quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Cabo de guerra sobre CPI

Oposição obtém assinaturas para investigar Transportes, mas governo faz senador voltar atrás

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

No segundo dia de funcionamento do Congresso após o recesso, e um mês depois do início da crise nos Transportes, que já levou à demissão de quase 30 pessoas no Ministério e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a oposição conseguiu ontem as 27 assinaturas necessárias para a criação de uma CPI no Senado. A instalação da CPI, porém, ainda é uma incógnita. O Palácio do Planalto usou sua força e, ainda ontem à noite, conseguiu retirar a assinatura do senador João Durval (PDT-BA). Também se esforçava para convencer o senador Reditário Cassol (PP-RO) a fazer o mesmo. Enquanto isso, a oposição buscava apoio de outros descontentes da base aliada.

Durval, para justificar a retirada de sua assinatura, disse que, pressionado pelos dois lados, preferiu ficar com o governo, já que é da base aliada. O seu partido, o PDT, tem o titular do Ministério do Trabalho, Carlos Lupi, além de ocupar dezenas de delegacias regionais. Da mesma forma, o PP do senador Cassol tem o Ministério das Cidades. O governo não pretendia tentar a retirada de assinaturas dos dissidentes do PMDB.

As quatro últimas assinaturas foram coletadas enquanto o senador Alfredo Nascimento (PR-AM), ex-ministro dos Transportes, discursava na tribuna, negando seu envolvimento ou conivência com o suposto esquema de corrupção no Dnit. Para a oposição, o apoio de senadores da base aliada foi um sinal de que o ex-ministro não convenceu.

Das 27 assinaturas coletadas pelo líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), pelo menos dez são de parlamentares de partidos da base governista: quatro do PMDB, três do PDT, um do PMN e dois do PP. Além de Cassol e Durval, assinaram ontem o pedido de CPI os senadores Zezé Perrela (PDT-MG) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES). O requerimento foi enviado ontem mesmo à Secretaria Geral da Mesa do Senado, para a conferência das assinaturas.

- Se não fosse a base governista, não teríamos o número necessário de assinaturas - reconheceu o líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO).

Para o Planalto, foi um recado da base aliada

A notícia surpreendeu o Palácio do Planalto. Auxiliares da presidente Dilma Rousseff avaliaram que, mais do que uma ação da oposição, a iniciativa foi um recado da base aliada. Por essa avaliação, houve um "descuido proposital" do PMDB, que impedia a adesão à CPI. Um ministro reclamava que não houve nenhuma mobilização dos comandos partidários para evitar as assinaturas dos aliados. E reconheceu que a articulação política do governo, hoje sob o comando da ministra Ideli Salvatti, também falhou.

Após o estrago, o Planalto foi a campo e determinou ao líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), que tentasse retirar assinaturas do requerimento de CPI. O principal alvo passou a ser Reditário Cassol, suplente de Ivo Cassol (PP-RO), o último parlamentar a assinar a CPI. Segundo um auxiliar de Dilma, a CPI, se instalada, representará uma "faca no pescoço" do governo.

- Nenhuma CPI é boa para o governo, ainda mais uma que tem como alvo o Dnit, o que poderá paralisar o órgão. Mas, primeiro, vamos ver se vai ter mesmo CPI - disse Jucá mais cedo, antes de iniciar a ofensiva para retirar as assinaturas.

- Essa CPI está saindo com a assinatura de quem quer constranger a presidente Dilma - emendou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

O comportamento de líderes peemedebistas, após o anúncio da oposição de que conseguira as 27 assinaturas, só aumentou a desconfiança do governo. O presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), deixou claro que não pretendia constranger os quatro peemedebistas que apoiaram a CPI: Jarbas Vasconcelos (PE), Pedro Simon (RS), Roberto Requião (PR) e Ricardo Ferraço (ES).

- Não vou pedir a nenhum senador para retirar assinatura. Até porque, aqui, cada senador é uma entidade - avisou Raupp.

Antes do início do recesso parlamentar, a oposição já garantira a maioria das assinaturas. Agora, com a crescente insatisfação dos aliados, o senador Álvaro Dias não teve dificuldade para obter as quatro que faltavam.

- Foi uma demonstração de que as explicações e providências tomadas até agora pelo governo não foram suficientes para acabar com a crise no Ministério dos Transportes - disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

FONTE: O GLOBO

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