A troca – obviamente desmentida – da entrada de Marta Suplicy na campanha de Fernando Haddad pela nomeação dela para o ministério da Cultura, com a sumária demissão de Ana de Hollanda, marcou o engajamento pleno da presidente Dilma Rousseff nessa campanha. Cuja relevância e cujos riscos, para Lula e para o PT, cresceram, de um lado, pelo insucesso dos candidatos do lulopetismo nas capitais das diversas regiões do país (com exceção de Goiânia) – com destaque para os do Recife, de Fortaleza, de Belo Horizonte e até agora de Salvador -, e, de outro lado, pelo avanço do julgamento do mensalão, com efeito sobretudo em São Paulo. Relevância e riscos que tornaram a disputa na capital paulista prioritária também para a presidente Dilma, por esses mesmos motivos e em especial pelo fracasso, já praticamente inevitável, da candidatura por ela própria articulada para a prefeitura da capital mineira – a de Patrus Ananias, com o objetivo maior de derrotar o adversário à vista de 2014, Aécio Neves, patrono da do candidato à reeleição Márcio Lacerda.
Neste cenário, ela se junta a Lula e à nova ministra Marta numa intensa ofensiva para tirar Haddad do terceiro lugar na disputa paulistana, levando-o a um 2º turno contra o azarão Celso Russomanno. E para evitar o pior – sua exclusão do embate final pelo tucano José Serra. Empreitada similar à deste, que, embora mantendo o segundo lugar nas pesquisas, pode ficar fora da etapa decisiva, ultrapassado pelo petista – que seria o resultado mais negativo de sua campanha. E com a semelhança também, para os dois, quanto à improvável perspectiva de um 2º turno entre ambos, como dividendo de um desmonte da liderança de Russomanno nos 25 dias restantes de enfrentamento entre os três.
Para esse enfrentamento, a resposta que o candidato do PSDB está dando à ofensiva pró-Haddad de Lula e Dilma é a forte presença em sua propaganda eleitoral de dois apoiadores de peso – o governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente FHC. Combinada com a mistura de metas defensivas e ofensivas: reverter a elevada rejeição que segue apresentando (a pessoal e a decorrente da impopularidade do prefeito Gilberto Kassab); relacionar o adversário petista ao mensalão, evidenciar os estreitos vínculos de Russomanno com Edir Macedo e seu grupo religioso; e caracterizá-lo como um despreparado para a gestão da prefeitura de São Paulo. Caracterização também feita por Haddad por meio da advertência de que a eleição dele seria, ou será, um “perigoso salto no escuro”.
Infraestrutura. Busca de investidores mas subordinados a sócio estatal
A resistência, ou recusa, das grandes operadoras ex-ternas de terminais aeroportuárias à proposta de participarem da segunda etapa de concessões na área, que lhes foi levada daqui, expôs os limites da abertura à parceria de investidores privados na expansão e modernização de nossa infraestrutura, que a presidente Dilma resolveu adotar após reconhecer, enfim, a inexistência de re-cursos públicos suficientes para isso. Tal abertura tem uma contradição básica: busca atrair investidores – deixando para trás, ou contornando, a hostilidade a eles por parte do radicalismo petista – mas por meio de critérios que propiciem o controle estatal das associações gestoras dos vários empreendimentos, especialmente dos de maior vulto. Critérios que terminam se impondo ao fim dos projetos federais de parcerias. Seja para conter as fortes reações contrárias que eles suscitam. Seja pela sedução que o modelo chinês de capitalismo de estado segue exercendo sobre a presidente e seu entorno tecnocrático. E critérios que explicam o empenho do Palácio do Planalto para combinar a referida abertura à criação de novas estatais, como a Infrapar programada como braço executivo da Infraero para dispor do controle acionário de consórcios de concessões aeroportuárias.
Ao invés desse controle, o que o governo Dilma deve-ria fazer para respaldar a qualidade e a eficiência das parcerias na infraestrutura, bem como para prover um ambiente político e institucional favorável aos negócios, seria o revigoramento das agências reguladoras de serviços públicos. Quase todas marginalizadas e submetidas à um grosseiro aparelhamento partidário.
Jarbas de Holanda é jornalista
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