O Estado de S. Paulo
Quanto mais golpeia a economia, mais Bolsonaro abre a trilha da terceira via
Ao incinerar os princípios básicos da
macroeconomia em favor dos interesses rasteiros da micropolítica, o presidente
Jair Bolsonaro não percebe que faz mais o jogo do Centrão do que dele próprio e
que trabalha contra a sua reeleição. Furar o teto de gastos não vai salvá-lo,
vai afundá-lo de vez.
De um lado, Bolsonaro não entrega reformas,
privatizações e neoliberalismo. De outro, atua contra a meta de inflação, os
juros baixos, a responsabilidade fiscal e social. Não constrói nada e destrói o
que já existe; não respeita nem demite Paulo Guedes, uma alma penada.
Na economia, o governo não tem ministro,
plano de voo e o que mostrar, sem passado, presente e futuro. Na política, está
nas mãos de quem desdenha da economia, do social e do próprio destino de
Bolsonaro, fazendo da fraqueza dele a sua força. O principal efeito pode ser
justamente eleitoral.
Quanto mais troca a responsabilidade fiscal pelo Centrão, mais Bolsonaro afugenta o setor produtivo, bancos, agronegócio, grandes executivos e economistas. E mais abre caminho para uma terceira via. O senador Rodrigo Pacheco e o ex-juiz Sérgio Moro vão se filiar, um ao PSD, na próxima quarta, o outro ao Podemos, em 10 de novembro.
Pacheco e PSD têm muito a ganhar e nada a
perder. Ele, que faz 45 anos em 3/11, tem duas plataformas: a presidência do
Senado, onde marca posição pró-democracia e criou uma barreira às audácias da Câmara
e de Bolsonaro, e Minas, onde a debacle do PSDB e do PT fez emergir o PSD –
mesma sigla (não partido...) de Juscelino Kubitschek, símbolo de político.
Seja ao fim candidato a presidente, vice ou
nada, Pacheco lucra com a visibilidade e tem seu mandato no Senado garantido
por mais quatro anos. E o PSD de Gilberto Kassab ganha tempo e moeda de troca,
enquanto conversa com Lula e espera o quadro eleitoral decantar.
Quanto a Moro, ele perdeu parte do que
tinha – na direita e no centro – e não ganhou o que não tinha – a esquerda. O X
da questão é o Estado da filiação. Se for ao Podemos do Paraná, a candidatura à
Presidência seria a única opção, porque Álvaro Dias é o dono da única vaga do
partido ao Senado. Já se for ao de São Paulo, Moro estará de olho no Senado.
Na raia da terceira via, há duas certezas,
o veterano Ciro Gomes (PDT) e um nome do PSDB a ser lançado em novembro, além
de várias incógnitas, como o neófito Datena, do União Brasil. O mais relevante
é que há clamor e trilhas abertas. Bolsonaro ajuda muito, a golpes de
incompetência política, econômica, social e administrativa. Lula prefere
concorrer com ele, mas não vai ser tão fácil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário