quinta-feira, 17 de maio de 2012

Governistas impedem convocação dos presidentes do BNDES, Delta e J&F

Caio Junqueira e Maíra Magro

Vanderlei Macris: "Basta ver o número de parlamentares que hoje estão aqui para derrubar o requerimento"

A tropa de choque governista na Câmara dos Deputados impediu ontem a aprovação de um requerimento da oposição na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, cujo objetivo era convocar o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e representantes da construtora Delta - principal empresa envolvida no escândalo envolvendo Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira - e da holding J&F Participações.

Os pedidos foram apresentados pelo PSDB e pelo PPS, para obter esclarecimentos sobre a compra da Delta pela holding. A principal justificativa era de que o frigorífico JBS, uma das principais empresas da holding, recebeu nos últimos anos aportes financeiros do BNDES.

Alguns dos principais articuladores do Palácio do Planalto estiveram presentes na comissão, como o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), o líder do PT, Jilmar Tatto (SP), e o vice-líder do governo, José Guimarães (PT-CE).

Eles fecharam acordo com a oposição para transformar as convocações em requerimentos de informação ao Ministério do Desenvolvimento, sobre eventual interferência do governo nas negociações e envolvimento de recursos do BNDES na transação. O ministério tem 30 dias para responder.

A oposição não gostou. "É pública e notória a mobilização do governo quando se trata da Delta. Basta ver o número de parlamentares que nunca estão aqui e hoje estão para derrubar o requerimento", disse o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP).

Os governistas, contudo, refutaram essa argumentação. "Estão querendo fazer aqui uma sucursal da CPI. Me parece que tem um esquema de corrupção no Estado de Goiás, então por que o governador de Goiás [Marconi Perillo, do PSDB] não aparece nos requerimentos? Se vocês na CPI não conseguem colocar a agenda que querem, não é aqui que farão isso", disse o vice-líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ).

Segundo Cunha, toda vez que há a votação de requerimento para convocar autoridade do governo, a base se mobiliza para derrubar. O líder do PT, Jilmar Tatto (PT-SP), também minimizou a operação governista. "Não houve preocupação em derrubar as convocações.
Todos os líderes estavam ali para prestigiar a ministra Ideli Salvatti, que falaria na sequência."

Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as relações de Cachoeira com políticos e empresas, o PSDB trabalha para que o governador de Goiás não seja convocado sozinho. "Não vamos permitir que Perillo fique como boi de piranha dessa CPI. Se chamar um, tem que chamar os outros", disse o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).

Lideranças tucanas se reuniram na terça-feira à noite com o governador goiano e parlamentares do partido integrantes da CPI, para ouvir explicações sobre as denúncias envolvendo seu nome e discutir estratégias de atuação na comissão.

A comissão reúne-se hoje para votar diversos requerimentos. Devem ser aprovadas as quebras de sigilo de empresas de fachada de Cachoeira e, talvez, da Delta, pelo menos no que se refere a suas operações no Centro Oeste. Alguns integrantes querem também que sejam votadas as convocações de governadores e representantes da Delta.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) estuda chamar os governadores de Tocantins, Siqueira Campos (PSDB), e do Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB). "Começam a surgir fortes elementos [contra os dois governadores]", disse Randolfe, mencionando supostos contratos entre empresas ligadas a Cachoeira e esses governos. O senador ressalva que os indícios mais fortes são contra Perillo e, em segundo lugar, contra Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ).

Ontem, representantes da defesa de Cachoeira estiveram na sala cofre do Senado onde estão guardados os documentos das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, enviados à CPI. O advogado Augusto de Arruda Botelho - que representa Cachoeira, no grupo liderado pelo advogado Márcio Thomaz Bastos - disse que, do material que encontrou na sala cofre, a defesa ainda não havia tido acesso à íntegra do inquérito da operação Vegas, já que a denúncia contra Cachoeira foi gerada principalmente pelo material da Monte Carlo.

O advogado afirmou que outros profissionais seriam deslocados para analisar a documentação, mas adiantou que não teriam tempo para verificar tudo. A defesa ainda não decidiu se pedirá novo adiamento do depoimento de Cachoeira à CPI, marcado para terça-feira. Com o acesso dos advogados à documentação, ficou prejudicada a liminar que adiou o depoimento desta semana, concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello.

Parlamentares contestaram a fala do advogado. "Pode ter certeza de que os advogados do Cachoeira têm muito mais documentos que nós temos em nossa sala secreta. E o que temos é falho. Há pastas em branco, arquivos corrompidos, que não abrem. Foi um pretexto para protelar o depoimento do Cachoeira", disse o líder da bancada tucana no Senado, Alvaro Dias (PR). "É uma medida protelatória, mas ele tem o direito de permanecer em silêncio", concordou o senador Randolfe. "Mas será o fim da picada se o Supremo, de novo, deixá-lo não comparecer." (Colaborou Raquel Ulhôa)

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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