segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Metonímia eleitoral:: José Roberto de Toledo

A presidente Dilma Rousseff exagerou mandando três ministros irem pessoalmente assistir às consequências do incêndio de uma favela no centro de São Paulo, na quinta-feira. O trio não sabia como ir nem o que fazer. Por sorte ou azar, nem os dois corpos da tragédia despertaram clamor nacional. Mas demonstrar preocupação com fatos sensíveis à opinião pública é vital à popularidade de um governante. Melhor errar pelo excesso do que pela omissão.

A lição que a novata Dilma tenta aprender já foi um dos trunfos do agora veterano prefeito Gilberto Kassab. Logo que assumiu a Prefeitura de São Paulo, devido à renúncia de José Serra, o então neófito Kassab dava plantão ao lado do buraco do metrô que engoliu sete pessoas em 2007. Mesmo sem ser sua responsabilidade direta - a obra é estadual -, ele era sempre a autoridade mais disponível para dar entrevistas e satisfações. Matou a crise no peito e faturou com ela.

No começo deste ano, durante a inauguração da estação que desabou, Kassab foi vaiado. Por essa época, sua popularidade já afundava pelos subterrâneos. Entre um evento e outro, o prefeito deixou transparecer que dava menos importância à administração da caótica cidade do que à criação de mais um partido quântico - que não está no centro, nem na esquerda, tampouco na direita do espectro político, muito pelo contrário. Kassab esqueceu-se da própria lição.

Na quinta-feira, o prefeito foi pessoalmente ao local do incêndio. Nova vaia. A desaprovação ao seu governo está ainda mais profunda do que uma estação de metrô. As entrevistas ao lado do local da tragédia já não satisfazem. As aparências são só aparências. Está difícil para o prefeito escapar do buraco de impopularidade em que se meteu.

Já o exagero presidencial indica o quanto Dilma vai tentar influir na eleição paulistana no próximo ano. Para a mineira radicada gaúcha e famosa por sua passagem por Brasília, São Paulo é o centro estratégico da disputa eleitoral de 2012.

No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, por exemplo, a corrida eleitoral tem favoritos aparentes, ambos aliados de Dilma (ao menos no papel). Hoje, esses pleitos prometem ser mais passeios eleitorais do que embates acirrados. Eleições assim despertam menos interesse da mídia e do público de fora da cidade. Vitórias dos favoritos não são conquistas, são obrigação.

É o oposto do que acontece em São Paulo. A eleição na maior cidade do País é o grande palco do embate entre o PT e a oposição federal - num cenário onde, pela primeira vez, todos os candidatos convivem na planície do semianonimato. Quem galgar um lugar no segundo turno já terá conquistado uma vitória. Com a liderança disputada voto a voto, promete ser uma eleição emocionante e chamar atenção além das fronteiras da cidade. Mas não é só isso.

Se perder mais uma vez nas urnas na capital paulista, o PT verá ofuscado o impacto de um eventual crescimento em outras metrópoles do País. Ganhar de volta o comando de São Paulo, após oito anos, teria um efeito simbólico único. Dilma conquistaria uma vitória que Lula não logrou em 2004 nem em 2008. Um candidato petista - a presidente, governador ou prefeito - não consegue maioria na cidade desde 2002, quando Lula chegou a 51% dos votos válidos.

Do lado do PSDB, o pleito também é vital. O pico de popularidade tucana na capital paulista foi em 2006, quando alcançou maioria absoluta para presidente (nos dois turnos) e governador (no 1.º e único turno). Desde então a votação do partido na cidade teve altos e baixo: Serra ganhou de Dilma nos dois turnos em 2010, mas não alcançou o patamar de Geraldo Alckmin quatro anos antes; sem contar 2008, quando o PSDB, rachado, não chegou nem ao 2.º turno.

Por enquanto, o lance mais ousado da oposição em São Paulo foi o movimento de Aécio Neves tentando aproximar o PSDB do PMDB. Na cidade, uma coligação dos dois partidos isolaria o PT e multiplicaria o tempo de TV para o candidato da chapa unificada. Em Brasília, criaria mais um embaraço para a dificultosa relação entre peemedebistas e petistas.

A articulação PSDB-PMDB em São Paulo é improvável, pois implicaria os tucanos abrirem mão de ter um candidato para serem vice de Gabriel Chalita. Mas está em linha com a tática de Aécio de minar as alianças eleitorais do PT, já visando 2014. De quebra, o senador mineiro cria um constrangimento para o rival Serra. O lance confunde ainda mais uma eleição na qual o PSDB está atrasado em relação ao PT, que ao menos já escolheu o seu candidato anônimo.

Por essas e outras, o pleito paulistano é a metonímia das eleições de 2012, a parte pelo todo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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