• Presidente nacional da legenda, Rui Falcão, acusa oposição e setores ‘capturados pela direita’ de praticarem violência política e moral contra ex-presidente; sigla avalia que falta uma defesa unificada sobre o caso envolvendo a propriedade rural em SP
Pedro Venceslau, Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O PT reforçou ontem a defesa pública do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo de suspeitas de ocultação de patrimônio e de receber favores de empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato. Em plena segunda-feira de carnaval, o presidente do partido, Rui Falcão, publicou artigo no qual acusa a oposição e setores “capturados pela direita” de tentarem o “linchamento político e moral” do petista. Ao mesmo tempo em que busca estabelecer uma reação, a cúpula petista avalia que o caso envolvendo o sítio em Atibaia (SP) é o que apresenta maior potencial de desgaste para o ex-presidente pela ausência de uma estratégia clara e definida de defesa.
Em caráter reservado um dirigente da sigla disse ao Estado que o entorno do ex-presidente Lula tratou sua defesa no caso do sítio de forma “amadora”. Petistas reclamam, ainda, da ausência de uma versão consolidada para embasar o discurso da militância. A cúpula da legenda cobra de Lula a contratação de uma equipe de advogados de peso, cuja a presença “intimide” o que chamam de “tentativa de linchamento”. Recentemente, Lula contratou o criminalista Nilo Batista, ex-governador do Rio, para defendê-lo por sugestão do deputado federal Wadih Damous (PT-RJ), espécie de conselheiro informal do ex-presidente para assuntos jurídicos.
A avaliação recorrente é que a resposta ao episódio do tríplex do Guarujá, no litoral paulista, demorou para acontecer, mas no final foi eficiente e não deixou “pontas soltas”.
Lula e sua mulher, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, foram intimados para prestar depoimento como investigados no inquérito do Ministério Público de São Paulo que apura empreendimentos da Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo (Bancoop) assumidos pela empreiteira OAS. Promotores suspeitam que Lula seja o verdadeiro dono do tríplex 164-A do condomínio Solaris, reformado pela empreiteira ao custo de R$ 770 mil.
Em nota recente, o Instituto Lula, presidido por Paulo Okamotto, admitiu que Lula visitou a unidade em 2014 acompanhado do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, e apresentou uma série de documentos reforçando a defesa de que a família do ex-presidente tinha a opção de compra do imóvel, mas desistiu no fim do ano passado. O condomínio Solaris também está na mira da força-tarefa da Lava Jato.
‘Constrangimentos’. Setores do PT, porém, temem que o sítio provoque mais “constrangimentos morais” para Lula. “Não tememos que haja algum tipo de desdobramento penal”, disse o dirigente petista. Na avaliação dele, não há mais como negar que ao imóvel era usado quase que exclusivamente por Lula e sua família.
A Lava Jato e o MP paulista investigam reformas na propriedade rural que está em nome de Fábio Bittar e Jonas Suassuna, dois sócios de um dos filhos de Lula. A suspeita é que as intervenções no imóvel de 173 mil metros quadrados foram feitas de forma informal pela OAS e a Odebrecht para favorecer a família do ex-presidente.
A assessoria do Instituto Lula já admitiu que o petista e familiares utilizam “em dias de descanso” o sítio. “Objetivamente, o sítio não é dele. Não vejo nenhuma ilegalidade no fato de o presidente frequentá-lo. Estão fazendo uma publicidade desproporcional em cima disso”, disse Damous. Nilo Batista preferiu não falar sobre a estratégia de defesa. “Não vou tratar disso pela mídia.”
Por enquanto, o PT tenta emplacar um movimento em “defesa” do ex-presidente por meio das redes e movimentos sociais. O partido lançou nas redes sociais um movimento convocando militantes e simpatizantes a adotar a hashtag #LulaEuConfio. “Lula está sofrendo uma auditoria na vida dele pelo Judiciário, mas não há qualquer ilegalidade que ele tenha cometido”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). “Estão cutucando a onça com vara curta”, afirmou o vice-líder do governo na Câmara, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que se reuniu anteontem com o ex-presidente no apartamento do petista em São Bernardo do Campo. “Lula é o líder do nosso campo político. Haverá reação e repercussão social.”
No seu artigo, Falcão conclamou a militância a combater a “escalada golpista” e o “cerco criminoso” ao ex-presidente.
“Nunca antes neste País um ex-presidente da República foi tão caluniado, difamado, injuriado e atacado como o companheiro Lula. Inconformado com sua aprovação inédita ao deixar o governo, o consórcio entre a oposição reacionária, a mídia monopolizada e setores do aparelho de Estado capturados pela direita quer convertê-lo em vilão”, diz o texto.
O dirigente tem feito apelos para que militantes saiam em defesa do ex-presidente. Na festa de aniversário do partido, nos dias 26 e 27, no Rio de Janeiro, os petistas preparam um ato de desagravo a Lula./ Colaborou Alfredo Mergulhão
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