- Folha de S. Paulo
Ofensa de Guedes a servidores só deu combustível a políticos que não querem reforma
No famoso episódio em que Fernando Henrique Cardoso tentou estabelecer uma idade mínima para as aposentadorias, a proposta foi derrotada por um voto. O deputado Antonio Kandir disse que se enganou e apertou o botão errado no plenário. Um colega fez troça: “Se for difícil apertar botão, fica difícil viver”.
O governo tinha maioria no Congresso, mas tombou com trapalhadas desse tipo. Dias depois, FHC ainda chamou de “vagabundos” aqueles que se aposentam cedo demais. Tentou se explicar, mas pagou caro e bloqueou discussões mais profundas sobre a reforma da Previdência.
Jair Bolsonaro conseguiu mudar as regras de aposentadoria, mas dá outras trombadas na agenda econômica. Na prometida reforma administrativa, que deveria mudar normas do serviço público, o governo abusa de barbeiragens e hesitações.
A ofensa de Paulo Guedes a funcionários que chamou de “parasitas” só deu combustível a políticos que não queriam reformar coisa alguma. Parlamentares e integrantes do governo passaram a levantar dúvidas sobre o clima para aprovar o projeto.
Um deles, com toda a certeza, é o próprio presidente. Ainda no ano passado, Guedes adiou a reforma pela primeira vez. A culpa era dos protestos no Chile, que impressionavam Bolsonaro e criavam o temor fantasioso de protestos violentos aqui.
O ministro jura que o presidente ainda apoia a mudança para os servidores, mas afirma que o timing é o problema. Há 40 dias, o presidente vacilou de novo e disse que o projeto ainda precisava de “um polimento”.
O texto deveria ter chegado nesta terça (11) ao Congresso, mas o governo vacilou. Guedes pode ter apertado o botão errado na cabeça do chefe.
Um depoente mentiu nove vezes e insultou a jornalista Patrícia Campos Mello na sessão desta terça da CPI das fake news. Para atacar mais uma vez a imprensa, aliados do presidente passaram a reproduzir a imundície. As redes de apoio ao governo nadam de braçada no esgoto.
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