segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sakineh, ainda presa, será executada

O juiz responsável pelo caso da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte por adultério e assassinato do marido, afirmou que a execução, suspensa há quase um ano, está mantida. Segundo o juiz, só resta decidir se Sakineh será enforcada ou apredejada.

Sakineh será apedrejada ou enforcada, diz juiz

Responsável pelo caso de iraniana condenada confirma execução da pena de morte, um ano após suspensão

TEERÃ. Há quase um ano longe dos olhos da opinião pública internacional, a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani pode voltar aos holofotes em breve. Acusada de adultério e do suposto homicídio do marido, ela teve a execução suspensa em janeiro de 2011. Mas, ontem, juiz responsável pelo caso afirmou que a sentença está sendo estudada e que a Justiça do Irã não duvida da culpa. Restaria apenas decidir se a mulher será apedrejada, como previsto inicialmente, ou enforcada.

- Não há pressa. Estamos esperando para ver se podemos realizar a execução de uma pessoa condenada por apedrejamento ou enforcamento - disse Malek Ajdar Sharifi, chefe do Departamento de Justiça da província de Azerbaijão do Leste, onde Sakineh está presa, segundo a agência de notícias Isna. - Assim que o resultado da investigação sair, nós concretizaremos a sentença.

O juiz reafirmou que a pena para uma mulher casada que manteve um relacionamento ilícito exige o apedrejamento. Ainda segundo Sharifi, o chefe do Judiciário iraniano, aiatolá Sadeq Larijani, ordenou a suspensão do apedrejamento para permitir que peritos islâmicos investigassem se a punição poderia ser alterada.

Sakineh foi condenada por adultério em 2006. A iraniana, que teria hoje 44 anos, admitiu o "crime" após levar 99 chibatadas. Ela chegou a retirar a confissão, mas o ato não teve qualquer efeito na determinação de três dos cinco juízes que participaram de seu julgamento.

Abaixo-assinado recolheu 447 mil adesões

A comoção provocada mundo afora pelo caso, denunciado por entidades de direitos humanos, fez sua sentença ser suspensa algumas vezes - embora o Judiciário sempre defendesse de que se tratava de uma punição "definitiva e aplicável". A campanha pela soltura de Sakineh chegou à internet, onde simpatizantes criaram um site (freesakineh.org), que, até ontem à noite, já contava com mais de 447 mil assinaturas. O movimento ganhou a adesão de personalidades como os brasileiros Fernando Henrique Cardoso e Chico Buarque, o cantor Sting e a atriz Catherine Zeta-Jones.

Em agosto do ano passado, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou até a oferecer asilo político à iraniana.

O apelo, porém, não comoveu Teerã. Segundo um porta-voz da chancelaria iraniana, Lula estaria "desinformado" sobre o caso.

Primeira-dama da França, Carla Bruni escreveu uma carta a Sakineh, reproduzida pela imprensa. A mídia estatal de Teerã contra-atacou, chamando Carla de "prostituta". O Vaticano também afirmou acompanhar o caso.

Como resposta ao acirramento da pressão internacional, Sakineh foi levada duas vezes à TV estatal, onde admitiu sua suposta participação no assassinato de seu marido. Em uma delas, a gravação foi feita em sua casa. Os dois filhos da condenada - Saide e Sajjad, de 17 e 22 anos - pediram ajuda à Organização das Nações Unidas, denunciando que a mãe fez as confissões após ter sido torturada. A ONU votou, em março, pela investigação de abusos aos direitos humanos no Irã.

Dois meses antes, o país já teria decidido comutar a pena para dez anos de prisão. Agora, parece ter mudado novamente de ideia Espera-se que as declarações do juiz, de que Sakineh será mesmo executada, voltem a causar comoção entre a opinião pública internacional .

FONTE: O GLOBO

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