Folha de S. Paulo
Presidente para em 'oportunidade para o
povo', mas principal preocupação é com ele mesmo
Jair Bolsonaro usou mais um evento oficial
para fazer um chamado para os protestos golpistas de 7 de setembro. No
interior de Minas Gerais, ele subiu no palanque e disse que a data será uma
"oportunidade para o povo brasileiro". O presidente exagerou no
marketing: o único objetivo dos atos é intimidar outros Poderes e proteger seu
grupo político.
A máquina de propaganda bolsonarista quer
mascarar os protestos como um movimento em defesa do que chama de liberdade,
como se houvesse um
espírito nobre na defesa de sujeitos que falam em "botar fogo no
Tribunal Superior Eleitoral". O próprio presidente já deixou claro, no
entanto, que a liberdade que o preocupa é a dele mesmo.
Na crise política fabricada pelo Palácio do Planalto, Bolsonaro já disse ver três alternativas para o futuro: "estar preso, ser morto ou a vitória". Dias depois, explicou que, ao fazer aquela declaração, ele se referia a um ambiente de muita pressão. "Quando falamos em voto impresso, passou a ser crime. Quando falamos em tratamento precoce, passou a ser crime", afirmou.
Bolsonaro inventou falsas suspeitas de
fraude nas urnas eletrônicas e lançou ameaças à realização de eleições no
próximo ano. Também adiou negociações para a compra de vacinas contra a Covid
enquanto o governo distribuía medicamentos que não funcionam para combater a
doença. Como se vê, os potenciais crimes que ele aponta foram praticados dentro
do gabinete presidencial.
A ameaça de um autogolpe é o caminho que
Bolsonaro escolheu por entender que só vai se livrar da prisão enquanto
permanecer no poder. Na segunda-feira (30), ele disse acreditar que o
STF poderia aplicar uma punição, "quem sabe, quando eu deixar o
governo, lá na frente".
Ao que parece, Bolsonaro espera ficar
impune até deixar a cadeira de presidente –derrotado nas urnas ou afastado pelo
Congresso. Para adiar esse dia, ele deve manter suas ameaças de desrespeitar
decisões judiciais, melar as eleições e continuar no Palácio do Planalto à
força.
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