• Senador defende que PMDB marque suas diferenças com o PT e vê interferência da Lava Jato nas eleições deste ano
Erich Decat e Caio Junqueira - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Cotado para assumir o segundo posto de comando do PMDB a partir de março, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-líder no Senado dos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), considera que o processo de impeachment de Dilma não perdeu força. Em entrevista ao Estado, Jucá ressaltou que em política nada está morto e os desdobramentos de um possível afastamento da presidente serão consequência de uma conjuntura.
Um dos articuladores do acordo de “união” realizado entre a bancada do PMDB do Senado e o vice-presidente Michel Temer, Jucá defende que o partido marque suas diferenças com o PT. Para ele, o PMDB não pode se limitar a ser “o partido governabilidade” e deve investir em bandeiras que estejam articuladas com a realidade. Em relação aos avanços no Congresso de propostas polêmicas com a recriação da CPMF, o peemedebista ressalta que a discussão da criação de impostos não pode ser separada da de corte de despesas pelo governo.
Sobre a Lava Jato, na qual é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal, diz que seus efeitos serão perceptíveis nas eleições municipais deste ano, mas que a operação não deve servir de base para as negociações políticas. Ele é investigado na operação por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção passiva, acusações das quais ele nega envolvimento.
O impeachment perdeu força no Congresso?
Não acho que perdeu (força). Em política nada está morto. Em política cada dia é uma conjuntura diferente. Impeachment é consequência de um conjuntura. Ela às vezes esquenta, às vezes esfria. Há dois meses a conjuntura do Brasil era outra. Mas não podemos discutir a solução do Brasil apenas após o impeachment porque ninguém sabe se vem, nem quando vem.
O acordo do PMDB do Senado com Temer está relacionado a essa avaliação do impeachment?
Não. Estamos trabalhando pela união do PMDB. O Michel é um ponto de equilíbrio no partido. Mas o PMDB precisa ter claramente bandeiras. O partido tem que ter uma identidade que a população saiba com clareza o que é que aquilo representa.
Mas isso já não foi feito com o documento lançado por Temer com propostas para o País, batizado de ‘Uma Ponte para o Futuro’?
É um documento teórico, não é um documento voltado para a população. Aquele documento precisa ser traduzido em programas para a população.
Então, o documento não é o programa do PMDB?
Não é. Ali tem algumas ideias. O posicionamento será construído. O que vamos fazer no encontro da Executiva é aglutinar, unir o partido, eleger uma Executiva que efetivamente represente as forças que são complementares.
Nesse processo de discussão interna, o PMDB vai buscar se distanciar do PT e do governo?
Queremos marcar as diferenças que nós temos dos outros partidos. Temos diferenças com o PT. Podemos ter equidades, mas temos diferenças também e isso tem que ficar claro para que efetivamente a leitura da população seja justa. Não podemos pagar por erros que não são nossos e não podemos ter também ganhos de ações que não são nossas. O nosso balizamento é a população brasileira, é a cobrança das ruas. Estamos vivendo um outro limiar. Os partidos que não entenderem isso estarão fora do jogo, virarão um dinossauro e vão desaparecer.
Mas haverá uma tentativa de o PMDB mostrar que é diferente do PT?
Acho que isso tem que ficar claro. O que se diz do PMDB é que o partido da governabilidade. Mas governabilidade não tem que ser bandeira de partido porque você está sendo escada para outro partido governar. O PMDB tem que ser um partido da educação, da primeira infância, da qualidade na segurança, na mobilidade urbana. Temos que ter bandeiras que as pessoas identifiquem como condições para elas ascenderem na vida.
O sr. é investigado na Lava Jato e foi relator de MPs com suspeitas de terem sido compradas, alvos de investigação na Operação Zelotes. Qual sua participação nos esquemas?
Não tenho relação com qualquer esquema. Desde o início me coloquei à disposição da PF para quaisquer esclarecimentos. É do meu interesse a celeridade dos processos.
Há uma leitura de que a união com Temer ocorreu devido ao avanço da Lava Jato sobre o PMDB do Senado.
Não tem nada a ver com Lava Jato. Estão sendo feitas as investigações. Se alguém tiver culpa tem que pagar. Houve um processo de investigação de todo mundo, o que é legítimo. Quem está na vida pública tem que dar explicações. Não há nenhum demérito em ninguém ser investigado, o demérito é ser condenado.
O avanço da Lava Jato poderá ter impacto na governabilidade?
Acho que não. A Lava Jato é uma questão grave no quadro político, mas esse dado não pode ser o parâmetro para se tocar as questões políticas, nem de gestão do País.
O avanço dela sobre Lula não pode afetar a governabilidade?
Não posso dar uma resposta porque não conheço os procedimentos de investigação. Seria leviano. Mas se pode dizer que o Lula hoje é um ponto de confronto político, como foi a Dilma no ano passado e ainda permanece. É mais uma frente de embate político.
Acredita que os desdobramentos da Lava Jato terá algum impacto nas eleições 2016?
O impacto para os partidos e as figuras que estão nestes processos já está comprometido. Não tenho dúvida. Quem tiver com qualquer tipo de problema vai ter que se explicar. O desgaste já está acontecendo. Em tese, há um desgaste efetivo mas se vai se prolongar até 2018, não dá para prever.
O que achou da ida da presidente ao Congresso?
Ela colocou algumas questões de reformas estruturantes. Foi um fator positivo ter vindo ao Congresso como uma forma de se colocar para o debate. Tocou em temas que são áridos para o próprio partido dela, portanto, teve um posicionamento corajoso em termo estruturais. Agora, a partir daí vamos ver como isso se transforma em realidade. Nós temos que ver a prática concreta das ideias.
A agenda do governo da reforma da previdência e CPMF contempla o PMDB?
O PMDB vai estudar a reforma. O partido entende que é preciso buscar o equilíbrio fiscal mas que tem que ser preservados os direitos. Temos que resolver o equilíbrio da previdência para que não tenha que acontecer no Brasil o que aconteceu com a Grécia e com a Europa que é cortar pagamentos de aposentados.
E a CPMF?
A CPMF vamos discutir no bojo das reforma estruturantes. A discussão de aumento de receita não pode ser separada da de corte de despesa, senão a população não entende e não passa no Congresso. Temos que discutir corte de despesa, reformas estruturantes e aumento de receita num único pacote porque eles estão interligados. O governo tem que fazer o dever de casa e mostrar para a sociedade que tipo de esforço o governo está fazendo para depois pedir um esforço dela. A questão não é só aumentar imposto, mas reprogramar o gasto público e alocar essa transição. Como vamos fazer isso? O governo vai ter que propor.
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