevitável que a cidadania identifique novas formas de participação, mesmo que não sejam convencionais, antes que a opinião pública se solte das conveniências e procure um caminho natural como a água ensina a fazer quando entorna. A credibilidade da democracia representativa entraria em colapso se a Câmara e o Senado – sem falar nas assembleias legislativas e câmaras municipais, caixas de ressonância que desaprendem com o nível federal princípios elementares de democracia – deixassem os líderes de bancadas tomar decisões por seus liderados.
Só falta o voto por telepatia, substituído provisoriamente pelo telefone celular (obviamente tambémpago pela viúva), como etapa mínima de sobrevivência para o que restar do conteúdo representativo na evolução política brasileira.
Não é com reverência subalterna, a título de evitar o pior, que se aperfeiçoa a vida política, devedora de um exemplar ato de penitência por ter sido dócil às imposições do autoritarismo, nem sobre viver de favores que não dignificam o que se denomina democracia representativa.
Representativa de quê? Líderes que votam pelos liderados como se fosse pesquisa de opinião por falta de autoridade para exercer a função são coveiros (com carteira assinada) da democracia.
Ninguém desconhece que a classe média brasileira aprendeu o suficiente quando assistiu, transitiva e intransitivamente, à instabilidade que instalaram os governos militares e, depois de 20 anos, está elatestemunhando a desagregação do poder representativo, que não emana da simulação de líderes sem conteúdo.
Não se mede o grau de democracia pelo número de partidos políticos. O pequeno burguês tem visto de perto e deve ter aprendido o suficiente para entender o que se passou e não querer repetir lição. A alternância do poder se processa sem risco de retrocesso político, desde que se estabeleceu o princípio da maioria absoluta.
O resultado da aplicação da maioria absoluta e da alternância do poder já está na história. O pecado original de que a democracia precisa se libertar é a reeleição, que embaralhou o compasso da alternância natural a partir da tentação inevitável do terceiro mandato.
Wilson Figueiredo é jornalista
O rumo que a classe média tomar na eleição deste ano tem tudo, pelo menos em princípio, para confirmar a continuidade da democracia e reduzir a folga ética praticada de maneira equivocada abaixo do Equador.
Só não se sabe até quando.
A falta de consequência legal para práticas inaceitáveis ou a interrupção das investigações por motivos aleatórios, de força maior e no pior sentido, continuam a perverter os costumes.
Partindo do princípio de que não há como piorar o teor da representação política com graves danos à credibilidade democrática, como passou a ser desde o mensalão, a conclusão é pela necessidade de um ponto de inflexão, a partir do qual a classe média entornará o caldo.
Por mais qualificado que seja o eleitor dessa faixa social, espremida entre o nível superior de renda e o inferior, que não são expressos em números, o que genericamente se entende como classe média, com margem de folga à direita e à esquerda, não para de crescer. Por enquanto, ainda é cedo para entender o que se passa na cabeça dessa gente que, para não se comprometer, limitase a manifestar-se em pesquisas de opinião. O anonimato funciona também no espaço cibernético que se expande socialmente com o exercício de pequenos textos, meia dúzia de linhas, opiniões veementes que traduzem mais irritação e impaciência do que raciocínio.
Na internet circula material que diz mais do quea intenção de voto. Vem aí a campanha eleitoral em novos termos.
Depois da eleição que se arma em estilo de tempestade de verão, com mais ruído do que chuva, será inevitável que a cidadania identifique novas formas de participação, mesmo que não sejam convencionais, antes que a opinião pública se solte das conveniências e procure um caminho natural como a água ensina a fazer quando entorna. A credibilidade da democracia representativa entraria em colapso se a Câmara e o Senado – sem falar nas assembleias legislativas e câmaras municipais, caixas de ressonância que desaprendem com o nível federal princípios elementares de democracia – deixassem os líderes de bancadas tomar decisões por seus liderados.
Só falta o voto por telepatia, substituído provisoriamente pelo telefone celular (obviamente tambémpago pela viúva), como etapa mínima de sobrevivência para o que restar do conteúdo representativo na evolução política brasileira.
Não é com reverência subalterna, a título de evitar o pior, que se aperfeiçoa a vida política, devedora de um exemplar ato de penitência por ter sido dócil às imposições do autoritarismo, nem sobre viver de favores que não dignificam o que se denomina democracia representativa.
Representativa de quê? Líderes que votam pelos liderados como se fosse pesquisa de opinião por falta de autoridade para exercer a função são coveiros (com carteira assinada) da democracia.
Ninguém desconhece que a classe média brasileira aprendeu o suficiente quando assistiu, transitiva e intransitivamente, à instabilidade que instalaram os governos militares e, depois de 20 anos, está elatestemunhando a desagregação do poder representativo, que não emana da simulação de líderes sem conteúdo.
Não se mede o grau de democracia pelo número de partidos políticos. O pequeno burguês tem visto de perto e deve ter aprendido o suficiente para entender o que se passou e não querer repetir lição. A alternância do poder se processa sem risco de retrocesso político, desde que se estabeleceu o princípio da maioria absoluta.
O resultado da aplicação da maioria absoluta e da alternância do poder já está na história. O pecado original de que a democracia precisa se libertar é a reeleição, que embaralhou o compasso da alternância natural a partir da tentação inevitável do terceiro mandato.
Wilson Figueiredo é jornalista
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