quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Schahin diz que Bumlai era acesso indireto a Lula

Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico

SÃO PAULO - Em seu primeiro depoimento em delação premiada prestado à força-tarefa da Operação Lava-Jato, em Curitiba, o empresário Salim Schahin relatou que o pecuarista José Carlos Bumlai afirmou que poderia facilitar a negociação para que a Schahin conquistasse o contrato de operação do navio-sonda Vitoria 10000 da Petrobras. Ele também confirmou o empréstimo de R$ 12 milhões concedido a Bumlai, em 2004.

Segundo Schahin, o pecuarista teria dito que parte dos R$ 12 milhões poderia ser destinada ao PT. A delação do acionista do Grupo Schahin foi homologada na terça-feira pelo juiz federal Sergio Moro e está sob segredo de Justiça. Schahin terá de pagar multa de R$ 1,5 milhão a título de ressarcimento por prejuízo causado à Petrobras.

Ao procurador da República Diogo Castor de Mattos, Salim Schahin disse que, em 2007, Bumlai fez chegar a alguém da Schahin que ele mantinha uma interlocução muito próxima com o Palácio do Planalto e que isso poderia facilitar o negócio buscado pela empresa.

Um dos principais acionistas do grupo, responsável pelo banco da empresa, Salim Schahin contradisse a versão apresentada pelo também delator e ex-gerente da Petrobras, Eduardo Musa. O ex-gerente afirmara que a operação da sonda Vitoria 10000 teria sido entregue à Schahin em troca da quitação de uma suposta dívida de R$ 60 milhões da campanha de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva com o banco Schahin.

Mas, segundo relatou o empresário, a suposta dívida eleitoral milionária do PT nunca existiu, e Musa pode ter se confundido ou mentido para tentar obter benefícios em troca de informações. O PT tem dito que nunca fez empréstimo no valor de R$ 60 milhões com o banco Schahin.

Sobre a suspeita de o empréstimo de R$ 12 milhões ter sido contrapartida ao apoio de Lula para a obtenção do contrato da sonda (no valor de US$ 1,6 bilhão) sem licitação, Schahin disse que havia na empresa um entendimento de que o apoio de Bumlai representaria o apoio indireto do então presidente Lula. No entanto, o empresário ressaltou que nunca tratou diretamente com Lula sobre o negócio.

Salim Schahin explicou que não houve nenhuma amortização da dívida feita por Bumlai e que depois de algum tempo o empréstimo "acabou esquecido", porque não foi pago. Ele contou que somente em 2009 o banco Schahin viabilizou um acordo com Bumlai para liberá-lo da dívida.

Na versão apresentada pelo acionista da Schahin, a intermediação com Lula proposta por Bumlai foi um processo que se estendeu por dois anos. O empresário disse que as negociações que levaram a Schahin a conquistar a operação da sonda Vitoria 10000 envolveram tratativas financeiras, jurídicas e de engenharia "complexas".

Salim Schahin alegou que não houve fraude à licitação referente a sonda. Segundo ele, tratou-se de um negócio internacional e a Petrobras tinha o hábito de usar o modelo de carta-convite.

Por meio de sua assessoria de imprensa, Bumlai disse que "beira as raias da irresponsabilidade" a percepção de que ele poderia ser um intermediário entre grupos empresariais e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O próprio delator ressalva que nunca conversou com Lula sobre o negócio, nem ouviu do próprio Bumlai qualquer afirmação sobre suposto incentivo do petista".

O comunicado diz ainda que "José Carlos Bumlai efetivamente tomou empréstimo de R$ 12 milhões do Banco Schahin, mas pagou-o integralmente em 2009, em bens aceitos pela Securitizadora Schahin, cessionária do crédito do banco que, consequentemente, deu quitação do débito. Houve uma dação em pagamento, devidamente documentada. A pretensa informação de que a dívida teria sido 'perdoada' é, portanto, uma inverdade absoluta".

Procurado pela reportagem, o Instituto Lula disse que o ex-presidente nunca autorizou qualquer pessoa a negociar em seu nome.

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