— Os partidos não passam de balcões de negócios. (Senador Pedro Taques, PDT-MT)
O que Dilma Rousseff tem de fato a enaltecer a menos de três meses de completar um ano de governo? A degola de quatro ministros, três deles por suspeita de envolvimento com malfeitos? E mais a troca imprevista de cadeira entre outros dois ministros para não ter que afastar mais um? Ou seria mais razoável nada cobrar de Dilma por enquanto?
Instalado há oito meses, a que veio o novo Congresso? Cada vez mais atrelado ao governo, mexe-se com maior ou menor rapidez a depender exclusivamente do governo. No caso, mexe-se devagar. De notável, aprovou uma lei que prorroga a juventude até a idade de 29 anos para os aficionados por futebol e ingresso barato.
No primeiro ano de governo de uma mulher, a mais formidável novidade, capaz de influir no destino político do país, foi produzida por um homem sem carisma, de escasso brilho pessoal, mas herdeiro da lábia dos antigos mascates, e da disposição que os levava a oferecer sua mercadoria de porta em porta, obstinadamente.
Cuidado com quem descende de santo. Descendo de um — São Leonard de Noblat, o protetor das mulheres grávidas. Mas dispenso cuidados. Sobrinho-bisneto de Nimatullah Yousseff Kassab Al-Hardini, santo da Igreja Maronita canonizado por João Paulo II em 2004, Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, inspira cuidados aos seus adversários.
Em prazo recorde, ele criou o Partido Social Democrático (PSD) — o 29º reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Estima-se que o PSD tenha nascido com cerca de 55 deputados federais, dois senadores, dois governadores, 600 prefeitos e seis mil vereadores. Na Câmara dos Deputados, talvez só fique atrás do PMDB e do PT.
Kassab apostou na ruína do DEM, seu antigo partido, em baixa desde que o PT chegou ao poder com Lula. Apostou no enfraquecimento do PSDB, sem discurso e circunscrito a alguns Estados. E apostou na insatisfação de muitos políticos dos partidos da base de apoio ao governo Dilma. Ganhou todas as apostas.
Causou irritação aqui fora e euforia dentro dos partidos quando proclamou: "Meu partido não será de direita, nem de esquerda nem de centro". Haveria, pois, lugar nele para todo mundo. E, assim, todo mundo resolveu dar uma mão ao PSD. Ele foi montado com a ajuda da maioria dos governadores. E serve aos mais variados propósitos.
No Rio, por exemplo, o PSD é do governador Sérgio Cabral e fará dobradinha com o PMDB. No Maranhão, é da família Sarney. Na Bahia, o governador Jacques Wagner usou o PSD para enfraquecer o DEM do deputado ACM Neto. Eduardo Campos e Cid Gomes, governador do Ceará, ambos do PSB, desviaram correligionários para o PSD.
Muitos ganharam com a invenção do PSD. Mas ninguém ganhou mais do que Kassab. Em 2004, candidato a prefeito de São Paulo, Serra fez cara feia para o DEM, que bancou Kassab como seu vice. Agora, é Kassab quem oferece ao PSDB de Serra e de Geraldo Alckmin a vaga de vice-prefeito na chapa a ser encabeçada por um nome do PSD.
Esse nome pode vir a ser o de Afif Domingos, atual vice de Alckmin. Em troca do apoio do PSDB a Afif, Kassab promete apoiar a reeleição de Alckmin em 2014. Se o PSDB, contudo, preferir desprezar a aliança com o PSD, Kassab então lançará para prefeito Henrique Meirelles, que na última sexta-feira se filiou ao PSD.
Por acaso, tem alguém com mais bico e plumagem de tucano do que o ex-deputado federal pelo PSDB de Goiás Henrique Meirelles? Tem alguém com trânsito mais livre entre eleitores do PT do que Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central no governo Lula? Meirelles é presidente do Conselho Olímpico no governo Dilma.
Em São Paulo, berço político do PSDB e do PT, o PSD de Kassab é candidato a dar as cartas, ora enfrentando os dois ao mesmo tempo, ora se juntando com um deles. Doravante, em Brasília, quando algo relevante começar a ser discutido no governo ou no Congresso, alguma voz haverá de perguntar: "O que Kassab acha disso?"
FONTE: O GLOBO
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