Não é segredo para ninguém que os cidadãos não identificados com os partidos da atual base governista estão completamente desnorteados. Sentem-se à deriva, sem uma oposição que os represente, e temem uma deterioração ainda maior do presente quadro partidário.
Os Demos, habitando um galho mais baixo, não sofreram uma queda tão grande, mas vagam por aí como deserdados do PFL e primos pobres do PDS do Sr. Kassab.
Os eleitores tucanos esperavam mais, e não sem razão. Imaginaram que a fraca campanha presidencial de José Serra havia tocado o fundo do poço. Daquele ponto em diante, não havendo espaço abaixo, o natural seria o partido se reerguer, renovar sua agenda, equacionar as rivalidades internas entre Serra e Aécio e assumir o papel que lhe cabe como esteio da oposição.
Não viram nada disso. É certo que o ex-presidente Fernando Henrique tem conseguido manter o PSDB no noticiário e mostrado empenho na definição de uma nova agenda. Dos tucanos com mandatos eletivos, o que se tem ouvido, como diria Nelson Rodrigues, é um silêncio de estourar os tímpanos.
No capítulo das rivalidades, o que era “apenas” uma rota de colisão entre José Serra e Aécio Neves logo reapareceu com Geraldo Alckmin numa terceira ponta, como a prenunciar turbulências dignas do Triângulo das Bermudas.
Em situações como essa, eu sigo um preceito que a ciência política deve ter extraído das antigas lutas de gladiadores no Coliseu romano: “se quer saber o desfecho de um conflito, primeiro observe as reações da platéia”.
Pelo menos no que toca à classe média, minha impressão, de fato, é que o eleitorado tucano anda ressabiado com as três pontas do triângulo. Não que esperasse milagres ou subestimasse a força da presidente eleita e do complexo lulo-peto-peemedebista que a respalda. Não, não é isso.
A maioria percebe bem a atual disparidade de forças. O que ela não está disposta a digerir, como disse acima, é a surpreendente incapacidade dos políticos tucanos em: (1) se apropriar de uma plataforma oposicionista que pulula à vista de todos, bem na marca do pênalty; (2) estratificar e negociar as questões internas, a fim de evitar que as ambições de cada grupo ou candidato potencial terminem por afundar em definitivo o próprio partido.
Observem, por favor, que eu não sou de jogar pedras a torto e a direito nos políticos e nos partidos. Desde o início deste blog, tenho ressaltado como uma patética falta de realismo e um “principismo” exagerado muitas vezes levam eleitores tucanos e liberais a criticarem muito mais a seus próprios partidos que ao situacionismo peto-peemedebista.
Reconheço, porém, que o PSDB, está exagerando na dose da luta fratricida. A um ano e meio da eleição municipal e três e meio da presidencial, a contraposição entre grupos internos parece estar perdendo todo senso de proporção.
Acaso imaginam que o eleitorado tucano dará apoio incondicional ao partido, sejam quais forem as atitudes de seus líderes? Se imaginam, cuidado. Supor que eleitores aceitam ser computados de antemão como votos “por gravidade” é um equívoco que pode levar a graves conseqüências.
FONTE: BLOG DO BOLÍVAR
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