O governo Dilma está sempre se surpreendendo
com o fiasco da economia. Nunca é como prevê, o que mostra que não controla o
processo e só tenta entender o que deu errado quando não há como reverter o
passado.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por
exemplo, passou semanas garantindo que "agora a coisa vai". E cravou
suas apostas num avanço do PIB no terceiro trimestre (sobre o anterior) de pelo
menos 1,2%. Veio apenas metade disso.
O governo vai fracassando também no seu plano
de obter um excelente resultado no quarto trimestre deste ano que se repetiria,
como cocos da Bahia, nos trimestres seguintes. Na vida como ela é, a economia
chegará a 2013 com ainda menos tração do que aquela com que os mais realistas
vinham contando. Isso significa que o tal avanço do PIB brasileiro, de 4,0% a
4,5% ao ano, vai sendo indefinidamente adiado - embora Mantega redobre a aposta
perdedora.
Os números sobre a Formação Bruta de Capital
Fixo (FBCF), nome e sobrenome do investimento, revelados ontem pelo IBGE,
mostram um retrocesso de 2,0% em relação ao segundo trimestre do ano e de 5,6%,
ante o terceiro trimestre de 2011 (veja, ainda o Confira). O setor produtivo
está perdendo capacidade de semear e, portanto, não pode mesmo colher.
Uma a uma, as previsões reluzentes vão se
frustrando e, assim, o setor produtivo privado vai perdendo também a confiança.
O empresário consolida sua percepção de que tem coisa errada na estratégia
adotada. Se isso é assim, ele não arrisca e mantém o tal espírito animal dentro
do armário. Os projetos de investimento ficam adiados para quando as coisas
começarem a dar certo.
O governo Dilma já esgotou a sua capacidade
de malhar os culpados pela estagnação: a crise externa; o tsunami monetário e a
guerra cambial, impostos pelos grandes bancos centrais, especialmente pelo
Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos); os dirigentes
políticos europeus, que insistem no ajuste produzido pelo excesso de
austeridade; o ataque predatório das economias asiáticas ao mercado brasileiro;
os banqueiros tupiniquins, o alvo da vez, tão resistentes a destravar suas
operações de crédito; o câmbio supostamente fora de lugar; e os juros
escorchantes.
O desempenho do Brasil, em expansão do PIB e
em inflação, é o pior entre os Brics. A ênfase excessiva no consumo não leva a
lugar nenhum. Não adianta criar mercado interno com políticas distributivas. É
dar milho aos bodes chineses. A indústria nacional não consegue dar conta da
demanda. Os números do PIB divulgados ontem apontam para uma expansão do
consumo das famílias, em 12 meses, de 3,4%. E, enquanto isso, mesmo turbinada
com reduções de IPI e juros subsidiados, a produção industrial caiu 0,9%.
O governo Dilma tem somente mais dois anos de
mandato. Caso não promova uma rápida virada no que vem fazendo, corre o risco
de passar para a história como o que mais prometeu e menos entregou. (Amanhã
tem mais.)
Fonte: O
Estado de S. Paulo
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